Por DuduNews
26 de maio de 2022. Após mais de 30 anos, um contrato chega ao final. Encerrou hoje o contrato do Hospital Regina com o Governo do Estado, para o serviço de oncologia em Novo Hamburgo. Essa é a data limite para o Regina deixar de atender os pacientes de Novo Hamburgo, que, todos agora, passam a ser atendidos por Taquara. Essa mudança veio acontecendo aos poucos e, há alguns dias, todos os pacientes já estão no município.
A partir disso, precisamos lembrar: são essas, essas pessoas, as mais afetadas neste momento e nesta situação. Gestores públicos precisam e devem ser ouvidos; mas nossa principal atenção precisa ser nos que realmente sofrem na ponta, que passam as dores, e que fazem de tudo para vencer. Vencer. Vencer. Sim, repito 3 vezes essa palavra: eles lutam diariamente pela vida, mesmo com as complexidades que o câncer traz, e não são poucas. A Liga Feminina de Combate ao Câncer de Novo Hamburgo sabe muito bem disso. São 40 anos de uma linda e fantástica atuação.
A seguir, a coluna reproduz o relato de 3 pacientes com com câncer de Novo Hamburgo, e de prefeitos.
- “Minha mãe, Fabiana Moreira Braga, tem câncer de mama. Em março, nos foi dito que seria caso cirurgico, e minha mãe ja saiu da consulta com uma data pra cirurgia: dia 07/04.
No dia 06/04, já estavamos no preparativo pra cirurgia, que seria dia 07: jejum, malinha de roupas… Mas, a surpresa, no dia 07, pela falta de uma consulta pré-operação, a cirurgia foi desmarcada. Minha mãe precisava tirar as duas mamas, e, no Hospital, não haviam próteses para colocar. A operação foi remarcada para o dia 19.
Neste dia 19, fizemos a mesma coisa. Chegamos as 6:30 no hospital, minha mãe entrou no bloco cirúrgico, e fiquei esperando. Neste dia tínhamos certeza que daria certo a cirurgia, por que, no sabado anterior, tivemos uma pré-consulta. Mas, as 16:45, a equipe foi até minha mãe (que estava desde as 7h no soro) e disse que nao conseguirira fazer a cirurgia da minha mãe, e novamente a operação foi desmarcada, pois os horários não batiam. Isso é complicado para ela”.
- A paciente Cleia Dresch também relatou a coluna: sua quimioterapia, de acordo com os parâmetros da antiga referência, precisava ser no dia 5. Mas ficou marcada somente pelo dia 18. E, segundo ela, sua cirurgia precisa ser o mais urgente possível. Mas, pela troca, a complicação é pela troca dos médicos: “No Regina, todos médicos conheciam meu caso. Em Taquara, não. Eles precisam passar a conhecer, e é compreensível”.
- Outro relato também parte de um paciente hamburguense, que elogiou o serviço, os médicos e enfermeiros. “O atendimento em Taquara foi excelente. Os médicos são bons, realmente. Nisso, não tenho o que reclamar”, disse a hamburguense Jessica Barbosa, filha do paciente Ovidio Eli barbosa. “Não temos críticas ao serviço. Ele foi e está sendo positivo. Mas a complexidade de tudo. Para qualquer exame, seja de sangue ou computadorizado, preciso ir para lá. É uma logística dura e difícil”, conta ele.
PREFEITOS
Por outro lado, ouvimos prefeitos do Vale do Sinos sobre o caso. “Por muitos anos vivemos a angústia de não ter um atendimento a contento e de administrar lista de espera de pessoas com câncer, doença que dispensa comentários. A mudança para Taquara não só solucionou isso, como limpou a fila de espera”, relatou o presidente da Amvars Jerri Meneghetthi. “Quando se trata de tentar salvar a vida de uma pessoa diagnosticada com câncer, distância é o de menos”, disse.
É muito importante e compreensível a luta, agora, da prefeita Fátima Daudt, pelo Anexo 2 do Hospital Municipal. A chefe do executivo está plenamente correta quando fala que Novo Hamburgo deve ter uma oncologia 100% SUS. Durante anos, também, a prefeitura aportou recursos dentro da oncologia pública no Regina, por falta de valores. Falta de verbas importantes por parte do governo Federal.
Mas, neste momento, precisamos lembrar que são 2 anos. 2 anos que esses pacientes, esses duros relatos, como estão acima, precisarão enfrentar até Taquara. E a logística para a vida dessas pessoas é difícil.
REUNIÃO PÚBLICA
Na grande reunião pública, na Câmara de Vereadores, como mostramos ontem, os participantes querem ir a Brasília para achar uma solução emergencial para o tratamento do câncer. A solução emergencial: o tratamento na porta de casa nestes 2 anos. No Hospital Regina. Que nossos deputados Issur Koch e Lucas Redecker, e o senador Luís Carlos Heinze, façam. Que não fique só em reuniões e assembleias. Que corram e não se esqueçam disso. Nós, aqui, não esqueceremos.
E, para encerrar: é difícil entender quando se fala que a distância é o menor dos problemas. Que a humanização dessa luta está “muito grande”. Que são poucos relatos para um todo. E desprezar o Regina, neste momento, como algumas autoridades fizeram.
O problema existe: os pacientes sofrem com a distância; os pacientes são humanos; e todos querem o tratamento de qualidade, na porta de sua casa.