Numa cidade pequena do interior, um barbeiro fez uma placa e a colocou em frente ao seu estabelecimento: “Aqui a melhor barba do mundo”! Outro barbeiro, na mesma rua, ameaçado pelo concorrente, colocou sua placa: “Aqui a melhor barba dessa rua”!
Quando pensamos em cidades do futuro, a tecnologia, automação e diminuição de poluentes logo vêm à cabeça. Falar de cidades como Tóquio, Singapura, Pequim e Londres seria redundante e desviaria a atenção da realidade da nossa rua.
Eu acredito que antes desses modernismos, o futuro reside no cuidado com as pessoas. Antes de pensar em tecnologia, temos que humanizar Novo Hamburgo. Precisamos superar a obsessão por grandeza e reconhecer nossa realidade, distante dos padrões do primeiro mundo.
Lembrava-me dos barbeiros durante minha caminhada diária: como pensar numa cidade do futuro se moramos numa Novo Hamburgo do passado e decadente. Uma cidade que arrecada mais de 1,3 bilhões de reais por ano e ainda assim perde habitantes e empresas. Que perdeu 10 mil habitantes em 10 anos. Que perde empresas todos os dias. Que não colocou um enfeite de Natal nas suas ruas!
Caminhei pela praça da igreja católica em Hamburgo Velho: abandonada. Caminhei na praça “20” no Centro: abandonada. Passei por uma praça ao pé do “Morro dos Papagaios”: abandonada. Atravessei a praça do Chafariz (que aliás deveria estar lá), suja e mal cuidada. Todas elas tinham em comum mendigos, drogados, moradores de rua com as suas bugigangas.
Então, antes de falar do mundo, temos que olhar para o nosso próprio umbigo e pensar: onde erramos? Novo Hamburgo, de uma cidade limpa, bonita e progressista que nos orgulhava, passou a ser essa vergonha que temos aí: gente dormindo ao relento, pedintes em cada esquina, ruas esburacadas, calçadas sujas e descuidadas. De uma cidade industrial, passou a ser uma cidade amorfa, sem definição do que se propõe. Que não consegue resolver um simples problema de enchentes de um arroio. Que não consegue administrar uma casa de bombas.
Sinto inveja ao olhar as cidades vizinhas: limpas, floridas, empregando, investindo em educação e cuidando da sua população. Todos com orgulho das suas cidades. Está na hora de esquecer o futuro e pensar no que podemos fazer para Novo Hamburgo voltar ao seu passado.
Beto Ody presidente e fundador da Rádio Alegria