Foram necessárias oito horas para que os agentes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) conseguissem somar milhares de notas apreendidas na noite da última terça-feira (20). Por fim, chegaram ao resultado: R$ 700.544,00 — um dos maiores valores em dinheiro retirados do tráfico nos últimos anos. A quantia, localizada num veículo em Novo Hamburgo poderá ser revertida futuramente para o combate ao crime no Estado.
Quando abordaram um Palio preto, no bairro Santo Afonso, os policiais da 1ª Delegacia do Denarc já suspeitavam de que dentro do carro pudesse haver drogas e dinheiro de uma facção criminosa que nasceu no Vale do Sinos e se ramificou para quase todo o Estado. E parte da suspeita se confirmou. O motorista de 33 anos transportava uma mochila recheada de notas de R$ 10 a R$ 200. Só não cogitavam que a soma seria tão alta.
Em depoimento, o preso optou por permanecer em silêncio, mas informalmente admitiu aos policiais que não sabia a origem do dinheiro e que somente havia sido pago para fazer o transporte. A polícia ainda apura qual o vínculo dele com o grupo criminoso. Detido em flagrante, ele teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça. A equipe investiga outros membros do grupo criminoso. O proprietário do Palio usado no transporte também foi identificado e deverá ser ouvido. “Surpreendeu em razão do valor. Não sabíamos exatamente quanto era”, afirma o delegado Guilherme Dill sobre a apreensão.

Há pelo menos 10 meses, a polícia vem investigando a movimentação da facção criminosa naquela região, e identificou algumas possíveis rotas de transporte de drogas e dinheiro. Foi assim que chegou à localização do Palio, que foi abordado. A polícia ainda apura de onde o dinheiro havia sido recolhido e qual era o destino. Uma das suspeitas é de que fosse empregado para a aquisição de drogas e armas pela facção. Acredita-se que o condutor estava fazendo um trajeto curto com o veículo, por levar uma soma tão alta sem ao menos utilizar algum fundo falso.
Diretor de investigações do Denarc, o delegado Alencar Carraro destaca a importância de realizar esse tipo de ação, com foco na retirada de bens do tráfico. É uma forma de atingir o grupo como um todo. A apreensão é uma das maiores realizadas nos últimos anos pela instituição. “Essa apreensão de vultuosa quantidade de dinheiro demonstra a capacidade de organização e poderio das facções criminosas. É muito importante retirar esses valores que certamente seriam trocados por armas e drogas. Esse dinheiro posteriormente poderá ser revertido para a sociedade por meio, inclusive, do combate ao narcotráfico”, afirma o delegado.
“Ao final, se for comprovado que esse dinheiro é de origem ilícita, que é o que nos parece, ele poderá ser revertido inclusive no fomento ao combate ao tráfico de drogas. Há importância muito grande no sentido de descapitalizar as organizações criminosas, fomentar com esse dinheiro novas investigações, novos aparatos no combate ao narcotráfico e também demonstrar a força do Estado aos membros de organizações criminosas, que são os indivíduos que ditam o cometimento de crimes graves no Estado, por exemplo, roubos a bancos e homicídios”, Carraro. Em caso de condenação dos envolvidos, poderá ser determinado que esse valor seja utilizado no combate ao crime, com diferentes possibilidades de uso. Caso o crime constatado seja o de tráfico de drogas, o valor pode ser encaminhado à União, que faz o repasse aos Estados. Já se houver condenação por lavagem de dinheiro, o valor pode retornar diretamente à Polícia Civil — órgão responsável pela investigação. Um decreto estadual e uma portaria da Chefia da Polícia Civil regulamentaram trecho da Lei 9.603/98 (da Lavagem de Dinheiro) sobre este tema.
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