Crise institucional, guerra comercial e futuro político: Estação Hamburgo reúne ex-secretários e debate os rumos do país e da região

Programa da Vale TV contou com a presença de agentes públicos, que analisaram, além do seu futuro político, temas nacionais e locais como a prisão de Bolsonaro, o conflito Brasil-EUA e os desafios políticos e orçamentários de Novo Hamburgo.

Na noite desta segunda-feira, 4 de agosto de 2025, o programa Estação Hamburgo, transmitido pela Vale TV, promoveu um intenso e qualificado debate com quatro ex-secretários da Prefeitura de Novo Hamburgo — Raizer Ferreira, Naasom Luciano, Gilberto dos Reis (Betinho) e Ráfaga Fontoura. Em pauta, temas quentes como a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, a tensão diplomática com os Estados Unidos e seus reflexos comerciais, além de análises sobre o orçamento municipal e os bastidores da política regional. O encontro teve tom crítico, reflexivo e descontraído, sempre com foco na defesa da boa política e no interesse da comunidade do Vale do Sinos.

Uma bancada de reencontros e reflexões

Logo na abertura do programa, o apresentador Rodrigo Steffen destacou o caráter histórico da edição, em razão do recente despacho do ministro Alexandre de Moraes que decretou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. O clima, apesar da gravidade dos temas, foi de reencontro entre amigos e antigos colegas de gestão pública. A mesa composta por Raizer, Naasom, Betinho e Ráfaga mesclou vivência política, análise técnica e críticas contundentes ao atual cenário nacional.

A edição foi dedicada à procuradora Fernanda Luft, aniversariante do dia, que foi homenageada pelos participantes com palavras de respeito e admiração por sua trajetória jurídica e política em Novo Hamburgo e São Leopoldo.

Prisão de Bolsonaro: entre legalidade e arbitrariedade

O ponto de partida do debate foi a decisão do STF contra Bolsonaro. Raizer Ferreira avaliou que houve quebra das condições impostas ao ex-presidente, mas classificou as medidas como parte de uma “ditadura de toga” imposta pelo Judiciário. Para ele, Moraes estaria “dobrando a aposta” diante do acirramento político e institucional no país.

A crítica ganhou reforço de Betinho, que alertou para a escalada da polarização política e afirmou que o verdadeiro prejudicado desse embate é o povo. “Enquanto Lula fala da jabuticaba e Bolsonaro é preso, quem perde é a gente, aqui em Canudos, Santo Afonso, nos bairros da nossa cidade”, disse.

Naasom Luciano, com sua experiência jurídica, ponderou sobre o poder discricionário de um magistrado, mas criticou o “desrespeito” dos Estados Unidos com a soberania brasileira. “O Brasil não pode se acovardar. Se ceder agora, vai ceder sempre”, argumentou, chamando atenção para os riscos de chantagem diplomática e econômica.

Brasil e Estados Unidos: tensão, tarifas e interesses comerciais

A discussão naturalmente avançou para o campo da geopolítica e da guerra comercial instaurada entre os dois países. Os convidados apontaram para a fragilidade do governo brasileiro na condução de negociações internacionais, destacando a falta de articulação estratégica frente às sanções impostas pelos EUA — como a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

“Trump quer dinheiro. Ele se alinha com quem abrir espaço comercial. Se fosse a esquerda que abrisse tudo, ele estaria com ela”, disse Ráfaga Fontoura, ao lembrar que os interesses norte-americanos são, historicamente, econômicos e pragmáticos.

Também foi abordado o papel do Senado e do Legislativo nacional, apontado como omisso diante da crise institucional. “O Legislativo precisa ser o poder moderador. Hoje, quem legisla é o STF, quem executa é o STF”, afirmou Betinho.

A realidade orçamentária de Novo Hamburgo

No segundo bloco do programa, os ex-secretários analisaram a proposta do Plano Plurianual (PPA) apresentada na Câmara Municipal de Novo Hamburgo. O orçamento previsto de R$ 9,1 bilhões para quatro anos gerou desconfiança e foi classificado por Betinho como “uma peça ficcional”, distante da realidade financeira do município.

Ele explicou que a maioria dos recursos previstos são vinculados e dependem de captação externa via emendas parlamentares ou empréstimos — o que só é possível devido à boa avaliação fiscal deixada pela gestão anterior, com nota B no índice CAPAG, do Tesouro Nacional.

Naasom ressaltou que o PPA reflete o plano de governo, mas que a execução depende de fontes de financiamento detalhadas, o que, segundo ele, ainda não está claro. A promessa de tarifa zero no transporte coletivo, por exemplo, deve constar no plano, mas precisa de fontes reais de custeio.

Futuro político: pré-candidaturas e bastidores

O programa também revelou o futuro político dos participantes. Naasom Luciano confirmou que colocou seu nome à disposição do Podemos como pré-candidato a deputado estadual em 2026 e está ajudando na organização regional do partido. Raizer Ferreira segue atuando nos bastidores da Assembleia Legislativa e avalia uma possível migração para o PSD, acompanhando o movimento nacional de reorganização partidária.

Ráfaga Fontoura, filiado ao PL, disse que tem atuado mais como espectador do cenário político e destacou sua decepção com o atual modelo polarizado de disputa, onde, segundo ele, se perdeu o espaço para o debate de ideias e propostas. “Política se faz com construção, não com revanchismo”, frisou.

Já Betinho dos Reis declarou estar fora de qualquer articulação partidária no momento, mas acompanhando de perto os desdobramentos e torcendo para que a atual administração municipal dê certo. “Estou dentro desse avião e não quero que ele caia”, resumiu sem dar pistas do seu futuro político.

Um programa de peso — e de debate qualificado

O Estação Hamburgo desta segunda cumpriu sua missão de ir além das manchetes e promover um debate profundo e plural sobre temas que impactam diretamente a população. A conversa equilibrada entre divergência e consenso, marcada pelo respeito e pela lucidez, mostrou que a boa política ainda tem espaço — e é essencial para o futuro político do Brasil enfrentar os desafios locais e nacionais.