Calma, não se apresse ao ler a manchete e imaginar que serei contra a compra de presentes para a celebração do Natal. Muito antes pelo contrário, impossível atravessar a celebração de 25 de dezembro sem a troca de mimos. Também natural que se fale que a data em si, que pede reflexão, amor ao próximo, fé, religiosidade e todas as formas de fraternidade a partir da celebração do nascimento do menino Jesus. Também não discorrei sobre isso nesta coluna.
Falarei do presente, sim, objetivamente da entrega do presente e, por isso, afirmo, que além de todos os aspectos de credo e espiritualidade, o Natal é mais que o presente. Isso mesmo: digo que o presente de Natal não pode se extinguir em si próprio.
Sou daqueles que gosta de surpreender ao comprar um presente, seja para crianças ou para adultos: nada de compras em conjunto. Eu escolho, compro, pago e a pessoa do outro lado da relação (esposa, pai, filho, aniversariante, colega) recebe, simples assim. O fato de acertar na escolha já é um primeiro desafio, pois gosto de estar próximo das pessoas que presenteio, saber do que gostam, do que não gostam, o que desejam e o que já têm. Trata-se de mais uma forma de carinho destinada ao presenteado.
Pois bem, chegamos à noite de Natal, foco principal desta coluna: hora de trocar presentes. Felicidades, beijos, abraços, brindes, presentes entregues. Se para você, o Natal é apenas presente, sua missão está concluída. Porém, para escaparmos da ira daqueles que procuram diminuir a relevância do presente no 24 ou 25 de dezembro, aí digo que começa a missão mais importante: viver o presente.
No mundo das crianças, imaginemos que você deu uma bola ou uma boneca para sua filha ou seu filho. Talvez um jogo de tabuleiro. Dever cumprido? Não. Aí começa a hora de viver o presente… isso mesmo, não basta dar a bola, virar as costas e não brincar, não curtir, não eternizar momentos com a criança contemplada. Se você apenas entregar algo, sim, terá razão quem diz que os presentes não encarnam o espírito do Natal.
Natal é aproximação, Natal é alegria, Natal é a sinergia entre adultos e crianças e a boneca terá que ser motivo de brincadeiras na noite natalina, nas férias de janeiro, perto do carnaval e por dias e dias. Assim como os jogos, que podem servir de motivo para congregar famílias, com avós e netos jogando futebol de botão, pais e filhos brincando de pegar varetas, famílias inteiras jogando Uno e até mesmo em jogos digitais, onde as brincadeiras podem reunir em torno de Fifas, ou jogos de simulação.
A arte de brincar faz parte do espírito natalino. Por isso digo que o presente, sim, pode e deve estar dentro das celebrações natalinas.
Ali, se criam memórias, ali se estabelecem conexões, se fortalecem personalidades aprendendo a perder e ganhar, a compartilhar, a atuar em equipe, enfim, diversos mecanismos que moldam o adulto do amanhã. O presente não pode se esgotar em si mesmo, sendo uma parte de toda a relação de afeto e carinho ali resumida.
E para os adultos, a mensagem deve ser a mesma, com a entrega do presente não se resumindo a frieza da entrega de uma encomenda, por mais que os maiores não tenham as mesmas magias dos pequeninos. Vale encantar, surpreender algumas vezes e sobretudo, acarinhar.
Com isso, reforço que o presente é, sim, parte integrante da magia do Natal, sendo muitas vezes uma pequena lembrança podendo ser algo de enorme significado. Não é por ser caro ou barato, não é por ser grande ou pequeno. Vale o amor, a lembrança, o significado e a sua perpetuação junto à vida de cada um.
O presente de Natal, assim como o espírito natalino, deve durar por muito tempo, além das noites de 24 e 25 de dezembro.