Hillary teria concordado com a iniciativa e a reunião deve ser marcada em breve.
A primeira reunião entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, nesta quarta-feira, em Washington, foi “positiva e espontânea”, segundo o ministro brasileiro.
Em cerca de 40 minutos, os ministros conversaram sobre iniciativas para aprofundar as relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, preparando a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará a Washington, em março, quando deve se encontrar com o presidente americano, Barack Obama.
Na coletiva de imprensa realizada logo após o encontro, Amorim disse que sugeriu uma reunião entre os principais negociadores dos dois países para discutir suas posições na Cúpula do G20, que está marcada para o início de abril, em Londres.
Amorim também sugeriu priorizar a determinação de quem será o novo representante comercial dos EUA para a Rodada Doha de liberalização do comércio.
“Não há como combater o protecionismo com intenções. A melhor maneira de combater o protecionismo é avançar a Rodada Doha”, disse.
A cláusula “Buy American” do plano de recuperação econômica recentemente aprovado pelo Congresso americano também foi discutida na reunião.
Após o encontro, no entanto, Amorim não deu maiores detalhes das negociações e afirmou que ainda não é o momento de aprofundar esta discussão.
Pela cláusula, somente aço, minério de ferro e manufaturados produzidos nos Estados Unidos poderão ser utilizados em projetos contemplados pelo pacote US$ 787 bilhões.
Após protestos da União Europeia, do Canadá e do Brasil – que classificaram a legislação como “protecionista” -, no entanto, os congressistas americanos votaram por amenizar a legislação, prevendo que ela só poderá ser aplicada na medida em que não interfira nos acordos comerciais firmados pelos EUA.
O ministro Celso Amorim salientou que a América Latina passa por um momento de grandes mudanças e que não há homogeneidade entre os países. Ele teria pedido a Hillary que os EUA respeitem essa diversidade.
Amorim também afirmou que é preciso conversar com todos os interlocutores no Oriente Médio, incluindo aqueles que têm influência sobre estes interlocutores.
Para ele, um diálogo mais amplo, com o maior número possível de atores, pode ser mais eficiente para resolver os conflitos da região.
Sobre o Haiti, que também está na pauta dos dois países, o ministro propôs a ideia de se promover o investimento de empresas do setor têxtil no país.
Pela proposta apresentada por Amorim, se empresas brasileiras do setor têxtil investirem no Haiti, seus produtos entrariam no território americano com tarifa zero.
O mesmo aconteceria para empresas americanas: se empresas da indústria têxtil americana investirem no Haiti, seus produtos entrariam no território brasileiro com tarifa zero.
Hoje, a tarifa zero só é aplicada se todas as etapas da produção ocorrerem no Haiti. E, no momento, não há como obter matéria-prima como algodão no país, o que dificulta este tipo de investimento.
Os ministros combinaram de se encontrar novamente durante a Conferência Internacional de Doadores para a Reconstrução da Faixa de Gaza, marcada para o dia 2 de março, no Egito.
O chanceler brasileiro foi o primeiro ministro latino-americano a se encontrar com Hillary desde que ela assumiu o Departamento de Estado. Após o encontro, Hillary se reuniu com ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Jaime Bermúdez.
Ainda nesta quarta-feira, Amorim embarca para Paris para um encontro com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o ministro das Relações Exteriores, Bernard Kouchner. De lá, segue para a Conferência dos Doadores no Egito.
BBC Brasil