Sistema digital será testado por até três rádios e as rádios comunitárias contestam não poderem se adaptar a nova tecnologia
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai enviar nas próximas semanas a metodologia criada para os primeiros testes de rádio digital a duas ou três emissoras de rádio. O superintendente de Serviços de Comunicação de Massa da agência, Ara Apkar Minassian, diz que as escolha das rádios fica a cargo do setor, pois ele considera mais fácil que impor quem serão as cobaias.
Para tanto, as especificações e metodologia serão entregues à Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e à Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra). Três principais questões deverão ser avaliadas: a qualidade do sinal, a abrangência da cobertura e possíveis interferências entre emissoras do sistema digital sobre o analógico.
Minassian destaca que concentrar os testes em algumas rádios não significa que estas são as melhores, e sim, que é necessário fazer testes em locais críticos como São Paulo, que tem edifícios altos e muitos obstáculos. “Se o sistema der certo em São Paulo, a tendência de dar certo em outras cidades mais planas é muito maior”, explica. Belo Horizonte e Rio de Janeiro também foram citadas pela topografia diversificada.
Testes com sistema digital começaram a ser autorizados pela Anatel há dois anos, 19 emissoras pediram autorização, mas a Anatel diz não saber quantas fizeram efetivamente os testes. O superintendente conta que cada rádio testava da sua forma e os relatórios enviados à Anatel não eram esclarecedoros, e detectou-se a necessidade de ter uma metodologia única e realizar os testes de forma coordenada.
“Ninguém até agora conseguiu apresentar um resultado concreto, sólido, que possa dizer o seguinte: eu usei o sistema e ele me atendeu, não perdeu cobertura, não gerou interferência nos sistemas analógicos vizinhos. Ninguém me apresentou isso”, diz.
Os dois sistemas de rádio digital em estudo no Brasil são o americano In Band–On Chanel (Iboc) e o europeu Digital Radio Mondiale (DRM). Enquanto o americano não faz transmissões em ondas curtas (OC), o europeu, por sua vez, não contempla a FM. “Temos que testar as diferentes configurações e verificar como o sinal se comporta em relação a interferências”, diz Ara Minassian.
Além da interferência, a cobertura do sinal é apontada pela Anatel como fundamental nos testes. Se uma emissora tiver hoje uma cobertura de 50 quilômetros e, com a transmissão simultânea, diminuir essa cobertura será preciso “analisar o que você vai fazer no futuro com essa zona de sombra que ficou”.
Rádios Pequenas e Comunitárias
A transição do sinal analógico para o digital amedronta as rádios comunitárias, já que, pela legislação brasileira, a potência máxima para uma rádio comunitária é de 25 watts. O representante da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), Joaquim Carlos Carvalho disse que no sistema americano (Iboc), 25 watts equivale a potência de ruídos.
Segundo ele, a proposta apresentada pelo governo no processo de digitalização exclui as rádios comunitárias, educativas e as rádios comerciais pequenas, pois atualmente não existe um transmissor digital capaz de atender as essas emissoras. Carvalho explica que o menor transmissor disponível no mercado é compatível a uma potência de 100 watts, enquanto as rádios comunitárias trabalham com 25 watts.
O superintendente Minassian diz que o objetivo dos testes é dar condições iguais a todos como ocorreu com a TV digital e se houver interferências sobre rádios pequenas ou comunitárias será encontrada uma solução que não prejudique a emissora.
“Está todo mundo especulando. É muito mais fácil aguardar o resultado dos testes, independente de quem está realizando, para lá na frente a gente avaliar qual é a potência mínima, até onde dá para ir, qual a potência máxima. Isso vai ser avaliado independentemente de qual seja o tamanho da emissora”, garante.
O coordenador da Abraço ressalta que o custo da implantação do sistema digital será outro empecilho paras as rádios comunitárias, pois além do codificador digital, que custa até US$ 120, quem opera com sistema de válvula precisará trocar toda a tecnologia o que custaria cerca de R$ 1 milhão. “Quem se beneficia com o processo são as grandes emissoras, a as pequenas e médias vão ser atropeladas”, afirma Carvalho.
Uma pesquisa divulgada no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que em 48,6% dos municípios brasileiros existem rádios comunitárias, superando pela primeira vez as emissoras comerciais de FM (34,3%) e as de AM (21,2%).
Fonte: Agência Brasil