Uma vida dedicada aos palcos e à arte de fazer rir. É assim que podemos definir a trajetória de Vanderlei Machado, 56 anos. Talvez o leitor não identifique de quem estamos falando logo de cara, mas certamente já viu, ou pelo menos ouviu falar, no palhaço Teteco, principal atração do Circo Teatro Teleco, que há 52 anos leva alegria para várias gerações de famílias da região.
A trajetória de Vanderlei se confunde com a do Teleco. Ele tinha apenas 17 anos quando o circo passou pela cidade de Mostardas, no litoral sul do Rio Grande do Sul, e mudou completamente a sua vida. “Tudo que aprendi foi no Circo Teatro Teleco. Eu era um guri que mal sabia conversar com as pessoas, mas sabia tocar guitarra e eles precisavam de um músico para o Big Show. Já no primeiro ensaio me apaixonei pela filha do velho Teleco”, conta.
Contrariando a família, que não queria a vida de artista circense para Vanderlei, em 1987 ele seguiu com o circo, casou com Beatriz Machado e construiu não só uma carreira, mas também uma família. São seus seis filhos, doze netos, noras e genros que ajudam a manter o Circo Teatro Teleco vivo.
“Trabalhamos em família e, por isso, conseguimos seguir em frente, mesmo diante de muitas dificulades”, afirma.
O cenário da arte é historicamente desafiador, mas Teteco conta que, depois da pandemia, a coisa piorou muito. “Nunca mais foi a mesma coisa, sabe? Na época da pandemia, eu precisei vender lona, vender carro, vender tudo. O que nos manteve foram as lives. Hoje, a gente tenta se recuperar ainda, mas está muito difícil”, confidencia.
De acordo com Teteco, além da dificuldade de fazer bilheteria, também há pouco incentivo por parte do poder público. O artista teme pelo futuro da companhia. “Eu não sei como vamos seguir em frente. Não gostaria que a história de cinco décadas acabasse assim, mas não vejo muito futuro pela frente sem que haja um investimento por parte de quem pode ajudar a manter a arte popular viva”, avalia.
Um circo com raízes
Vivo no imaginário popular de quem reside na região, o Circo Teatro Teleco foi fundado em 1972 por Antonio Adir Machado e sua esposa, Tiana Machado. A primeira montagem da estrutura aconteceu em Canudos, Novo Hamburgo, com a ajuda dos donos da Madeireira Canudense. Graças ao incentivo, o pavilhão que abrigava os espetáculos e viajaria por toda a região Sul do País foi construído.
“Do Paraná para baixo, rodamos por tudo com aquele pavilhão que era meio feio, mas era ali dentro que a magia acontecia. Todo mundo conhece o Circo Teatro Teleco. A gente lotava. Tinha espetáculos variados, drama, comédia.” relembra Teteco. No início da década de 1980, o fundador do circo e intérprete do Teleco sofreu um acidente que acabou comprometendo seus movimentos, mas seguiu comandando a companhia até 2012, quando faleceu. “Ele seguiu à frente de tudo, mesmo na cadeira de rodas. A gente não usava um parafuso sem falar com ele antes, ele sabia de tudo e a gente tinha muito respeito. Quando ele morreu foi um desespero”, lembra.
Atualmente, o circo circula apenas pela Região Metropolitana e Serra Gaúcha e está com sua estrutura montada na cidade de Portão.