Aos 15 anos, a jogadora do Grêmio Sub-17 Stephanie Calixto concilia escola, viagens e treinos diários em busca de um sonho: representar o tricolor nos gramados profissionais e inspirar outras meninas do Vale do Sinos a acreditarem no esporte.
Natural de Novo Hamburgo, filha de Sheila e Silvano, Stephanie Calixto Gatelli, de apenas 15 anos, já carrega no currículo títulos, viagens pelo Brasil e uma trajetória que impressiona pela maturidade e dedicação. Jogadora do Grêmio Sub-17, ela divide o tempo entre os estudos e os treinos em Canoas, e desponta como uma das promessas do futebol feminino gaúcho. Em entrevista ao programa Conversa de Peso, da Vale TV, com Rodrigo Steffen, Stephanie falou sobre os desafios da rotina, a paixão pelo clube desde criança e o sonho de chegar à equipe profissional com a camisa azul, preta e branca.
O início de uma paixão
Stephanie Calixto começou a jogar futebol aos quatro anos, ainda no futsal. “Comecei bem pequena, jogava com os meninos”, contou. A afinidade com o esporte foi imediata — e a paixão pelo Grêmio, hereditária. “Quando eu nasci, já era gremista. Lá em casa, todo mundo é. E quem não era, acabou virando”, brinca.
A primeira foto com a camisa tricolor veio cedo, e o vínculo com o clube só cresceu. Em 2022, ela foi chamada para integrar as categorias de base do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, realizando o sonho que nutria desde a infância. “É muito bom estar onde sempre quis. É o que eu sonhei desde pequena, e quero aproveitar ao máximo.”
Do colégio ao campo
A jovem atleta cursa o ensino médio em Novo Hamburgo e mantém uma rotina puxada. “Acordo cedo, vou pra escola, e depois sigo direto pra Canoas. Almoço lá, descanso um pouco e já treino”, explica. Os treinos acontecem no centro esportivo da ULBRA, onde o time feminino sub-17 do Grêmio realiza suas atividades.
“É cansativo, mas é o que eu amo. Tem dias que chego exausta, mas vale a pena”, conta. A rotina é dividida entre aulas, treinos, viagens e o apoio à irmã mais nova, judoca no Grêmio Tiradores, de Novo Hamburgo. “Ela também compete, então a gente se entende bem nessa correria.”
Do futsal ao campo — e da zaga à lateral
A trajetória de Stephanie Calixto dentro do campo foi marcada por mudanças e descobertas. “Comecei jogando na ponta, depois fui pro meio, virei lateral e zagueira. Hoje fico entre as duas posições”, relata. Apesar da versatilidade, ela se define como uma jogadora mais ofensiva: “Gosto de chegar à frente, fazer cruzamento e, se der, fazer gol também.”
O técnico, segundo ela, incentiva essa vocação. “Ele sempre me pede pra atacar mais, pra me soltar. Gosto de apoiar o ataque, e acho que esse é o meu diferencial.”
Uma rotina de superação e disciplina
Aos 15 anos, Stephanie Calixto já aprendeu que o futebol é mais do que talento — exige foco, preparo físico e mental. “Trabalhamos muito resistência e força de perna. O campo tem o mesmo tamanho do profissional, então cansa muito. Mas a gente treina pra isso”, explica.
A jovem atleta também se preocupa em equilibrar o desempenho nos estudos. “Os professores puxam as orelhas quando a gente falta. Às vezes fico uma semana fora, viajando pra jogos, e preciso recuperar as matérias depois.”
Conquistas e vitórias com a camisa tricolor
Um dos momentos mais marcantes da carreira de Stephanie foi a conquista do Campeonato Gaúcho Feminino Sub-17 de 2024. O Grêmio começou o torneio com derrota no primeiro jogo — um 3 a 1 para o Internacional —, mas deu a volta por cima. “A gente virou a chavinha, se uniu como grupo e foi só pra cima. Ganhamos todos os jogos depois e vencemos o Inter na final: 4 a 1 na Arena e 1 a 0 na casa delas”, relembra com orgulho.
