Regente, arranjador e pianista de Dois Irmãos, Ademir Klauck fala sobre sua trajetória, os desafios e o futuro do canto coral na região.
Com mais de 40 anos de dedicação à música, Ademir Klauck é um dos nomes mais respeitados do canto coral no Vale do Sinos e na Encosta da Serra. Natural de Dois Irmãos, ele construiu uma carreira sólida como regente, arranjador, pianista e também empresário na área de tecnologia, unindo arte e inovação. À frente de grupos tradicionais como o Coral Santa Cecília (Dois Irmãos), o Coral Entretantos (Novo Hamburgo) e o Coral Tom de Mulher (Nova Petrópolis), Ademir é conhecido por preservar a tradição sem abrir mão da renovação e da criatividade.
A trajetória começou cedo: aos oito anos, ingressou no Instituto dos Meninos Cantores de Novo Hamburgo, experiência que moldou sua disciplina e amor pela música. “Aprendemos não apenas a tocar e cantar, mas a ter comprometimento. Uma orquestra ou coral exige dedicação diária”, relembra. É muito uma herança de pai para filho. Seu Roque Querino tem longa trajetória ligada à regência e ao canto coral.
Ademir Klauck e sua trajetória foram destaques do programa Conversa de Peso, da Vale TV, na última sexta-feira, dia 08 de agosto.
Entre a tradição e a modernidade
O Coral Santa Cecília, fundado em 1867, é a mais antiga formação de canto coral em atividade no Brasil e mantém forte vínculo com a cultura germânica. O repertório é majoritariamente em alemão, mas Ademir faz questão de trazer também composições contemporâneas, importando arranjos da Alemanha e de outros países para manter a vitalidade do grupo.
Já o Coral Entretantos é mais eclético, com repertório popular, e o Coral Tom de Mulher, composto apenas por mulheres, mescla canções populares e performances cênicas.
Essa diversidade exige do maestro sensibilidade para adaptar-se ao perfil de cada grupo. “Não imponho um padrão único. O importante é fazer o coral evoluir, desafiando seus integrantes e ampliando as possibilidades vocais”, explica.
Desafios para renovar vozes
Um dos principais obstáculos enfrentados pelos corais é a renovação de cantores. Segundo Ademir, muitos jovens participam durante a escola, mas deixam a atividade ao ingressar na faculdade. “A reposição é lenta e difícil. Estamos avaliando até um censo para mapear a realidade dos grupos em Novo Hamburgo e região”, comenta.
Atualmente, ele estima que haja cerca de 50 corais ativos no Vale do Sinos, muitos ligados a igrejas. Para o maestro, a música coral não corre risco de desaparecer, mas precisa se reinventar e conquistar novas gerações. “Cantar em grupo é uma necessidade humana. Além de prazer, é saúde – estimula o cérebro e pode retardar problemas como o Alzheimer”, defende.
O papel cultural e histórico
O canto coral é parte do patrimônio imaterial do Vale do Sinos e está intimamente ligado à história da imigração alemã. Ademir destaca que muitas sociedades e clubes nasceram a partir de grupos musicais, como o próprio Santa Cecília, que fundou sua sociedade décadas após o coral já existir.
Essa relevância cultural motivou o maestro a buscar reconhecimento oficial, trabalhando junto a parlamentares para registrar o valor histórico dos corais na Câmara dos Deputados.
Preparação para o Natal e intensa agenda
A rotina de Ademir Klauck é intensa. De agosto até o fim do ano, há apresentações praticamente todos os finais de semana, entre encontros de coros, festivais e eventos especiais. Paralelamente, o maestro organiza os arranjos e repertórios para a temporada de Natal, misturando clássicos e novidades. “A gente aproveita músicas que o grupo já conhece e insere novidades, sempre com cuidado para não confundir os cantores”, explica.
Paixão que atravessa gerações
Ao longo da conversa, Ademir alterna memórias emocionadas e reflexões sobre o futuro. Mais exigente tecnicamente, mas também mais tolerante com as limitações dos grupos, ele demonstra que a música é mais que profissão – é missão. “Quero continuar cantando, regendo e compondo por muitos anos. O canto coral é um patrimônio que merece ser fortalecido e celebrado.”
Clique na imagem abaixo para assistir à entrevista no YouTube:
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Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen.