Meu pai se chamava Edwino Klein. Tinha o costume de trabalhar muito, era carpinteiro. Muitas vezes saía de casa na segunda-feira e voltava somente na sexta. Mas antes de sair, deixava as tarefas para cada filho: ajudar a mãe, fazer lenha, limpar o pátio, cuidar dos poucos bichos que tínhamos… E o mais interessante: tínhamos que estudar o Pai Nosso em alemão e em português. No seu regresso, tínhamos que saber de cor. Quando a sexta-feira chegava, íamos todos para frente de casa, na estrada de chão batido, para esperá-lo. Às vezes demorava uma eternidade aqueles minutos. E lá vinha ele com suas ferramentas em um carrinho de mão. Nós corríamos em sua direção e ajudávamos a guardar tudo no paiol. Enquanto o pai ia tomar banho, nós sentávamos em volta da caixa de lenha e esperávamos ele chegar para sentar junto. A mãe fazia a janta, que era um pão com chimia. Toda família junta e a primeira coisa que o pai perguntava… Adivinhem? Que cada filho rezasse em português e alemão o Pai Nosso que havíamos ensaiado durante a semana. Como éramos em nove irmãos e, após muita reza, ele começava a contar as histórias que teria vivido durante a semana que esteve ausente, dos lugares que havia passado e que nós nunca imaginávamos que pudessem existir. Só conhecíamos a nossa vila, nossa igreja, nossa escola e nosso pátio. Escutávamos atentamente. O final de semana era diferente do que durante a semana, com o pai e a mãe juntos com todos os filhos, éramos uma família. Mas também entendíamos que a ausência dele era importante e necessária para todos nós. Juntos, o pai e a mãe nos ensinaram que a família é tudo, que temos que ser unidos e compreender que os desafios são eternos e, não importa a época que vivemos, a família sempre será nosso pilar. Valores e respeito são eternos. Minha mãe, Cecília Leopoldina Klein, acordava cedo, trabalhava das 5h da manhã até o último filho ir dormir, ou seja, quase meia noite. Ela se preocupava com o café, almoço e janta de toda família, além de lavar no tanque as fraldas que eram de pano. Se preocupava com a saúde dos filhos pois naquela época se tinha de tudo, desde a barriga de vermes ao piolho na cabeça. Mas ela estava sempre pronta para ajudar. Escrevo hoje um pouco da minha família e da minha infância. Tenho certeza que em muitas casas, em muitas famílias não era diferente.