Para mim, a cidade de São Leopoldo é uma cidade especial, com muita cultura, muita história, “um rio que imita o Reno”, um polo de desenvolvimento industrial, importantes universidades, mas também é um lugar onde casas e paredes falam, trazendo lindas recordações.
Uma das coisas que mais gosto é andar pelas ruas centrais de minha cidade e, como num passe de mágica, minha mente e meus olhos retrocedem 70, 75 anos e me vejo menina, entrando pelos portões de ferro e jardins das casas de minhas amigas para brincar. Quando a miragem desaparece, vejo que nesses lugares hoje estão grandes prédios e comércios consagrados.
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Mas a lei de preservação de prédios de interesse do município trouxe a certeza de que alguns estarão preservados para o futuro. Tenho muitos lugares que me são caros em São Leopoldo e que me trazem lembranças significativas. O colégio Visconde, onde fiz o curso primário, com suas inesquecíveis professoras.
O colégio São José, onde fiz o 2° grau e me formei em piano e fiz amizades que perduram até hoje. O maravilhoso prédio da faculdade de filosofia e letras, embrião da Unisinos, onde me formei em letras e prometi que escreveria um livro…. Mas a vida nos prega muitas peças, e nem sempre conseguimos cumprir todas as nossas promessas.
Mas é a Sociedade Orpheu, por todo significado que ela representou e ainda representa para mim, nestas mais de oito décadas de minha existência, que eu considero o prédio que me traz as maiores recordações em São Leopoldo. Já de pequena, eu ia aos bailes de carnaval infantil, aos 15 anos conheci meu futuro marido, na boate da Sociedade Orpheu.
Naquela época os clubes eram frequentados pela vida da cidade, eram espaços compartilhados tanto para grandes encontros com políticos, reuniões de clubes de serviço, comemorações de festas de 15 anos, de casamentos e de grandes jantares de empresas, como convenções de indústria e do comércio, como de instituições como Rotary e Lyons, além de bailes de debutantes, de carnaval e mesmo da imigração, que deixaram muitas saudades.
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A beleza e a magia que o Orpheu despertava em mim, era indescritível. A decoração, os grandes sofás, a parede de espelhos do hall dos banheiros femininos onde nos olhávamos e nos achávamos lindas, o aconchego dos tapetes, as luminárias e a escadaria, onde descíamos os degraus com nossos vestidos esvoaçantes, tendo a certeza que estávamos no Olimpo.
A primeira taça de espumante da vida! A primeira valsa dançada com meu pai no baile de debutante! A primeira valsa com o namorado e futuro marido! Todas nós, lindas debutantes, felizes e radiantes em nossos vestidos brancos, sem imaginar, em nenhum segundo, nenhuma nuvem que pudesse quebrar esse encanto, que parecia eterno para as nossas vidas.
Mas as nuvens negras aparecem. E, neste ano de 2024, fomos surpreendidos por esta grande catástrofe da enchente que afetou grande parte da vida de nossos irmãos leopoldenses, frustrou as programações festivas e os sonhos de nossa cidade, nas comemorações dos 200 anos da Imigração Alemã.
Mas, mesmo assim, a criatividade e a resiliência dos leopoldenses têm nos oportunizado lindos encontros de congraçamentos, como o excelente café colonial, com apresentações culturais e baile, realizado no dia 20 de julho, nos salões da sociedade Orpheu!