REPORTAGEM ESPECIAL
Em 1969, o cantor americano Frank Sinatra estreou um dos seus maiores sucessos, que, efetivamente, brilhou no mundo: a música “My Way”. Quisera Frank que, neste mesmo ano, e em datas próximas, um jornalista que se tornou uma grife da notícia em Novo Hamburgo começasse sua trajetória e a escrever nos jornais, aos 20 anos, e que pode admitir, hoje, aos 73: “Não somente jornais, mas jornais que tanto amo”.
Aurélio Decker, 73 anos, talvez não soubesse disso. Mas, além de datas próximas de lançamento, o clássico se confunde com sua trajetória jornalística, sua vida profissional e pessoal, que acumula milhares de histórias. Em 2022, Lelo completa 53 anos de profissão.
E, nestes tantos verões, primaveras, outonos e invernos, que Lelo pode escrever essa história começa no Jornal Zero Hora, em 1969, onde escreveu sua primeira crônica. Era sobre um inspetor de Polícia hamburguense que havia cometido corrupção. Mas, logo depois, já foi trabalhar na Caldas Júnior, no Correio do Povo e o extinto Folha da Tarde, onde também escreveu algumas crônicas.
Mas o seu maior amor jornalístico, sua maior experiência, paixão e sucesso, estiveram aqui, em Novo Hambugo. Aurélio começou no Jornal NH em 72. “Eu fui contratado pelo Jornal NH como repórter. Depois de 30 dias, virei secretário da Redação. Depois de mais de 60 dias, virei gerente de redação. Neste momento, escrevi minha primeira no jornal, o que, realmente, me trouxe muitas alegrias, muitos momentos emocionantes, me trouxe minha vida”, conta Lelo.

A crônica de Aurélio sempre foi semanal. Tinha um destaque de quase uma página. Em alguns momentos especiais, de fatos marcantes e exclusivos, a crônica de Aurélio saía na mesma página de que a notícia. As escritas sempre aconteciam nas sextas-feiras.
E por que Aurélio se tornou uma personalidade, uma grife da notícia hamburguense? Por que suas crônicas emocionaram, divertiram, entristeceram, e geraram até ameaças. “Durante 60 dias, andei armado, até na beira da praia, por que policiais da banda Podre da Polícia Civil estariam planejando um assalto, que seria feito por bandidos. Por que? Fizemos uma campanha no Jornal durante 60 dias sobre corrupção policial”, conta.
E falamos em momentos que entristeceram. Casos como de Aquiles Bragion, Beatriz Rodrigues e Luiz Henrique Sanfelice, Flávio Rodrigues, crime da Maide, dentre tantos outros foram pautas de Decker. No caso Bragion, o repórter foi a São Paulo, enquanto o assassino do empresário era procurado pela… Polícia Federal. Acredite: Lelo o achou. Além disso, foram a Nova York, buscá-lo. Parece inacreditável: mas Aurélio foi. E fez.
Na China, Lelo trouxe á tona, para o Vale do Sinos, a fera do “Dragão” e a potência mundial chinesa. Esses 3 destinos se tornaram em dezenas ou até centenas de crônicas sobre o tema. “Na primeira, achei que a situação estava ruim. Na segunda, vi que estamos próximos do fim. Na última, o dragão realmente era o maior do mundo, desbancando nossa cidade”, disse ele, relembrando o caso, que renderam 3 livros de intenso sucesso, com assinaturas de centenas de empresários e histórias. Muito criticado e questionado na época, as crônicas de Lelo foram a realidade, anos depois. Ele viu, in loco, os operários ganhando 50 dólares por mês, sem direito a férias, sem direito a previdência e com direito de morar na mesma fábrica onde trabalhavam. A maioria deles cumpria jornadas de 14 horas por dia.
Brigas com prefeitos? Secretários municipais demitidos? Vereadores pulando de bravos? Pois é. Tudo isso você leu nos 44 anos de textos e histórias de um “alemão” que se tornou um sucesso na cidade, e que expôs o que era errado. Mas, além de brigas, realidades duras e histórias, não dá para esquecer de uma vida que divertiu centenas de milhares de pessoas. A tia Lucila. “Réééélio”, ela dizia. A adorável tia rendeu centenas de escritas. “Saio nas ruas, as pessoas me pedem para voltar a com a Lucila. Ela foi um capítulo lindo na minha história”, conta Aurélio. Falecida há alguns anos, Lelo tenta sonhar com ela. Quando sonha, até lembra da campanha do Castelão em que ganhou um “Frijiter” e a “viaxen” ao “Río te Xaneiro”.
Em alguns últimos episódios, Lelo pode contar: dormiu na rua, em 2017, com moradores de rua. Saiu do Sinfonia Hotel, onde morava, para dormir, no frio, na rua não somente com a população: mas como um morador. E contou tudo. E a briga com a RGE? Puxou. Tirou os fios. Levou tudo lá, no posto da empresa. E ficou revoltado!
Mas, depois desta história, a vida quis que Lelo fechasse esse capítulo da história. Se despedisse de tanta história, de tanta coisa boa que deixou a Novo Hamburgo. Dentro do Jornal NH, foram viagens, experiências, elogios, críticas. Foi a vida de Lelo retratada em páginas de jornais. “A crônica foi uma coisa vital na minha vida. Fiz palestras, fiz eventos, falei da minha vida e do que escrevia. Fico triste de sair. Mas minha vida foi linda”, sim. Nesta despedida, ele tem muito a agradecer. “Gratidão aos irmãos, e acima de tudo, meus amigos e que me “suportaram” por tanto tempo: Paulo Sérgio e Mário Alberto Gusmão. Eu amo o NH, e sempre amarei”. No Jornal, Lelo alcançou um feito: diretor de redação de todos os jornais do Grupo Sinos, por mais de 20 anos.

E, ao encerrar esta leitura, sugiro: escute My Way. “Eu vivi uma vida completa. Eu viajei por toda e qualquer estrada.E mais, muito mais que isso. Eu fiz isso do meu jeito. Arrependimentos, tenho alguns. Mas por outro lado, muito poucos pra citar. Eu fiz o que eu tive que fazer. E continuei fazendo sem exceção”. Essa música resume un pouco da vida e da história deste amigo da cidade, no qual desejamos vida longa, viva, conosco e com essa cidade! Agora, Lelo segue na VALETV, no programa ValeNews. E claro: aqui, com o DuduNews!