Especialistas discutem novas energias, os desafios e oportunidades da transição energética e o impacto direto para a região.
O futuro das fontes de energias passa pelo Vale do Sinos. Passa? Ao menos este debate, que se renova, está sendo feito e novas energias e aplicações sendo estudadas aqui. Essa foi a principal conclusão do debate realizado no programa Estação Hamburgo, na Vale TV, que reuniu na noite de 26 de agosto três convidados com experiências complementares: o empresário Júlio Cesar Müller, da Voltmais, o engenheiro Mathias Samuel Novak, mestre em materiais e pesquisador da Universidade FEEVALE, e o gestor de postos de combustíveis, entre eles o Posto Sapatão, Samuel Führ.
A mediação do debate foi do apresentador Rodrigo Steffen, que conduziu uma conversa franca sobre hidrogênio verde, energia solar, micro-redes, combustão, carregadores veiculares ultrarápidos, biogás e os rumos da mobilidade elétrica.
O pioneirismo e os custos da inovação
Com mais de duas décadas no setor, Júlio Cesar Müller destacou os desafios de ter sido um dos primeiros profissionais a apostar na energia solar no Rio Grande do Sul. “Quando comecei a estudar e implantar sistemas solares, ninguém falava em sustentabilidade. Parecia coisa de louco”, lembrou. Para ele, o avanço tecnológico e a redução dos custos de equipamentos colocaram o setor em outro patamar, mas ainda há barreiras regulatórias e um mercado que precisa amadurecer.
Müller defende que a segurança energética será um dos principais produtos do futuro, com sistemas capazes de garantir autonomia para residências, indústrias e, sobretudo, data centers. “Um blackout de cinco dias pode parar a economia. É preciso integrar diferentes fontes – solar, biogás, eólica e até geradores a diesel – para manter serviços vitais funcionando”, explicou.
Hidrogênio verde: da pesquisa à prática
O engenheiro Mathias Samuel Novak trouxe ao debate o olhar acadêmico e inovador. Em sua pesquisa na Universidade FEEVALE, desenvolveu um motor movido a hidrogênio. Ele destacou que o combustível, embora ainda caro de produzir, é promissor por liberar cinco vezes mais energia que a gasolina e não emitir dióxido de carbono.
“O maior benefício do hidrogênio é ambiental. Ele pode ser armazenado em alta pressão ou em estado líquido, mas ainda enfrentamos desafios de custo e de materiais que suportem essas condições de pressão extremas”, detalhou. Novak lembrou que 80% das emissões de dióxido de carbono no mundo vêm do transporte, e que a transição energética passa por legislações e políticas públicas mais ousadas. “As pesquisas mostram que, sem mudanças, a temperatura global pode aumentar 2,4 graus até 2100. O hidrogênio surge como alternativa real a esse cenário”, reforçou.
O olhar do mercado e a diversificação da matriz
Representando o setor de combustíveis, o empresário Samuel Führ falou sobre as transformações recentes no mercado e a necessidade de diversificação. Seu posto em Novo Hamburgo foi pioneiro ao instalar um dos eletropostos mais potentes do Estado, com 62 recargas só no último mês, ainda em período inicial de implantação.
“É um aprendizado diário. Cada cliente tem um comportamento diferente: uns carregam como se fosse um celular, outros aproveitam para fazer reuniões enquanto o carro recarrega. Estamos vivendo uma mudança de hábitos”, observou.
Führ também relembrou o investimento em GNV (gás natural veicular) feito em 2009, quando o mercado ainda duvidava da viabilidade. “Meu pai foi chamado de maluco, mas o GNV vingou. Hoje, já está em declínio. O futuro é a diversificação: híbridos, elétricos, hidrogênio, etanol. O Brasil tem uma vantagem competitiva com o etanol, que é muito mais limpo que a gasolina ou o diesel”, destacou.
Micro-redes e biogás: soluções regionais
O debate também abordou soluções locais e acessíveis, como as micro-redes energéticas e o biogás. Müller explicou que propriedades rurais já podem se autossustentar com energia solar, baterias e geradores de apoio. Novak acrescentou que granjas de suínos e aves no interior gaúcho têm grande potencial para gerar biogás a partir de dejetos, reduzindo custos e impactos ambientais.
Essas alternativas, segundo os especialistas, podem tornar comunidades menos dependentes das concessionárias e garantir maior autonomia em regiões afastadas, como no interior do Vale do Sinos.
Da mesma forma, a renovação de frotas de veículos e a utilização de outros modais de transporte, como veículos sobre trilhos, foram pauta do relevante debate.
Entre ciência, mercado e comunidade
O encontro mostrou que a transição energética não é apenas tecnológica, mas também cultural e política. Envolve desde pesquisa avançada em universidades até mudanças no comportamento dos consumidores e nas estratégias de empresas do setor.
Para Samuel, Júlio e Mathias, o futuro será marcado pela diversificação das fontes e pelo fortalecimento de sistemas que garantam segurança energética, ao mesmo tempo em que reduzam emissões de carbono. No Vale do Sinos, iniciativas pioneiras já apontam caminhos: postos com recarga ultrarrápida, pesquisas com hidrogênio verde e empresas que apostam na energia solar como motor de inovação.
A rota das novas energias passa pelo Vale
Seja nas ladeiras da Serra ou nas ruas de Novo Hamburgo, o tema das energias está cada vez mais próximo do dia a dia da comunidade. Do automóvel que carrega como um celular à composteira que gera biogás para cozinhar, os exemplos locais mostram que o futuro já começou a ser construído aqui.
Mais do que discutir o que virá, os convidados do Estação Hamburgo provocaram os telespectadores a refletirem sobre as escolhas de hoje. Afinal, como resumiu Novak, “a história das energias mostra que as transições são rápidas. Do carvão ao combustível líquido, e agora ao hidrogênio e à eletrificação, tudo acontece em poucas décadas. O Vale do Sinos tem a chance de estar na vanguarda dessa mudança”.
Clique na imagem abaixo para assistir ao Estação Hamburgo no canal da Vale TV no YouTube:
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Debate realizado no dia 26 de agosto de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.