É comemorado neste sábado, dia 02 de fevereiro, o Dia de Iemanjá, aquela que é considera como a Rainha do Mar. Nesta época, crenças que seguem os princípios da divindade fazem suas homenagens a ela. Enviar presentes pelo mar, como flores e espelhos, é uma das formas mais comuns de agradá-la. O festejo é comemorado desde 1923, época em que houve uma escassa pesca de peixe.
Gustavo Fritzen [email protected] (Siga no Twitter)
Você pode não saber quem ela é, mas provavelmente já deve ter ouvido falar dela, seu nome é Iemanjá. Considerada como a Rainha do Mar pela Umbanda, ela pode não ser tão conhecida como outras divindades marítimas, tal qual é o deus grego Poseidon, mas suas adorações estão presentes de tal forma nas praias brasileiras que algumas se tornaram hábitos.
Uma das celebrações mais conhecidas é praticada no réveillon. Durante este momento, pessoas vão à beira-mar e pulam sete ondas. Acredita-se que este ato serve para abrir os caminhos e dá força para conseguir vencer os desafios que virão no próximo ano, além de ser uma forma de pedir sorte à orixá.
Outra adoração muito comum é enviar em uma pequena jangada com alguns presentes para ela, como flores, perfumes e espelhos. De acordo com a crença, essa seria uma forma de alimentar a vaidade da Deusa. Mas em meados da década de 70, houve uma situação curiosa envolvendo essa tradição e uma colônia hippie chama My Friend, nas praias de Berlinque, na Bahia;
Os moradores do Rio Vermelho, como tradição, todo vez que chegava o dia para homenagear a deusa faziam suas oferendas e a depositavam em um barco, que era levado pela correnteza. O que eles não imaginavam é que a pequena embarcação era levada até uma área onde viviam os pacifistas que viviam os hippies. Quando o bote por fim ficava ao alcance deles, eles pegavam os presentes oferecidos à Iemanjá e usavam em si próprios. Com isso, não eram comum ver um monte de pessoas andando com espelhos e outros apetrechos pelas ruas da região. O resultado foi que entre os dias 03 e 04, os frequentadores desta colônia passaram também a celebrar a ocasião, já que neste período eles eram supostamente presenteados pela Rainha do Mar.
Iemanjá e os Pescadores
Como o próprio título de “Rainha do Mar” e as celebrações ao redor dela já demonstram, seguidores da seita que ela faz parte, a Umbanda, possuem uma forte relação com o oceano. Esse vínculo cresce ainda mais quando as pessoas dependem do mar para sobreviver. Quando chega o dia 02 de fevereiro, por exemplo, as mulheres pedem à Orixá que aceite os presentes oferecidos por eles. Está é uma forma de trazê-los grande fartura e que os deixe vivos. De acordo com o Pai Geraldo, do Cento de Umbanda Caboclo Cobra Coral, de Passo Fundo, “geralmente elas acabam criando uma relação mais afetiva, por ter essa proximidade”. Ele também ressalta que em muitos casos aqueles que cultuam a Deusa nem sempre são, propriamente dito, seguidores da religião.
História, Significado e Feminismo
Iemanjá esteve presente em diversas lendas teológicas. Por também estar relacionada a outras seitas, como o Candomblé, o número de histórias cresceu ainda mais. Uma das mais conhecidas pelos brasileiros é uma história que foi contada por escravos africanos, quando foram trazidos para o país.
Seu nome tem como significado “mãe dos filhos-peixe”. Filha de Olokum, ela era casada com Oduduá, com quem teve dez filhos orixás (o que seriam deuses). Por ter que amamentá-los, seus seios acabaram ficando grande. Insatisfeita com o casamento e cansada de morar onde vivia, certa vez ela fugiu e foi para o oeste. Lá ela conheceu o rei Okerê, por quem ficou apaixonada e, mais tarde, se casou. Envergonhada de seus seios, ela pediu ao novo marido que não ridicularizasse por isso. Ele concordou, mas um dia, ficou bêbado e começou a ofendê-la. Entristecida, Iemanjá fugiu.
Desde menina, ela trazia consigo um pote com uma poção mágica que o pai lhe deu para ocasiões em que corresse perigo. Durante a fuga, Iemanjá caiu, fazendo o pote se partir e a poção se esparramar. O conteúdo se transformou num rio que seguiu em direção ao mar. Seu esposo, que não queria perder a mulher, se transformou em uma montanha para impedir a sua fuga. Com isso, ela pediu ajuda ao filho Xangô e este, com um raio, partiu a montanha no meio, fazendo o rio seguir rumo ao oceano.
Como é um grande símbolo da Umbanda, o papel feminino tem uma grande importância. “Por ser considerada a Mãe na Umbanda ela representa toda a criação, já que sem a mulher não há vida”, explica Pai Geraldo. Ele também salienta que dentre as funções dela, também está a de trazer certo feminismo à religião, fazendo com que haja uma igualdade entre os sexos.
Preconceito
Mesmo sendo a primeira religião criada no Brasil, a Umbanda possui uma história de obstáculos e desconfianças. Parte disso se deve ao fato da crença possuir manifestações culturais diferentes das realizadas por crenças europeias trazidas ao país. A própria expressão “macumba”, que, segundo o dicionário Aurélio tem como significado “Instrumento de percussão, espécie de reco-reco, de origem africana, que produz um som de rapa” virou um termo pejorativo designada a eles.
“O preconceito já foi mais forte. Uma parte dele se deve aos próprios seguidores da Umbanda, que acabam se fechando e não explicando direito o que é a religião” Comenta Pai Geraldo. Porém, ele diz que essa imagem negativa está se perdendo. “A própria mídia e o acesso a internet está fazendo com que as pessoas tenham mais informações sobre a religião”, completa.
FOTO: reprodução / ramonlamar.blogspot.com