Vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton disseram que desconheciam as irregularidades e sempre atuaram dentro da lei. Ação da polícia resgatou mais de 200 trabalhadores “em situação degradante”. Eles foram contratados para trabalhar na safra da uva.
As vinícolas que empregaram mão de obra semelhante à escravidão durante a colheita de uvas na região da Serra do Rio Grande do Sul podem ter que pagar os direitos trabalhistas aos mais de 200 trabalhadores resgatados durante uma operação policial em Bento Gonçalves na quarta-feira (23), de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). As vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton contrataram uma empresa que forneceu serviços de suporte administrativo que ofereceu a força de trabalho. O responsável por essa empresa, um homem de 45 anos de Valente (BA), foi preso, mas enfrentará acusações mediante pagamento de fiança no valor de R$40.000. As vinícolas divulgaram declarações dizendo que não estavam cientes das irregularidades e sempre agiram dentro da lei.
O gerente regional do MTE em Caxias do Sul, Vanius Corte, disse: “As pessoas que usaram esse serviço, as pessoas que se beneficiaram desse serviço, também podem ser responsabilizadas. Chamamos isso de responsabilidade subsidiária. Primeiro, o empregador tem a responsabilidade. Se ele não pagar, as pessoas que trabalharam em uma vinícola específica, que prestaram o serviço lá, podem exigir o pagamento, e chegaremos a esse ponto de responsabilidade para a vinícola que se beneficiou desse trabalho.”
Segundo Corte, “não basta contratar alguém; é preciso saber quem se está contratando. É preciso ter a responsabilidade de examinar se ele fornece as condições e direitos legais apropriados.”
Os trabalhadores que foram resgatados foram abrigados no ginásio Darcy Pozza em Bento Gonçalves na quinta-feira (24).
Um dos trabalhadores resgatados contou sobre as condições em que ele e seus colegas viveram no local fornecido pelos empregadores e sobre a relação com a empresa responsável pela contratação. “Todos os dias, acordamos pensando em ir para casa. Mas não há como uma pessoa ir para casa porque eles nos mantêm de tal maneira que ou ficamos ou, se não quisermos ficar, morremos. Se quisermos sair, quebrar o contrato, saímos sem o direito a nada, nem mesmo aos dias trabalhados, sem passagem, sem nada. Então, somos obrigados a ficar“, disse ele.
Ele disse que ele e seus colegas vieram da Bahia para trabalhar na colheita de uvas com a promessa de salários acima de R$3.000, acomodação e comida. No entanto, quando chegaram ao Rio Grande do Sul, os trabalhadores enfrentaram atrasos no pagamento de salários, violência física, longas horas de trabalho e foram oferecidos alimentos estragados. Eles também foram coagidos a permanecer na instalação pequena e precária, sob ameaça de pagar uma multa por quebrar o contrato de trabalho. Houve também casos de violência envolvendo choques elétricos e spray de pimenta, segundo Corte, gerente regional do MTE.