Enquanto não se decide o futuro do trânsito no bairro Hamburgo Velho, a Fundação Scheffel sofre os efeitos da “vida moderna”
É impossível ir a Hamburgo Velho, passar pela Rua Gen. Daltro Filho, e não se impressionar com os prédios antigos e históricos que lá estão situados. Dentre eles, estão prédios pertencentes à Fundação Scheffel, como o Museu Ernesto Frederico Scheffel com sua imponência, e a Casa Schmitt-Presser, abrigando com simplicidade e estilo únicos um pouco da história da imigração alemã no município.
Apesar das belíssimas obras de arte e artefatos históricos, infelizmente também é impossível deixar de notar o quanto as construções estão sofrendo com os efeitos, principalmente, do intenso trânsito pesado que diariamente passa defronte de suas antigas fachadas. As rachaduras são visíveis em muitos pontos: paredes, rodapés, forros, etc. Algumas, inclusive, espantam por seu tamanho de até 5cm de espessura. Nem mesmo o telhado escapa dos efeitos do tremor provocado pelas máquinas.
Em entrevista recente ao portal novohamburgo.org, o prefeito de Novo Hamburgo, Jair Foscarini deu a seguinte declaração: “Nós queremos tirar o trânsito pesado de Hamburgo Velho e vamos tirar. Vamos tirar porque não há outra maneira de fazer a preservação daquele sítio”. Para comentar essa declaração, e alguns outros – antigos e novos – questionamentos que dela surgem, fomos à Fundação Scheffel conversar com exclusividade com o curador Ângelo Reinheimer e saber sua posição e idéias sobre o tema.
novohamburgo.org – O que pensas do assunto?
Ângelo Reinheimer – Esse tema não é novidade. É um assunto que já foi discutido inúmeras vezes com lideranças locais, com prefeitura, com comerciantes e moradores de Hamburgo Velho. E, por mais que se peça e se debata, mudanças sérias não são tomadas. Eu, falando em nome da Fundação Scheffel, sou absolutamente a favor de se criar um espaço de preservação em torno dos prédios históricos de Hamburgo Velho, o quanto antes.
novohamburgo.org – Qual a importância de preservar o centro histórico?
Reinheimer – A preservação não deve ser apenas interesse da Fundação (Scheffel), e sim de toda a comunidade. Aqui temos prédios tombados como patrimônio histórico em nível federal, como é o caso da Casa Schmitt-Presser, uma construção de 1831. Criando-se uma “ilha de preservação”, não estaríamos apenas preservando o centro histórico, mas também fortalecendo a identidade do bairro e fazendo surgir uma série de novas oportunidades. São investidas aqui verbas públicas e, desta maneira, essa Fundação pertence a cada um dos hamburguenses, que devem zelar por ela e prestigia-la.
novohamburgo.org – Existe a possibilidade de prejudicar o comércio local caso não exista mais a rota de ônibus atual?
Reinheimer – Existe essa opinião pois, alguns comerciantes pensam que os consumidores não mais viriam a Hamburgo Velho, uma vez que não passassem mais ônibus por este trecho da rua (Gen. Daltro Filho). Mas o nosso ponto de vista, é de que ocorrerá exatamente o oposto. Explorando o potencial turístico do local se atrairia ainda mais consumidores. Além dos habituais, outros com interesses culturais viriam – de outras cidades, inclusive – e fatalmente movimentariam o comércio local. Isso já ocorre em outras cidades. São Leopoldo é um exemplo: a Rua Grande (Av. Independência) teve o tráfego pesado e de ônibus banidos, além de ter passado por uma reforma, e hoje é uma referência para quem procura lazer e diversão à noite. Em outros países também temos exemplos. E isso pode ser feito aqui também!
novohamburgo.org – Qual a influência do trânsito de caminhões e ônibus nos prédios?
Reinheimer – As construções aqui são antigas e precisam de um ambiente seguro para serem mantidas intactas para as próximas gerações. Isso não vai ocorrer se o tráfego atual continuar a passar aqui pela frente. A trepidação gera danos de difícil reparo para os prédios. O Museu Ernesto Scheffel está se deslocando para frente. Existe um anexo construído mais recentemente na parte de trás do museu, com fundação mais forte, e se pode ver que a parte antiga está se movendo. A situação é ainda pior com a Casa Schmitt-Presser, que é a casa mais antiga do município. Ela é construída em estilo enxaimel, que é muito mais delicado. As rachaduras multiplicam-se a cada dia e as telhas da casa saltam com o passar dos ônibus. E o que pedimos, não é o cancelamento de rotas de ônibus, e sim, apenas que seja desviado por um trecho seu trajeto.
novohamburgo.org – Desviar o trânsito para o Parcão é a melhor solução?
Reinheimer – O Parcão de Novo Hamburgo era inicialmente área da propriedade Schmitt-Presser. E, ainda que agora esteja sob os cuidados da prefeitura, temos um cuidado e atenção muito especial para com ele. Desde que a idéia de se fazer uma rua cruzando o Parcão surgiu, a Fundação Scheffel se posicionou contra. O próprio Ernesto Frederico Scheffel já deu declarações contra esse projeto. Enfim, estamos entre a cruz e a espada: precisamos que seja eliminado o trânsito pesado daqui, mas não aceitamos a alternativa de se destruir a única área verde intocada de Novo Hamburgo para que se faça isso.