O inquérito deve ser encaminhado à Justiça até esta quinta-feira,30.
A investigação da Polícia Civil sobre um assassinato dentro de uma empresa em São Leopoldo concluiu que o motivo do crime foi mesmo uma discussão envolvendo o café. Marcelo Camillo, de 36 anos, foi morto no início deste mês pelo colega Vilson Almeida Telles, de 54, que admitiu o crime, mas alegou que o ocorrido foi um acidente. A vítima foi atingida no peito por uma ferramenta de corte usada no trabalho. O inquérito deve ser encaminhado à Justiça até esta quinta-feira,30.
Segundo o delegado André Serrão, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o autor confesso será indiciado pelo crime de homicídio doloso duplamente qualificado, por motivo fútil e por meio que impossibilitou a defesa da vítima. “O motivo fútil porque a polícia acredita, dentro dos elementos que se tem, que foi motivado mesmo por conta de uma discussão sobre o café, diante das imagens e dos relatos de testemunhas“, afirma o delegado.
Quando foi ouvido na Polícia Civil, após se apresentar na presença de advogado, Telles admitiu ter matado o colega, mas negou que tenha sido por conta do café. Alegou que a motivação foi uma brincadeira feita entre os dois, que teria desagradado Camillo. Pelo relato do suspeito, a vítima teria partido para cima dele, que se defendeu com a ferramenta. Mas os elementos colhidos durante a investigação apontam para outra linha. Segundo o delegado Serrão, o consumo de café era proibido pela empresa no local de trabalho, como medida de segurança, em razão do risco aos funcionários pela presença de metais pesados no ambiente. Conforme o policial, alguns funcionários tinham o hábito de passar café e, para isso, faziam a divisão dos valores. Telles, embora não fosse supervisor, seria o responsável entre os colegas pela arrecadação do dinheiro e por passar o café.
“A empresa sofreu represálias, em razão da repercussão do caso, mas os funcionários faziam isso por conta deles, um rateio, numa sala à parte. Já que havia essa proibição do consumo de bebidas e alimentos, pelo risco de intoxicação. Ele (Telles) chega às 7h30min, e parte em direção ao Marcelo (Camillo), e começa uma discussão. Isso foi registrado em vídeo. Não dá para saber o que eles falam, mas os gestos indicam que estavam discutindo, que havia uma desavença. Logo em seguida, ele (Telles) vai para a sala passar o café“, descreve Serrão.
Depois de passar o café, Telles teria deixado a sala e visto o momento em que Camillo ingressou no local. Segundo Serrão, as imagens registram o suspeito seguindo o outro. Em depoimento, Telles alegou que nem sabia que o colega estava na sala. Afirmou ainda que, após atingir o colega, pensou que o sangue que estava em sua mão fosse dele mesmo e, por isso, foi ao banheiro se lavar. No mesmo relato, o homem disse que eles tinham boa relação e que costumava pegar carona com a vítima para casa. “Houve alguma discussão entre eles que levou o autor a proibir que o Marcelo consumisse o café. Não ficou claro pelos depoimentos qual foi o motivo, se ele não fez a contribuição mensal com o rateio, por exemplo. O que se suspeita é que tenha deixado de contribuir e tenha consumido. Ele vê o Marcelo indo e vai atrás. Isso desmente a linha dele“, explica o titular da DHPP.
Às 8h34min, dentro da mesma sala, Camillo é atingido no peito com a ferramenta que Telles usava no trabalho. Segundo boletim médico, Camillo foi atingido por duas estocadas, teve três paradas cardíacas, chegou a passar por cirurgia, mas não resistiu. As câmeras também registraram o momento em que ele deixa o local, ferido.
Além de indiciar Telles pelo crime, a polícia pedirá ao Judiciário para converter a prisão temporária, que tinha prazo de 30 dias, em preventiva.
Contraponto
O advogado Cezar Paulo Mossini, responsável pela defesa de Telles, sustenta que o cliente não teve intenção de cometer o crime e que, portanto, não houve homicídio doloso. “Estamos aguardando o delegado encaminhar o inquérito para que possamos conhecer os detalhes da investigação e depois disso fazer uma manifestação mais completa. Mas estamos convictos de que há um excludente de ilicitude. É o máximo que posso dizer agora. O Vilson deixou claro em seu interrogatório que ele não tinha intenção. Passa muito longe de um homicídio doloso“, afirma o advogado.
Foto: Divulgação/PC