Na final, ela foi responsável por uma assistência decisiva. “Cruzamento, a bola bateu no travessão, voltou e entrou. Foi lindo”, conta sorrindo. “Ganhar um Grenal é diferente, tem que dar tudo de si. A gente sempre fala no grupo: Grenal não se perde.”
Entre preconceitos e conquistas
Mesmo com o avanço do futebol feminino, Stephanie Calixto reconhece que ainda há barreiras. “Esses dias, na escola, um colega disse: ‘futebol não é pra guria’. Fiquei chocada. É 2025 e ainda tem gente que pensa assim”, lamenta.
Ela admite que comentários como esse machucam, mas não a fazem desistir. “Nós, jogadoras, queremos visibilidade e respeito. Isso é uma profissão. A gente treina, se dedica, viaja e representa um clube. Felizmente, hoje tem muito mais gente que apoia do que critica.”
O orgulho de vestir a camisa do Grêmio ajuda a superar qualquer obstáculo. “Quando as pessoas descobrem que eu jogo no Grêmio, ficam impressionadas. Dizem ‘uau, que legal’. Isso mostra que estamos no caminho certo.”
O futebol como escola de vida
As experiências com o Grêmio já levaram Stephanie a diferentes partes do Brasil — Pará, Santa Catarina, Mato Grosso, Amazonas — e renderam aprendizados que vão além do esporte. “Viajar tanto nessa idade é um privilégio. Nem todo mundo teria essa chance se não fosse o futebol.”
As viagens são intensas, com rotina de treinos, jogos e concentração em hotéis. “Tem pouco tempo pra lazer, mas vale muito a pena. Cada lugar traz uma história e um aprendizado.”
Ela reconhece que o futebol feminino no Brasil ainda enfrenta desigualdades em relação ao masculino, mas acredita na evolução. “As coisas estão mudando. A gente vê mais meninas jogando, mais clubes investindo, mais espaço na mídia. Isso é importante.”
A força da família e o orgulho de Novo Hamburgo
A mãe de Stephanie Calixto, Sheila, acompanha de perto cada conquista — e registra todas. “Minha mãe é quem mais me apoia. Ela vai em todos os jogos que consegue, grava vídeos, vibra junto. Sem ela, nada disso seria possível.”
A jovem atleta também carrega o orgulho de representar sua cidade natal. “Novo Hamburgo é minha base, minhas raízes. É bom saber que tem gente daqui torcendo por mim.”
Em 2018, aos 9 anos, ela foi capa do Jornal NH, por ter sido a primeira menina a jogar entre os meninos nas categorias de base da cidade. “Guardo o jornal até hoje. É uma lembrança de que essa caminhada começou cedo.”
O sonho de chegar ao profissional
No horizonte, o foco é seguir crescendo dentro do Grêmio. “Meu objetivo agora é subir pro Sub-20 e, depois, chegar ao profissional. Pra isso, preciso mostrar meu trabalho e manter o foco.”
A humildade é uma marca da jovem atleta. “Não dá pra ter salto alto. No futebol, qualquer bobeada te faz perder espaço. Então é seguir firme, treinar e dar o máximo.”
Mesmo tendo recebido convites de outros clubes, inclusive do rival Internacional, ela não hesitou. “Eu não consegui ir. Meu coração é gremista. Não tinha como vestir outra camisa.”
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O futuro que inspira
Com garra, talento e paixão, Stephanie Calixto representa uma nova geração de meninas do Vale do Sinos que sonham com o futebol profissional. “Quero ser inspiração pra outras gurias. Mostrar que dá pra chegar lá com trabalho e fé.”
No encerramento da entrevista, o apresentador Rodrigo Steffen resumiu o sentimento de todos que acompanham sua trajetória: “Essa menina vai longe. E o Vale do Sinos vai estar na torcida.”
Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen.