Obras estruturantes que devem superar os R$ 100 milhões em quatro anos, melhorias em saúde, em educação, reforço na segurança pública. Esses são alguns dos pontos destacados pelo prefeito Kiko Hoff nesta entrevista ao jornal O Vale. “Portão vive um momento único de muitas obras estruturantes que levam cidade para um outro patamar, todas elas sem empréstimos”, afirma.
Eleito chefe do Executivo Municipal em 2020 com mais de 50% dos votos, Hoff desconversa sobre ser candidato à reeleição neste ano e afirma que o partido é que vai decidir. Município com quase 35 mil habitantes, segundo último censo realizado pelo IBGE, Portão seguido é notícia por causa do pedágio na ERS-240.
Após anos e longas batalhas, a praça localizada no entroncamento com a ERS-122 deve sair de cena. Um novo pedágio, agora com sistema free flow (que prevê a cobrança de pedágio em fluxo livre, sem praças físicas), começa a operar no fim do mês. Porém, o valor a ser cobrado dos usuários tem provocado protestos de moradores da região. “Isso é um assalto, um roubo ao bolso das pessoas mais humildes”, reclama o prefeito.
Nesta entrevista, Hoff fala do pedágio, dos investimentos em obras, saúde, educação e segurança pública e dos planos para o futuro de Portão. Confira:
O Vale – Como você define a sua administração?
Kiko Hoff – “[Temos] uma administração extremamente técnica, quatro secretários comandam 12 secretarias. Vivemos um momento único de muitas obras estruturantes que levam Portão para um outro patamar, todas elas sem empréstimos. Portão não tem dívida, não tem precatórios, não tivemos nenhuma reclamatória trabalhista. [Temos] dinheiro em caixa. Dinheiro que dá para fazer diferente, precisa coragem e vontade política.
O Vale – A situação do pedágio na ERS-240, que tem gerado protestos de moradores, afeta a cidade e como a prefeitura acompanha o caso?
Hoff – Afeta um monte [a cidade]. Isso é um assalto, um roubo ao bolso das pessoas mais humildes. Cobrar quase R$ 500 mês de quem ganha R$ 2.000 é entregar 25% do salário para usar uma rodovia. Isso é um absurdo total, falta de sensibilidade política, é fazer a coisa por fazer, não importando quem pague. Portão já tem 30 anos de pedágio e, agora, o povo na volta vai ter mais pedágio. E o pior de tudo é distorcer do que é o objetivo do free flow [conhecido como pedágio sem cancela, o free flow é um sistema que funciona com cobrança eletrônica automática da tarifa]. O free flow é a cobrança por quilômetro rodado, são “porteiras” [pedágios] que são colocadas ao longo da rodovia, que deveria ser dividido pelo número de “porteiras”, como prega no edital. Mas só devem entrar daqui a dois anos, enquanto isso vão cobrar R$ 25 por dia. Hoje o free flow deveria ser R$ 2,50 cada “porteira”. Daí é aceitável. Fora isso é um absurdo total, um erro imensurável.
O Vale – Moradores têm se manifestado e fechando a rodovia contra o valor do pedágio. Há algo que a prefeitura possa fazer?
Hoff – A prefeitura não. Quem pode fazer é o povo na rua, é mostrar indignação, é encher o próximo evento que tiver protesto. Somente isso que eles obedecem, porque o resto é balela.
O Vale – O Ministério Público já entrou nesse caso?
Hoff – Sim. Já acionamos o Ministério Público e estamos esperando agora, quando eles abrirem o free flow, se não for no que eu falei, de cobrança por quilômetro rodado, nós vamos entrar sim, em nome da Amvarc [Associação dos Municípios do Vale do Rio Caí]. É isso que eu pleiteio, mas primeiro tem que ver o que vai ser feito. Hoje, por enquanto, o pedágio está onde está, que já era um absurdo que aumentou [valor]. Saiu de R$ 6,50 para R$ 11,90, depois R$ 12,30 e agora vai ser R$ 24,60 [valor de ida e volta]. É um assalto ao bolso das pessoas mais humildes. Quem tem [dinheiro] não se importa em pagar, mas e quem não tem? E onde é que se coloca isso? Se termina com o desenvolvimento de uma região mantendo esse absurdo do pedágio. Hoje eu estava olhando que o pedágio mais caro é da Ecosul [R$ 19,60 cobrado em rodovias federais no sul do RS, como a BR-116]. O pedágio mais caro vai ser colocado aqui em Portão, R$ 24,60. É que aqui tem que considerar que é ida e volta que eles cobram.
O Vale – Quais foram os investimentos da prefeitura em saúde e educação nos últimos anos?
Hoff – Foram muitos os investimentos. Portão vai gastar neste ano 32% da receita em saúde e nossa educação é totalmente diferenciada. Do jeito que nós pegamos o hospital [de Portão] há sete anos, para ser mais preciso em outubro de 2017, reformulamos toda a direção do hospital, que caiu teto na cabeça de médico, indo a leilão, R$ 15 milhões em dívidas, sem credibilidade nenhuma junto à população e hoje é uma total mudança. Tem credibilidade muito grande, quartos totalmente reformulados, com UTI, com ar condicionado, wi-fi, totalmente moderno. É um hospital que ao menos hoje o cara vê um horizonte no futuro. Tem muito o que melhorar? Tem muito. Mas como era já melhorou um monte e vai melhorar mais ainda. E na educação quatro novas escolas, reforma de todas as escolas, com professores em sala de aula, com telas interativas, kit escolar com uniforme. Dá para fazer diferente, precisa coragem e vontade política. Isso nós temos.
O Vale – Como Portão tem enfrentado a criminalidade?
Hoff – Portão não tem quase crime nenhum. O índice de homicídio é quase zero, somente quem se envolve com drogas basicamente. Portão é uma cidade segura fruto também de nosso videomonitoramento. Agora, acertamos com o Consepro e vamos disponibilizar mais o cercamento eletrônico, vai ser um belo investimento, mais de R$ 500 mil. Temos duas emendas, uma do deputado Bibo Nunes (R$ 200 mil) e outra do Alceu Moreira (R$ 100 mil), e nós vamos colocar mais um valor e o investimento vai passar de R$ 500 mil para dar ainda mais segurança ao nosso município. Temos que agradecer muito a Brigada Militar e nossa polícia, todo os órgãos de segurança pública pela qualidade dos serviços que eles prestam a nossa região. É fruto de elogios diários.
O Vale – Na sua gestão, o que já foi investido em Portão?
Hoff – [Investimento] vai passar de R$ 100 milhões somente em obras estruturantes, totalmente sem nenhum financiamento. Eu digo nos quatro anos. Esse ano, para se ter ideia, já mandamos no início de janeiro R$ 17 milhões para a Câmara de Vereadores mostrando onde vamos investir, e nesta semana vamos mandar mais R$ 8 milhões. E vem mais por aí. O problema maior em Portão é ter a equipe para fazer todas as obras que a gente tem previsto. Só para ter uma ideia: tinha três pessoas no planejamento e hoje tem nove pessoas trabalhando, fora os terceirizados que trabalham conosco. Dá quase 15 pessoas que trabalham conosco fazendo projeto, fiscalizando obra e acompanhando as obras. Fazer obra não se dá apenas quando você faz o anúncio, mas quando tu entrega ela pronta. E entregar uma obra pronta, bem feita e sem risco nenhum de desvios, com acompanhamento técnico e fazendo o que foi programado no projeto tem que fiscalizar, tem que acompanhar, tem que estar presente nas obras. E isso precisa de gente. Portão multiplicou por cinco vezes o pessoal que tinha e a quantidade de obras comparado com qualquer administração é cinco vezes maior.
O Vale – Quais os desafios nos próximos anos?
Hoff – Estamos finalizando nosso novo projeto de mobilidade urbana, programando a cidade no mínimo para daqui a dez anos, mas já tendo uma visão para os próximos 50 anos, para onde nós queremos ir. Assinamos também um projeto com o Senac de cidade empreendedora, preparando Portão como cidade inteligente e pretendemos trazer várias inovações tecnológicas e que facilite a vida do nosso cidadão sem custo, sem cobrar imposto para isso.