Somente 40% dos americanos acreditam na teoria da evolução, segundo uma pesquisa do instituto Gallup.
Enquanto o mundo celebra os 200 anos do nascimento do naturalista britânico Charles Darwin, os cientistas americanos se veem forçados a defender a teoria da evolução de uma população cética e uma campanha de ataques.
Cientistas de renome reunidos quinta-feira em Chicago apresentaram trabalhos que mostram como a evolução pode ser sentida em tudo, desde as semelhanças genéticas entre humanos e neandertais, até o modo como os planetas se formam e os corvos usam ferramentas para caçar insetos.
“A evolução não é uma idéia; é um fato”, declarou James McCarthy, presidente da Associação Americana para o Avanço da Ciência durante uma conferência para celebrar a obra de Darwin.
“É impossível negar a evolução: o desenvolvimento de micróbios que resistem aos medicamentos, insetos que resistem aos pesticidas, há muitos exemplos na vida cotidiana”, afirmou.
Mas a mensagem não foi assimilado pelo povo americano.
Pesquisas realizadas na década passada mostraram que entre 44 e 47% acreditam que Deus criou os humanos em sua forma atual há 10.000 anos.
“É um problema exclusivamente americano”, afirma McCarthy.
A evolução não é ensinada corretamente nas escolas dos Estados Unidos e muitos grupos religiosos defendem a interpretação literal da Bíblia no que diz respeito à criação.
O grupo, que tem um “Museu da Criação” de 27 milhões de dólares no estado de Kentucky (centro dos EUA), onde dinossauros convivem com Adão e Eva no Jardim do Éden, organizará uma conferência gratuita no fim de semana para rebater a evolução.
Muitas pessoas atuam nos bastidores para evitar ou limitar o ensino da evolução nas salas de aula, segundo Eugenie Scott, diretora do Centro Nacional para a Educação Científica.
“Existe um esforço coordenado de um movimento muito bem financiado para educar o público de que a evolução representa uma ciência frágil, que os cientistas a estão deixando, e que você deve escolher entre evolução e religião”, afirma à AFP.
O amplo movimento contra a evolução existe há décadas, mas chegou à justiça no famoso caso de 1925 em que um jovem professor de Biologia, John Scopes, foi levado a julgamento por ensinar a teoria da evolução em Dayton, Tennessee (sul).
Somente em 1968 a Suprema Corte rejeitou uma lei do estado do Arkansas (centro) que pretendia tornar o ensino da evolução um crime. O tribunal considerou inconstitucional a proibição do ensino.
Em 1987, a Suprema Corte considerou inconstitucional a exigência de ensinar o criacionismo nas escolas, porque isto implicaria em promover a religião no sistema educacional estatal.
Na última década, várias tentativas foram feitas para promover o ensino do “design inteligente” – a idéia de que a vida é muito complexa para ter sido originada sem um criador – como alternativa à evolução.
Esta teoria tampouco conseguiu superar a barreira religiosa nos tribunais. Agora os antievolucionistas estão tentando forçar os professores a permitir “críticas” à evolução.
Uma lei de “liberdade acadêmica” foi aprovada na Louisiana (sul) ano passado e outros cinco estados analisam atualmente legislações similares, lembra Scott.
“A última estratégia é não promovoer o ensino direto do design inteligente, e sim filtrá-lo pela porta de trás”, opina.
“No campo da biologia chamamos isto de adaptação: se nada mais evolui, os criacionistas o fazem. Estão sempre inventando formas para invalidar a evolução”, conclui.
Agence France-Presse