Nova classificação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, lançada em congresso em São Paulo, define a medida como “pré-hipertensão” e foca na prevenção e mudança de estilo de vida para evitar o avanço da doença que atinge milhões de brasileiros. Cardiologista doutor Luiz Fernando Benini comenta alterações direto do 80º Congresso em São Paulo.
No 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado no Anhembi, em São Paulo, foi lançada nesta quinta-feira (18 de setembro de 2025) a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, em parceria com as Sociedades de Nefrologia e de Hipertensão. Entre as principais mudanças, está a reclassificação da pressão arterial entre 12/80 mmHg até 139/89 mmHg como pré-hipertensão, deixando de ser considerada “normal”, com objetivo de detectar precocemente riscos e estimular intervenções de estilo de vida — explicou o cardiologista Luiz Fernando Benini, o doutor Benini, presente ao congresso.
O objetivo da reclassificação, segundo as entidades médicas, é identificar mais cedo os indivíduos em risco e incentivar intervenções proativas, focadas na mudança de hábitos, antes mesmo da necessidade de medicamentos. Em resumo: a nova diretriz é um chamado à prevenção.
Direto do congresso, o Dr. Benini conversou com o apresentador da Vale TV, Rodrigo Steffen, e detalhou, de forma exclusiva, o que essa mudança representa na prática para a população. “Até agora, tínhamos como pressão normal ou normal elevada valores que iam de 120 até 139 (sistólica) e de 81 até 89 (diastólica). Agora, esses termos passaram a se denominar pré-hipertensão. Ou seja, 12 por 8 para baixo é a pressão normal ou ideal. Acima disso, já começa a pré-hipertensão”, explica o cardiologista.
A hipertensão arterial, ou pressão alta, continua sendo diagnosticada com valores a partir de 140/90 mmHg (14 por 9), e é a partir deste ponto que o tratamento com medicamentos geralmente se inicia. A grande mudança está na faixa intermediária, entre 120/80 e 139/89 mmHg.
O que fazer ao ser diagnosticado com pré-hipertensão?
Essa reclassificação não determina tratamento medicamentoso imediato para todos. Benini enfatiza que quem estiver nessa faixa deve ser aconselhado a adotar hábitos de vida mais saudáveis — dieta, redução de sal, exercícios, verificação de medicamentos que possam elevar a pressão — e monitorado. Só em casos com risco cardiovascular elevado ou presença de lesões em órgãos pode haver indicação de medicação já nessa fase, se as mudanças não surtirem efeito.
Além dos hábitos, é crucial investigar outros fatores que podem estar elevando a pressão, como o uso de certos medicamentos. “Anticoncepcionais, testosterona, hoje em dia muito usada, e todos esses hormônios nesse pessoal que faz uso indiscriminado, drogas antidepressivas… vários elementos podem aumentar a tua pressão. É preciso tentar descobrir quais são e retirá-los, ou atenuá-los”, alerta Benini.
O tratamento medicamentoso para a pré-hipertensão só é considerado em casos específicos, como quando o paciente já apresenta alterações em exames como eletrocardiograma ou ecocardiografia, ou sinais de comprometimento renal.
Ação centrada na pessoa e a importância da medição correta
A nova diretriz reforça a importância de uma “ação centrada na pessoa”, que envolve não apenas o controle do peso e exercícios, mas também o gerenciamento do estresse, a qualidade do sono e a manutenção de conexões sociais positivas.
O Dr. Luiz Fernando Benini também faz um alerta crucial sobre como a pressão é medida. Uma única aferição, feita de qualquer maneira, não é suficiente para um diagnóstico. É preciso seguir um protocolo.
“Não adianta tirar a pressão caminhando, entrar numa farmácia e a pressão estar 15 por 10 e achar que é hipertenso. Tu estás sob estresse. A medição ideal segue um protocolo”, ressalta.
O procedimento correto inclui estar sentado por pelo menos 5 minutos, em ambiente silencioso, com as costas e os pés apoiados, e o braço na altura do coração. Além disso, não se deve ter fumado, ingerido cafeína ou praticado exercícios nos 30 a 90 minutos anteriores. Para um diagnóstico preciso, o ideal é realizar múltiplas medições ou utilizar aparelhos como o MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), que registra a pressão ao longo de 24 horas, ou o MRPA.
Novas abordagens no tratamento
Outro ponto de destaque no congresso, segundo o cardiologista do Vale do Sinos, é a abordagem para iniciar o tratamento em quem já é diagnosticado hipertenso. A preferência agora é por formulações que combinam dois medicamentos em doses baixas.
“É muito melhor começar com dois remédios que atuam em diferentes caminhos fisiológicos do que usar um só e ir aumentando a dose. Assim, tu consegues atingir a pressão ideal mais rapidamente e com menos efeitos colaterais”, finaliza o Dr. Benini, que também mencionou a utilidade de novas ferramentas como a calculadora de risco PREVENT, que oferece uma visão mais ampla da saúde cardiovascular do paciente.
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