O peso da carga tributária e os altos e baixos na cotação do dólar são dor de cabeça para os calçadistas
A moeda americana continua em grande variação. Por volta das 15 horas desta quarta-feira, o dólar era cotado a R$ 1,985 (depois de cair nos últimos dias a quase R$ 1,80 e pular a R$ 2,10). Esse sobe e desce atinge em cheio às exportações calçadistas de Novo Hamburgo e do Estado.
Porém, para o diretor executivo da Abicalçados, Heitor Klein, o que mais afeta hoje as exportações brasileiras de calçados não é exatamente o valor da cotação do dólar, mas a instabilidade cambial – isso porque os pedidos são fechados a determinado valor e, até o pagamento, este valor pode mudar quando convertido em reais.
O dirigente confirmou que outubro é o mês chave para o setor. Ele argumenta que geralmente este é um dos melhores momentos para a exportação, em função da entrega de pedidos que são realizados em março e abril.
Klein diz ser necessário sempre lembrar que as entregas acontecem a cada seis meses, alternando as temporadas. Em outubro, serão entregues os pedidos novos, e nos meses seguintes acontecem a reordens (renovação dos pedidos). O mesmo vai acontecer em janeiro, quando serão entregues as encomendas feitas em setembro. Ele lembra que há também a participação nas feiras internacionais, as quais vêm nos últimos anos ampliando a presença do Brasil no exterior.
A maior parte dessas feiras ocorre na Europa, em março e setembro. O Brasil, aliás, está com a presença garantida através do Brazilian Footwear – o Programa de Promoção de Exportações de Calçados, desenvolvido pela Abicalçados, em Parceria com a Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos).
Através desse programa, uma série de empresas tem sua participação viabilizada para mostrar no exterior o melhor da produção brasileira. O diferencial é que esses produtos têm enfoque em marcas próprias e design genuinamente brasileiro.
Perspectivas não são as melhores
Heitor Klein falou ainda sobre as suas expectativas quanto ao volume de exportações para outubro, mas afirmou que não há como traçar alguma perspectiva em termos de valores nem de pares, ainda.
De qualquer forma, lembra, os embarques vêm em queda desde o início do ano. A queda é referente ao número de pares. De janeiro a julho deste ano, o volume embarcado caiu 4% em relação ao mesmo período do ano passado (foram 103,9 milhões de pares, este ano, contra 108 milhões de pares nos sete primeiros meses de 2006).
Por outro lado, mesmo com queda no volume, o faturamento subiu 2% (foi US$ 1,117 bilhão este ano contra US$ 1 bilhão no ano passado), em função do preço médio do calçado, que subiu 6% (de US$ 10,14 para US$ 10,76).
Heitor Klein adianta que a expectativa em termos de valores para o mês de outubro é positiva, até mesmo pelo número recorde de brasileiros que estarão nas feiras européias este ano. Somente os expositores da Micam quadruplicaram a participação nas últimas feiras (serão mais de 30 marcas na feira italiana, que ocorre em Milão de 20 a 23 de setembro).
Não existe cotação ideal
Segundo Klein, a Abicalçados não vislumbra uma cotação ideal de dólar para os próximos dias, até porque isso varia muito conforme a necessidade de cada empresa. Cada uma tem uma taxa ideal. O que a Abicalçados vem solicitando ao Governo Federal não é a cotação ideal, mas medidas que devolvam a competitividade das empresas, como a desoneração delas.
Com a mudança no sistema de tributação da PIS/Cofins, por exemplo, que ocorreu em 2004, o custo de produção do calçado subiu em 4%. Klein acredita que a oscilação cambial é um dos fatores que cria entrave às exportações, e que é preciso um conjunto de ações por parte do governo, principalmente em relação à matriz tributária, para devolver a competitividade às empresas, mesmo para vender no mercado interno.
Na verdade, diz o empresário, há cerca de três ou quatro anos, o setor tinha diversos fatores que influenciavam na produção e exportação em patamares altos (custos trabalhistas, custos tributários, juros altos e dólar). Mas com a desvalorização do dólar, os outros fatores permaneceram altos e as empresas calçadistas perderam a competitividade. Assim, com a constante oscilação, os empresários estão pleiteando junto ao Governo Federal que diminua os outros encargos e suba um pouco o dólar.
A perspectiva é que a moeda norte-americana tenha alta, em função da crise imobiliária dos últimos dias. Como o americano é muito conservador, pensa Klein, a crise deve ocasionar a diminuição do consumo e o aumento da poupança.
Além disto, diz, os investimentos estrangeiros no Brasil, causados pela especulação em cima das nossas taxas de juros, também tendem a diminuir. Isso certamente vai refletir na cotação, mas não é possível precisar quando isso vai acontecer. “A previsão é de que suba pouco, mas isso é bom, porque uma subida brusca poderia desestabilizar ainda mais o setor”, acredita Klein.
