Em programa especial gravado na Casa Cooperativa, o Estação Hamburgo destaca a história e o impacto do cooperativismo que se espalha pelo país, promovendo desenvolvimento, solidariedade e educação.
No coração da Linha Imperial, em Nova Petrópolis, está um dos lugares mais simbólicos da história econômica e social do Brasil: o berço do cooperativismo de crédito. Foi dali que, em 1902, nasceu a Caixa Rural de Nova Petrópolis (a Sparkasse Amstad), hoje Sicredi Pioneira, primeira cooperativa de crédito do país e origem de um movimento que transformou comunidades inteiras.
Em um programa especial exibido no dia 14 de outubro de 2025, o Estação Hamburgo, da Vale TV, apresentou uma edição gravada diretamente da Casa Cooperativa de Nova Petrópolis — espaço histórico dedicado à preservação e à difusão dos valores cooperativos. O apresentador Rodrigo Steffen recebeu Paulo Soares, diretor da Casa Cooperativa, para uma conversa marcada por história, emoção e futuro.
O episódio foi transmitido na semana internacional do cooperativismo de crédito, que coincide com o Dia Internacional das Cooperativas de Crédito (celebrado sempre na terceira quinta-feira de outubro), e no Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela ONU em 2025 — o segundo da história, após o de 2012.
Berço do cooperativismo: onde tudo começou
O cenário não poderia ser mais simbólico. A gravação ocorreu no antigo prédio da Caixa Rural, atual sede da Casa Cooperativa, localizada ao lado da Igreja São Lourenço Mártir e do túmulo do Padre Theodor Amstad, jesuíta suíço que liderou o movimento cooperativo no Brasil e é reconhecido oficialmente como o patrono nacional do cooperativismo.
“Este é um lugar sagrado. Aqui nasceu o movimento que hoje transforma a vida de milhões de brasileiros. A Casa Cooperativa foi criada para preservar essa história, proteger os marcos e, principalmente, compartilhar os valores que fizeram do cooperativismo um modelo de desenvolvimento humano e solidário”, explicou Paulo Soares.
Fundada em 15 de julho de 2011, a Casa Cooperativa completa 15 anos em 2026. O prédio, tombado como patrimônio histórico, passou por restauração e hoje abriga salas interativas, espaços de memória e de formação, que receberam mais de 20 mil visitantes nos últimos três anos — de estudantes a pesquisadores, de turistas a lideranças empresariais.
Padre Amstad: o visionário que uniu fé, educação e economia
Em 2025, completam-se 140 anos da chegada do Padre Theodor Amstad ao Brasil, em 1º de setembro de 1885. Nascido na Suíça, o sacerdote jesuíta veio inicialmente para atuar em missões religiosas, mas acabou revolucionando a organização social dos imigrantes alemães do interior gaúcho.
“O Padre Amstad tinha uma visão à frente do seu tempo. Ele acreditava que o desenvolvimento social começava pela educação e pela união das pessoas”, destacou Soares.
Antes de fundar a cooperativa de crédito, o padre criou a Leseverein (associação de leitura), para ensinar os colonos a ler e escrever; depois o Sindicato Agrícola, que unia produtores locais; e por fim, em 1902, a Caixa Rural, garantindo autonomia financeira à comunidade. Foi ainda o criador de diversas iniciativas como escolas, asilos, hospitais, leprosário, agência de empregos (durante o período da Primeira Guerra Mundial), entre outras.
“Foi um roteiro de quatro etapas: educação, organização, crédito e solidariedade. Ele formou um povo culto, unido e com liberdade financeira. A partir disso, nasceu o movimento cooperativista”, resumiu Soares.
O sacerdote também foi responsável por um gesto histórico: uniu católicos e luteranos na fundação da cooperativa — um ato ecumênico inédito no Brasil do século XIX.
A Casa Cooperativa e sua missão de preservar e inovar
Inspirada no modelo da Casa Cooperativa de Sunchales, na Argentina, a unidade de Nova Petrópolis surgiu para ser um elo entre o passado e o futuro.
“No início, nosso papel era apenas preservar a memória. Hoje, somos um centro nacional de difusão da cultura cooperativa. Recebemos cooperativas de todos os ramos, de crédito, agro, educação, saúde, transporte, e promovemos a intercooperação entre elas”, explicou Soares.
A Casa Cooperativa reúne atualmente 71 cooperativas associadas, incluindo cooperativas de crédito, agroindústria, educação e mobilidade urbana. A mais recente é a Coeducars, do setor educacional, associada em outubro de 2025.
“O cooperativismo não é só um modelo de negócio. É uma causa, uma forma de ver o mundo. Acreditamos que juntos podemos transformar a sociedade, e os números mostram que isso é real”, afirmou.
