Quem viveu pelo menos a adolescência no início dos anos 80, acompanhou uma revolução tecnológica que não devia nada às revoluções digitais de mp3, DVD, CD, Bluetooth e internet que vemos hoje em dia. Não se tratava nem mesmo de uma revolução digital, e sim puramente analógica, mas que mudou o jeito de se ouvir música naqueles dias: os rádios FM estéreo.
Até o início desses anos, as ondas do rádio eram tomadas pelas programações das rádios AM, que tinham a cara dos comunicadores, que davam o tom da programação entremeada de recados e até participações ao vivo dos ouvintes (principalmente das rádios do interior), mas tinham sempre aquele sonzinho mono dos radinhos portáteis de pilha.
Muitos carros na época já eram equipados com singelos aparelhos de som de dois canais, com som mono, ou então com toca–fitas estéreo Dolby, que tocavam aquelas fitas cassete caseiras, que estavam sempre gravadas em gravadores precários, com as últimas novidades musicais que embalavam os dias nas rádios AM.
Com a chegada das rádios FM, o público alvo eram os jovens de então, e começavam a despontar nas paradas de sucesso as bandas chamadas “new wave”: eram bandas oriundas do punk dos anos 70, mas com uma roupagem alegre, recheada de sintetizadores e ritmos leves, coloridos e pops que faziam a cabeça da gurizada.
Entre os expoentes da “new wave” estavam The Police, Talking Heads, Culture club, Michael Jackson, Madonna, Cyndi Lauper e David Bowie.
O “new wave” tinha tudo para ser a “própria” música dos anos 80, não fosse ela descambar para os lados obscuros do Dark e Gótico ali por 85, quando cresceram bandas como The Cure, Siouxsie & the Banshees e Echo & The Bunnymen, The Smiths, U2 e outras.
Mas sem dúvida, as rádios FM foram os grandes transmissores desta “nova onda”, e a leveza desse rock pasteurizado tinha tudo a ver com a nova cara que os grandes produtores do showbiz queriam imprimir na “roupagem” dessas rádios, sacudindo a poeira acumulada por décadas nas freqüências de AM.
Dois dos responsáveis pela roupagem pop do “new wave” foram Brian Eno, produtor dos Talking Heads, ao lado de David Byrne, o líder desta banda. A parceria desses dois teve forte influência em quase tudo o que se fez ao longo de toda a década de 80.
Os Talking Heads tiveram sucesso mundial com os trabalhos “Stop making sense”, “True Stories” e “Naked” e com músicas como “Psycho Killer”, “Love for sale”, “Wild wild life” e “Nothing but flowers”, sempre com David Byrne à frente, com seus vocais melódicos e minimalistas, que davam um tom de “art rock” ao trabalho da banda.
Já o Brian Eno, não foi tão expressivo em carreira solo, porém alcançou expressivo sucesso (até hoje) como produtor, incluindo os grandes discos do U2: “The Unforgettable Fire”, “The Joshua tree” e redefinindo inclusive a nova sonoridade da banda nos anos 90 com “Achtung Baby”.
Foi justamente Brian Eno quem produziu neste ano de 2008 o Coldplay, com seu disco “Viva la Vida” , deixando mais evidente as influências que esta banda já tinha do próprio U2.
Além disso, Brian Eno e David Byrne lançaram neste agosto de 2008 o disco “Everything that happens will happen today”, primeira parceria depois de quase 30 anos.
E o resultado só poderia ser: “New wave”.
Tá certo que o disco tem um pouco de influência das novas décadas, ritmos eletrônicos, etc… Mas a principal característica que dá o tom ao longo de todo o disco é a mesma alegria pulsante, o colorido e a leveza do “new wave”, ficando assim lavrado o disco mais “oitentista” lançado nos últimos anos.
Destaque para “Strange Overtones”, sonzinho que se não chegar a cair no gosto das FMs atuais, poderá muito bem freqüentar os set-lists dos i-pods dos amantes dos anos 80.
No link abaixo, o disco pode ser ouvido por dowstream, ou então se pode comprar versões digitais ou pacotes especiais do lançamento.
Enjoy it!
www.everythingthathappens.com/
Pick of the Week
Hot Chip – “Boy from School”
A banda inglesa Hot Chip dá o tom das pistas de dança no ano de 2008. O som que eles fazem é um misto de house com rock de banda, bastante ponteado com seqüenciadores eletrônicos que parecem que foram tirados de algum disco do Kraftwerk, e ao mesmo tempo com uns riffs de guitarra meio perdidos.
O resultado é de uma leveza surpreendente, e faz a cabeça! Confira!