Pais desconfiados, ciumentos… Mas, às vezes, a relação se inverte, e são os filhos que vigiam o comportamento dos pais.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Uma pesquisa feita pela consultoria Nielsen para a AOL, com 1.024 pais e 504 adolescentes, mostrou que 70% dos responsáveis que têm Facebook adicionaram os filhos. E, em 41% dos casos, aceitar o pedido é uma condição para que os jovens continuem na rede social.
A partir desta informação, a seção Megazine, da página do jornal O Globo, conversou com famílias que passam por essa experiência. Na casa dos irmãos João Pedro Baffa, de 16 anos, e Anna Barbara, de 18, por exemplo, funciona assim. A mãe e o padrasto seguem os dois no Twitter, no Facebook, no Orkut e aonde mais eles forem.
“Se eles gostam ou não, a gente, honestamente, não liga. É meio ditadura. Não existe a possibilidade de eles não aceitarem ser nossos amigos”, decreta a mãe, Andrea. “Acho importante saber o que meus filhos pensam, e nem tudo eles contam para mim.”
Não mesmo. Anna Barbara diz que evita postar coisas comprometedoras: “Não que eu tenha algo a esconder, mas às vezes não é legal ela ver que a noite foi boa, que bebi e fiquei com alguém. É ruim não poder colocar isso porque minha mãe está me seguindo.”
João Pedro não hesita em apagar os comentários da mãe quando os considera inconvenientes. Mas seus amigos até interagem com ela. “Uma vez reclamei no Facebook que ela não tinha me deixado ir a um show, e ela respondeu em seguida enumerando os motivos. Apaguei logo. Mas teve um amigo meu que postou dizendo que estava sem dinheiro, e minha mãe emprestou para ele.”
O padrasto, José Roberto, assiste a tudo de uma certa distância, mas faz questão de seguir também os amigos dos dois enteados. “Nenhum deles me negou a amizade. É segurança e preocupação de maneira saudável, sem policiar. Assim, descubro do que eles gostam, o que acham engraçado etc.”
E o ciúme?
Mas tem que ficar ligado. Leandro Cavalcanti, de 15 anos, está de castigo há 15 dias, proibido de usar qualquer rede social porque não fez os deveres de casa de inglês. Só que ele deu o mole de entrar no Facebook e deixar rastros. O pior é que a mãe, Adriana, não só descobriu o “delito” como postou no mural do moleque: “Posso saber pq vc apareceu no face hj há mais ou menos 1h?”.
“Não apaguei porque achei engraçado. E se apagasse, ela veria que eu estava conectado mesmo. Não ligo muito de ela me seguir, só quando dá a louca nela de escrever recado no Orkut por ciúmes das meninas. Já apaguei uma vez e deu briga. Não quero ficar parecendo filhinho de mamãe”, explica.
AMIGOS DOS FILHOS – Adriana se defende e diz que entrou no Orkut antes do filho. Segundo ela, os amigos de Leandro se amarram em tê-la como amiga virtual. E a mãe coruja aproveita para saber com quem e por onde o garoto está andando.
“São os amigos dele que me adicionam no Facebook. Todo mundo queria ter uma mãe ‘prafrentex’ como eu. Confio, mas fico de olho. A vida dele é Internet. Fica conectado até no smartphone. O MSN parece letreiro de motel, com mais de 10 janelas piscando. Um dia, ele fez uma piada que podia ser interpretada como racista, e mandei apagar.”
Vigiando a mãe
Estela Carrara tem 22 anos e é amiga da mãe, Soledady, e do padrasto, Ronaldo, no Facebook. Mas não tem a neura de ser espionada. No seu caso, é ela quem vigia se a mãe fica conectada tempo demais.
E ainda dá os truques de como se usa. “Em casa, ela fica o tempo todo no Facebook. E toda hora me chama para ajudar a publicar vídeo, mexer em um aplicativo e traduzir algum texto”, conta Estela.
Soledady e Ronaldo nem ligam e fazem sucesso entre os amigos da menina. Quando Estela foi a um baile de máscaras com uma amiga, usando os convites da mãe e do padrasto, a mãe pediu, no Facebook, que ela trouxesse uma máscara de recordação. “Ela respondeu que não. Aí a amiga disse que traria, e ela ficou com ciúmes”, conta Soledady.
Para o padrasto, de 59 anos, o Facebook é um jeito de estar por dentro e em forma. “Temos que interagir com as outras gerações. Tem amigas dela que fazem corrida e combino com elas alguns treinos.”
Informações de O Globo
FOTO: ilustrativa / connectionsacademy