Em Novo Hamburgo, há histórias que transcendem o tempo e revelam a essência de uma comunidade. A trajetória de um vendedor ambulante local é uma dessas narrativas repletas de desafios, superações e uma dedicação incansável ao trabalho.
Davi Dorneles de Miranda, natural de São Nicolau, no Noroeste gaúcho, viu sua vida tomar um rumo diferente quando se mudou para Novo Hamburgo em 1976.
Como todo trabalhador que se mudou para o “Vale do Calçado”, ele passou por indústrias locais, mas, após anos em empresas da região, um convite inusitado do seu ex-sogro mudou o curso da sua vida: ele pediu para Davi vender pipoca nos cinemas da cidade, começando no antigo Lumiére, passando pelo Sayonara até chegar no Avenida, na Pedro Adams. Seu ex-sogro e então proprietário da carrocinha, alegando que as pessoas estavam tirando vantagem dele, decidiu entregar o ponto para Davi. “Ele me disse bem assim: eu vou te dar essa carrocinha, porque tu merece. É o único que pegou e abraçou, porque a minha família nunca se interessou assim”, relembra.
Aceitando o desafio, o então genro fez um teste e se destacou: foram 150 sacos de pipoca vendidos por hora no cinema Lumiére.
Em 2002, Miranda recebeu a concessão para vender pipoca e churros no centro da cidade, uma responsabilidade que abraçou com determinação. A dedicação resultou em sucesso, tornando-se uma figura conhecida em Novo Hamburgo. Com quase 37 anos dedicados ao trabalho de pipoqueiro, ele conta com orgulho o tempo que passou na movimentada Avenida Pedro Adams. “Ali eu me enraizei, estava no mesmo lugar até dias atrás. As pessoas me perguntavam o motivo de eu deixar o local. Mas chegou a hora de eu descansar”, avalia.
O ponto de venda localizado na Avenida Pedro Adams, esquina com a Rua Gomes Portinho, não era apenas um espaço para negócios, mas um lugar cheio de histórias. Aos 69 anos, Miranda decidiu voltar à cidade natal. Comprou uma casinha em São Nicolau e pretende criar galinhas e porcos para garantir seu sustento na aposentadoria.
O tradicional pipoqueiro, no entanto, já tem data para voltar a Novo Hamburgo. Mas só por algumas horas. Isso porque, no dia 23 de novembro, ele foi contratado para distribuir pipoca de graça em um evento. “Vou ganhar cachê para distribuir minha pipoca”, confidencia.
Com uma vida marcada por altos e baixos, seu Miranda deixou um legado de perseverança e amor pelo que faz. O trabalho incansável e a determinação são uma verdadeira inspiração para todos que conhecem sua história. E, como ele mesmo destaca, em meio aos desafios, a ajuda mútua é a verdadeira chave para superar as adversidades.