A chegada dos alemães, há quase 200 anos, ao Brasil, trouxe consigo muitos hábitos e tradições germânicas para os que aqui moravam. A cuca, por exemplo, é uma das delícias gastronômicas até hoje que saboreamos em nossas mesas. Porém, na coluna que agora escrevo, não versarei sobre culinária, nem sobre festas ou tradições. A hora é de falar de trabalho.
Entre tantas iniciativas desenvolvidas pelo povo germânico, a indústria calçadista merece um destaque singular, afinal, qualquer pesquisa que se faça nos dias atuais denota o ano de 1824 como o marco para a instalação desse processo fabril em nosso País. O capítulo inicial desta história começa com a chegada dos alemães, em São Leopoldo.
Era inegável a habilidade dos imigrantes no artesanato de couro e foi natural passar a produzir em escala industrial seus calçados em meio a outros produtos. Aqui, já tínhamos a produção associada ao couro, para o manuseio dos cavalos e inclusive nas guerras, onde até mesmo canhões eram puxados com tiras de couro, apontam registros da história.
Então, natural que os sapateiros começassem a escrever a história da indústria calçadista no território brasileiro no Rio Grande do Sul. E assim foi nos anos seguintes, com a produção primeiro em escala local e depois nacional servindo de sustento para muitas famílias. Entre muitas crises e momentos de bonança, surge a exportação, fazendo o segmento mudar de patamar, tornando o
Vale do Sapateiro um oásis em um país de crises econômicas.
Os gáuchos sempre tiveram o protagonismo, embora em vários momentos o centro do país, a partir do seu poderio econômico e político, reivindicasse a força maior de uma indústria que emprega centenas de milhares em sua cadeia produtiva. Perdemos força, é inegável, mas os novos empreendedores do ramo do calçado, entre idas e vindas, souberam manter a história de dois séculos e de seus próprios antepassados, retomando a força de negócios gerados em solo gaúcho. Neste contexto, impossível não citar Frederico Pletsch, o Fredão, que com suas feiras na serra gaúcha reescreveu a história que os alemães começaram aqui em 1824. Voltamos a ter, na terra onde os “Schuster” chegaram há 200 anos, a força do negócio calçadista, alavancando ainda mais as indústrias locais.
Forjado no trabalho de muitos, na criatividade e coragem de outros tantos, seguimos honrando aquele que começaram a indústria do calçado no Brasil, há 200 anos e, tomara, nos próximos 200. Viva o calçado!