Pois as perdas fazem parte da vida humana, sejam elas físicas, emocionais, afetivas, financeiras, de tantas possibilidades e alternativas. De todas elas, a morte é a mais complexa e que causa maior dor, visto a sua irreversibilidade, o emprego da expressão “nunca mais”, a certeza da ausência. É uma dor, muitas vezes, sem fim.
A perda causada pela morte, no ângulo de laços familiares, sabemos trás os maiores traumas, pois via de regras perder avós, pais, em especial filhos ou netos, faz chorar, faz partir o coração. O luto é complexo e dolorido. Mas, nesta crônica, falarei de outro tipo de perdas causadas pelas mortes: as perdas de referências, de ícones, de exemplos.
Nas últimas semanas sofremos com a morte de Silvio Santos, com a morte de Alain Delon, com a morte de Juan Izquierdo. Nas nossas proximidades, não temos mais o convívio dos sábios Dr. Valdir Marques de Souza e Dr. João Osório. Todos excepcionais em suas funções. Únicos ou raros, naquilo que se dispuseram a fazer profissionalmente. Referências, para milhares, milhões de pessoas que os admiravam, naturalmente, à distância.
A dor dos familiares, em todos os casos acima citados é inequívoca e igual a nossa dor, do alto de nossa insignificância enquanto famosos que não somos. Mas, não me refiro aos familiares. Sim, é natural que tenhamos nos emocionado com a trágica partida do zagueiro uruguaio Izquierdo, prematura e quase que inexplicável, da mesma forma que sentimos com o fim da história do longevo comandante dos auditórios de nosso país, o senhor SS.
E sumidades na área médica: Dr. Valdir e Dr. Osório? Quantos não se recordaram da importância de ambos em suas vidas ou de seus familiares, ou de amigos, ao tomar conhecimento dessas mortes? Sim, choramos com Senna, com Tancredo Neves, com tantos outros que encantavam ao exercer seus respectivos ofícios. Eram referências.
É aí que pergunto, se efetivamente perdemos referências? Todas as pessoas citadas nessa crônica se foram, mas as suas histórias, os seus legados e sobretudo seus ensinamentos ficaram entre nós. São famosos e por isso reverbera com mais ênfase as suas partidas, mas sobretudo, fizeram muito bem o que se dispuseram a fazer. Ficarão como referências por muito e muito tempo.
E esse ensinamento deve ser refletido entre nós, deixando de lado o ambiente familiar, reitero. Quantos professores estarão sempre presentes em nossas memórias; quantos médicos. Um bombeiro em algum momento pode ter se tornado inesquecível na vida de alguém. Um policial militar. Um enfermeiro. Claro que nem todos com a mesma repercussão, pois são perspectivas diferentes, mas, cada um sendo referência em algum momento, para alguma pessoa e aí, terá valido a pena, a existência profissional.
LEIA A EDIÇÃO DO JORNAL O VALE
Você, lendo essa página do jornal O Vale, nesse momento, pode estar se lembrando de alguém que marcou em sua vida, por uma atividade profissional bem realizada. Eu, por exemplo, acabo de lembrar da minha professora de Primeira Série, a Tia Herminda, em meus primeiros contatos com os bancos escolares. Ele foi e até hoje é referência em minha vida e por que não esteja entre nós, jamais partirá de minhas memórias. Será sempre uma de minhas referências.
Procure ser referência, procure fazer com total amor e carinho, desempenhe sua atividade com garra, paixão. Procure ser a referência de alguém, e serás lembrado para sempre.
Ouvi do filósofo Mário Sérgio Cortella, sem ter a certeza de ser ele o autor da frase, mas me marcou e reflito até hoje: “só morre quem é esquecido”. Te tornes imortal na vida das pessoas. Seja referência. E jamais morrerás.