Duas horas, quarenta minutos e cinquenta e nove segundos. Esse foi o tempo que Marlei Willers precisou para entrar para a história e se consagrar campeã da Maratona Internacional de Porto Alegre aos 45 anos. Da idade aos tempos conquistados em provas pelo país, os números servem para ilustrar o quão fora da curva é a carreira desta paranaense que escolheu o Vale do Sinos como sua casa.
Marlei é natural de Pérola d´Oeste, interior do Paraná. Na cidade, que fica a mais de 500 quilômetros de distância da capital Curitiba, viveu com o pai, a mãe e o irmão mais novo até a adolescência. Ainda no Paraná, teve o primeiro contato com o atletismo, quando se destacou em provas de corrida e foi convidada para participar de competições com a escola. Na ocasião, conta que não pôde participar pois precisava tomar conta do irmão enquanto os pais trabalhavam. Ela destaca a importância da disciplina na sua criação para a atual trajetória como atleta.
Com 15 anos, decidiu ir em busca de melhores condições de estudo e deixou sua cidade natal. Em dezembro de 1994, veio a Morro Reuter para trabalhar em uma fábrica de calçados que pertencia aos seus tios. No município, concluiu o ensino médio e passou no vestibular da Feevale, onde cursou educação física até o terceiro semestre.
Trabalhando em Novo Hamburgo e morando em Morro Reuter, Marlei conquistou casa própria, carro e sua independência financeira. Foi aos 38 anos que conheceu o universo das corridas. Procurando um lazer que proporcionasse poder viajar por aí, encontrou uma reportagem chamada “Maratonas pelo mundo”. Já com o desejo de correr e com o convite de uma amiga, inscreveu-se em duas provas de rua e acabou não participando.
Em 2017, pela primeira vez, teve coragem e participou de uma prova. Completou um percurso noturno de 5 quilômetros, em Novo Hamburgo, em apenas 23 minutos e 28 segundos. Marlei conta que ficou impressionada com o próprio desempenho. “Meu objetivo era correr 5 quilômetros sem parar, nunca imaginei ser atleta”, lembra. Com a ótima marca, atraiu o olhar do treinador Júlio Pauletti, que a convidou para treinar e participar de outras provas.
Em menos de um ano de preparo, foi acumulando bons resultados. Passou a correr distâncias maiores, sendo a terceira colocada da Meia Maratona de Porto Alegre e ficando na 11ª colocação entre 18 mil atletas na corrida da Lagoa da Pampulha, em Minas Gerais.
Com bons resultados, a corredora tomou uma decisão ousada. Saiu do emprego em Novo Hamburgo e foi se dedicar aos treinos e a sua marca de produtos congelados. Com empenho, superou as dificuldades e, hoje, consegue viver com o fruto de suas vendas, patrocínios e premiações. “A corrida me deu de volta tudo que eu investi”, emociona-se.
Marlei entende que a carreira de corredora deve ser curta. No horizonte, os planos se estendem apenas para os próximos dois anos. Segue com treinos diários, sete dias por semana, acordando às 4 horas. Por conta da disciplina que carrega desde a infância, tem como ídolos os esportistas que também têm essa marca, como a ex-jogadora de basquete Hortência e o técnico de vôlei Bernardinho.