À esquerda o biombo onde as pessoas trocavam de roupa para ir ao mar, à direita o transporte do hotel a orla.
Numa noite do verão de 1898, num rústico chalé construído por um hoteleiro de São Leopoldo, na Vila de Pescadores de Tramandahy, empresários do Vale do Sinos e da capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, se reuniam para um encontro memorável: o início do veraneio no litoral norte gaúcho. Uma novidade para um pequeno grupo na época, atualmente uma tradição para centenas de milhares de gaúchos.
Ir ao litoral era uma verdadeira aventura, custava mais de três dias de viagem. As pessoas percorriam este longo trajeto em carroças e carretas puxadas por bois. Pequenos comboios partiam do Vale do Sinos, passando pelo Vale do Paranhana, pernoitando em meio às árvores e espaços que serviam de paradouros nos caminhos. Os relatos dos filhos dos pioneiros nos apresentam uma praia que já naquela época encantava os olhos dos veranistas. As dificuldades eram superadas não somente na ida e na volta do litoral, bem como, nos dias de estadia. E isto não afastava as pessoas do desejo de veranear e curtir a praia.
Gradativamente, com o passar dos anos, ir à praia não era mais uma oportunidade para um pequeno grupo de privilegiados. De qualquer forma, para todos as acomodações eram simples e a estrutura precária. Após muitos anos de veraneio, muitas pessoas decidiram comprar terrenos na praia e construir suas próprias acomodações. No início mesmo para aqueles que possuíam mais posses, os recursos eram investidos em chalés, cabanas, em construções rústicas. As famílias passaram mais tempo na praia. Os caminhos mais utilizados, passaram a contar com estradas um pouco melhores.
No início do século XX, a rede hoteleira também foi ampliada. O primeiro hoteleiro, Jorge Eneas Sperb, também investiu em Tramandaí. Em 1912, numa tarde de domingo, o Sr. Santos Rocha chega de carro em Tramandaí, a primeira oportunidade que um motorista chega de carro a praia, um Mercedes amarelo, que a noite, com faróis ligados, assustou alguns pescadores. Foi só na década de 1920 que algumas famílias do Vale do Sinos passam a ir ao litoral de carro. Na década de 1930 iniciam as idas ao litoral de ônibus, mais uma opção para os veranistas. O trajeto de carro ou de ônibus, podia ser realizado em “apenas” nove horas. Lembrando que os antigos ônibus eram abertos nas laterais e em caso de chuva, seus passageiros tinham que puxar uma lona para se proteger.
Do alto de uma figueira, a filha do proprietário do Hotel Sperb, visualizava os veículos que chegavam, dando tempo de descer da árvore e avisar as camareiras para preparar os quartos dos hóspedes.