O que dizer das semanas que vivemos entre maio e junho de 2024, em nosso estado do Rio Grande do Sul? O que dizer dos dias e noites sem fim que os gaúchos estão vivendo ora rezando para o fim das chuvas, ora implorando a baixa das águas, ora procurando compreender como reconstruir mais que casas, vias e rodovias, vidas e memórias? Como explicar o que todos estamos sentindo.
Jornal O Vale destaca a solidariedade de voluntários e entidades em meio às enchentes
Se o estado é de choque para cada morador de nosso Estado, atingido direta ou indiretamente com tamanha tragédia que vivemos, imaginemos o drama para os moradores do Vale do Rio dos Sinos, atingidos sem piedade por aquele que, há 200 anos, trazia os alemães para essa região do planeta.
No ano de tantas celebrações, tantas festas, tantas expectativas, quando 200 anos se completavam da chegada germânica em solo gaúcho, o mesmo rio que fez crescer, causou a destruição. Como explicar? Claro que, pensando friamente, devemos eximir de culpa o rio, afinal suas águas seguem o mesmo fluxo de dois séculos atrás.
A natureza está em seu lugar, cabe a nós, homens e mulheres sabermos como cuidar dela, no que temos errado demais. Há cerca de duas décadas, realizei, junto com um dos maiores defensores do Rio dos Sinos, o eterno Arnaldo Prieto, pelo menos três mutirões de limpeza do rio: que sofrimento, que dor. Retirávamos, em diversas embarcações, mais de uma tonelada de lixo, em cada ação.
De capacetes a colchões; de garrafas a teclados do computadores; de latas de óleo de soja a restos de animais. Tudo no rio, tudo boiando. Uma hora, a conta vem. E pode vir com força, associada a falta de prevenção pública, em todas as instâncias.
Mas o quão emblemático é o Rio dos Sinos causar tanta dor, justamente em 2024, precisa
ser compreendido. Talvez, num devaneio metafórico, buscando razões onde não exista, me cabe dizer que devemos mais uma vez buscar a inspiração germânica, como há 200 anos.
Em 1824, eles chegaram aqui numa terra inóspita, com mato, animais, diante de desafios únicos e, para muitos, inimagináveis. Desbravar picadas, montanhas, serras era o desafio diário de jovens, idosos, homens, mulheres, crianças… E o desafio foi vencido, transformando o sul do Brasil numa região próspera e desenvolvimentista. Passados 200 anos, não resta outro caminho que a inspiração dos alemães: ao invés de construir, o desafio de jovens, idosos, homens, mulheres e crianças será de reconstruir.
Parece impossível conseguir, como há 200 anos, mas eles conseguiram. Cabe a nós conseguir também, talvez sem saber como, tamanha a destruição. Mas haveremos de conseguir, pois não pode ser acaso, a simbologia dos 200 anos da chegada dos briosos e corajosos alemães.
Vamos conseguir! Em memória deles. Em homenagem, uma verdadeira homenagem, aos 200 anos da chegada germânica no Brasil.