Debate no programa Estação Hamburgo reúne lideranças empresariais e políticas para discutir impactos da tarifaço de 50% e os caminhos para a economia regional.
Na noite de 13 de agosto de 2025, o programa Estação Hamburgo, da Vale TV, promoveu um debate com os empresários Christian Thomas, Bruno Hartz e o deputado estadual Issur Koch (Progressistas). Em pauta, os efeitos do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras, especialmente do setores calçadista e metal-mecânico, pilares da economia do Vale do Sinos. O encontro expôs preocupações com empregos, competitividade e futuro da região, além de apontar possíveis soluções no campo político, empresarial e logístico.
Um golpe no coração do calçado
O empresário Christian Thomas, com 45 anos de experiência no setor calçadista e 25 deles voltados ao mercado norte-americano, relatou o impacto direto do tarifaço. Ele estava em Nova York durante a imposição da medida, enquanto apresentava o movimento The South Base — criado para reposicionar o calçado brasileiro no mercado internacional — no Summit da FDRA, que reúne 95% dos compradores de sapatos dos EUA.
Segundo Thomas, a medida não surpreende totalmente, já que faz parte de um movimento mais amplo do governo norte-americano de sobretaxar diversos países. No entanto, o peso político dado ao Brasil ampliou os danos. “Não é bom para ninguém — nem para o consumidor americano, nem para as marcas, nem para quem produz aqui”, destacou. Para ele, a solução passa pelo diálogo direto com clientes e autoridades norte-americanas: “O problema nasceu lá e precisa ser resolvido lá”.
Perspectiva política: empregos em risco
O deputado Issur Koch reforçou a gravidade social da crise. Ele lembrou que o setor calçadista é um dos maiores empregadores da indústria de transformação e absorve um público que dificilmente encontra recolocação em outras áreas: mulheres acima dos 50 anos, muitas vezes com baixa escolaridade.
“O fechamento de postos de trabalho no calçado empurra milhares de famílias para os programas sociais”, alertou o parlamentar. Ele também criticou a dependência de linhas de crédito como solução para crises: “Emprestar dinheiro apenas alonga a dívida do empresário. Precisamos de políticas que ataquem a raiz do problema”.
Issur defendeu maior protagonismo do Itamaraty e classificou como inaceitável o setor produtivo ser vítima de disputas ideológicas. “Não há tempo para brincadeiras ou deboche, precisamos de estadismo e seriedade para lidar com um setor que sustenta a economia do Vale do Sinos”, afirmou.
Exportações congeladas e fábricas em férias coletivas
Representando o comitê de internacionalização da ACI, o empresário e despachante aduaneiro Bruno Hartz trouxe a visão prática de quem acompanha o dia a dia das exportações. Segundo ele, empresas que dependiam em até 80% do mercado americano, como algumas moveleiras da Serra Gaúcha, já tiveram que colocar fábricas em férias coletivas.
“Em muitos casos, não há como redirecionar rapidamente os produtos para outros mercados. O sapato ou o móvel feito para os Estados Unidos segue normas e padrões específicos. Readequar ou encontrar novos clientes exige tempo e custos adicionais”, explicou Hartz.
Ele lembrou ainda que algumas commodities, como suco de laranja e ferro, tiveram isenções por decisão unilateral dos EUA, o que mostra que há margem para negociação, mas reforça a necessidade de atuação diplomática mais firme do governo brasileiro.
O cansaço do setor produtivo
Os três debatedores convergiram na percepção de que a indústria regional enfrenta uma sequência de choques: pandemia, enchentes e agora o tarifaço. Para o deputado Issur, esse acúmulo gera “um cansaço profundo” entre empresários, que relatam não ter mais fôlego para novas dívidas.
“Cada passo dado é uma casca de banana no caminho”, resumiu. Ele destacou que o poder público deve atuar reduzindo tributos e burocracia, em vez de ampliar a dependência de crédito.
Caminhos possíveis: união e internacionalização
Apesar do cenário difícil, Christian Thomas ressaltou a importância de não repetir erros do passado, quando a indústria brasileira perdeu espaço para a Ásia. “Não podemos simplesmente cruzar os braços. É hora de manter contato com clientes e continuar presentes no mercado, mesmo sem novos contratos imediatos”, afirmou.
Ele destacou o papel do The South Base, o Pacto Calçadista, iniciativa que busca reposicionar o produto brasileiro e capacitar empresas locais em inovação, sustentabilidade e compliance. Já são 16 empresas inscritas em programas de qualificação, com apoio de sindicatos e da Fiergs.
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Bruno Hartz lembrou que, paralelamente, o comitê de internacionalização tem buscado abrir horizontes para além dos EUA, promovendo eventos como o Dinner Talk, que compartilha cases de internacionalização de empresas da região, e discutindo oportunidades ligadas à reforma tributária e ao Porto Meridional, projeto logístico que pode ampliar a competitividade da região.
Porto Meridional e o futuro da logística
O deputado Issur vem defendendo o avanço do projeto do Porto Meridional, em Arroio do Sal, que deve ter obras iniciadas em 2026. Para ele, além de reduzir custos de exportação, o porto pode abrir um novo ciclo econômico para o litoral norte, inclusive com o turismo de cruzeiros.
“O oceano não é barreira, é caminho. Precisamos aproveitar essa oportunidade para gerar empregos e diversificar a economia regional”, afirmou, citando o potencial de integração com a Serra Gaúcha e o Vale do Sinos.
União como saída contra o tarifaço
Na conclusão do debate, os convidados resumiram a estratégia necessária para enfrentar a crise: nenhum movimento isolado vai dar resultado. É preciso todos sentarem na mesma mesa, discutindo o mesmo assunto e com a mesma finalidade.
A fala reforça o espírito de cooperação que marcou o encontro, reconhecendo que os desafios vão além das fronteiras regionais, mas exigem da região coesão, planejamento e visão de longo prazo.
Clique na imagem abaixo para assistir ao Estação Hamburgo na íntegra no canal da Vale TV no YouTube:
Debate realizado no dia 13 de agosto de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.