Legado Coop: o evento que mobilizou a comunidade
Entre os grandes marcos recentes, o Legado Coop, realizado em maio de 2025, foi lembrado como um exemplo da força comunitária. O evento reuniu mais de mil pessoas e 210 voluntários da Linha Imperial, em uma celebração internacional ao cooperativismo, com palestras, painéis e apresentações culturais.
“Queríamos mostrar que o cooperativismo é feito de pessoas. A comunidade se envolveu de forma espontânea e genuína. O sucesso do evento não foi o tamanho do público, mas o brilho no olhar dos voluntários. Era orgulho, pertencimento, amor pela história”, contou Soares emocionado.
O evento já tem nova edição confirmada para 2027 e se tornou um símbolo de como a comunidade local vive o cooperativismo no dia a dia, mesmo sem nomeá-lo assim.
“Aqui a gente não fala de cooperativismo — a gente vive o cooperativismo”, cita Soares, lembrando a frase da associada e descentente de um dos fundadores da Sicredi Bárbara Neumann Hillebrand.
Reconhecimento internacional e patrimônio imaterial
A relevância do movimento cooperativo é reconhecida em todo o mundo. Em 2016, a UNESCO declarou os princípios cooperativos — baseados em solidariedade, gestão democrática, autonomia e responsabilidade — como patrimônio imaterial da humanidade.
“Nenhum outro modelo de negócio tem esse reconhecimento. O cooperativismo é o único considerado essencial para o equilíbrio social e econômico global”, destacou Soares.
Em 2025, a ONU voltou a instituir o Ano Internacional das Cooperativas, reforçando o papel dessas instituições na promoção do desenvolvimento sustentável.
“O cooperativismo está em tudo: na escola, no campo, na empresa, na vida comunitária. É o exemplo de que prosperidade e solidariedade podem andar juntas”, completou Rodrigo Steffen.
De Nova Petrópolis para o mundo
O Roteiro do Cooperativismo, criado em 2012, transforma Nova Petrópolis em um museu a céu aberto. O trajeto inclui o Memorial Padre Amstad, o Parque do Imigrante, o Moinho Hillebrand, a Praça Padre Theodor Amstad e outros espaços históricos que contam a trajetória do movimento.
“Todo o roteiro é uma aula de história viva. Milhares de pessoas percorrem esse caminho todos os anos, e cada visitante leva um pouco do espírito cooperativista para sua comunidade”, explicou Soares.
A Casa Cooperativa também recebe grupos escolares, universitários e estrangeiros — só na semana anterior, passaram por ali representantes de 16 países diferentes, incluindo Itália, Espanha, México e Dinamarca.
“Eles chegam curiosos e saem encantados. Descobrem que o cooperativismo brasileiro nasceu pequeno, mas se tornou uma força global”, contou o diretor.
Patrimônio vivo do Rio Grande do Sul
Para Paulo Soares, o maior desafio é equilibrar a preservação histórica com a inovação. “A Casa Cooperativa quer contar o passado com linguagem do presente e olhar para o futuro. Aqui, o Padre Amstad virou personagem, ganhou forma em silicone, foi desenhado em cartuns e até aparece nas redes sociais. Isso é sinal de vitalidade”, explicou.
A entidade também promove eventos anuais como o Amstad Day — celebrado em 9 de novembro, data de nascimento do padre — com encenações, acendimento das luzes de Natal e homenagens à comunidade.
“Não é um culto ao passado, é um convite à continuidade. O cooperativismo é feito de gente, e a nossa missão é manter essa chama acesa”, disse.
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O futuro da cooperação
Encerrando o programa, Rodrigo Steffen destacou que o cooperativismo é um exemplo de união entre propósito, prosperidade e humanidade — valores que também inspiram o trabalho da Vale TV.
“O que nasceu em Nova Petrópolis mudou o Brasil. Aqui, mais do que história, a gente encontra sentido. E isso é o que move o Vale do Sinos: a cooperação como forma de construir um futuro melhor”, concluiu o apresentador.
O Estação Hamburgo é um programa exclusivo da Vale TV. Exibido ao vivo, de segunda a sexta-feira, das 20h às 21h, o programa reúne convidados em uma bancada de debates que analisa temas de interesse público. Desde 2015, o Estação Hamburgo se consolidou como um espaço plural e democrático, voltado à comunidade, com pautas que abrangem política, cultura, sociedade e as principais questões da região.
O Estação Hamburgo tem o patrocínio de Calçados Beira Rio 50 anos, Construtora Concisa, Exatus Contabilidade, Merkator Feiras e Eventos e Coworking 360.
Debate realizado no dia 14 de outubro de 2025, no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen, na Vale TV.