É em um chalé de madeira que Alzemiro Raymundo da Silva, de 76 anos, passa boa parte dos seus dias nos últimos 2 anos.
Com câncer de próstata diagnosticado em Janeiro de 2020, o hamburguense, morador do bairro Jardim Mauá há mais de 50 anos, luta pela vida diariamente. “Minha barriga começou a inchar, fizemos exames e veio o diagnóstico”, conta o hamburguense.
O seu caso pode ser literalmente chamado de “descaso”: o “vô”, como é conhecido na comunidade, aguarda há quase 3 anos por uma cirurgia da retirada do câncer e raspagem do órgão.
A reportagem o visitou. Simples, humilde, mostrando a face da dor, mas nunca sem tirar um sorriso do rosto, ele nos recebeu com um café. É o que lhe dá alegria, nos últimos meses: estar na cozinha é um método de passar o tempo. “É o que me dá alegria”, conta ele.
Sem a cirurgia e com uma papelada de exames, ele vive com uma sonda, que lhe tira a possibilidade de fazer passa-tempos normais, do dia a dia. “A sonda fica presa na bexiga. Qualquer movimento que faço, dói”, diz, tentando relatar um pouco das fortes dores que sente.
Naquela casa simples, com apenas dois cômodos, ele guarda os exames que trazem o diagnóstico da doença. “Tenho vários guardados, só esperando e torcendo pela hora certa”, afirma.
LUTO
Alzemiro vive com uma outra dor: a perda da esposa e de um neto emprestado, nos últimos 3 anos. “Perdi primeiro meu neto. Teve um mal-súbito tomando banho aqui (aponta para o banheiro da casa)”, conta. Sua esposa faleceu pouco depois da descoberta do câncer. “Ela era tudo para mim. A vida perdeu um pouco o sentido”, comenta.
DOR
Desculpe, mas o repórter, aqui, também precisa relatar: chorei na hora que seu Alzemiro relatou a reportagem: “”Eu acho que isso aqui é uma desgraça para mim. Me dá vontade de parar tudo. Perdi minha esposa neste meio tempo, e é duro demais ficar sem ninguém e ainda assim. Não consigo e não posso fazer nada”, conta.
Ele conta que o enteado e filho da falecida esposa já ligou várias vezes a prefeitura, pedindo esclarecimentos. “Eles dizem que demora, que não tem disponibilidade”, diz.
CONTRAPONTO
A prefeitura de Novo Hamburgo enviou nota á reportagem. “O sistema de regulação do Estado incluiu o paciente em uma consulta urológica em um hospital de Porto Alegre. O hospital deve entrar em contato com o paciente para agendar a consulta. A Secretaria Municipal de Saúde de Novo Hamburgo questiona se o paciente anexou toda a documentação, como exames, que atesta o câncer de próstata e seu estágio no seu processo junto ao SUS.”