Debate no programa Estação Hamburgo valoriza a SIEHU e reúne educadoras, escritora e jovem estudante para valorizar a história, o conhecimento e o orgulho de viver, produzir e permanecer no meio rural de Ivoti.
Na noite de 9 de julho, o programa Estação Hamburgo, da Vale TV, levou ao ar um encontro emocionante entre gerações, saberes e experiências que constroem o presente e projetam o futuro do interior de Ivoti, cidade referência em educação, história, eventos e valorização da cultura regional.
Com mediação de Rodrigo Steffen, a bancada contou com a participação da jovem estudante Amanda Thomas Baier, da diretora escolar Carine Vanderléa Dörr, da escritora Leani Veiga Kopp e da artista visual e educadora Andréa Schneck, todas ligadas de forma direta ao território, à educação rural e aos projetos culturais que vêm transformando a cidade.
O programa deu destaque ao trabalho da Sociedade Ivotiense de Estudos Humanísticos (SIEHEU) e aos projetos desenvolvidos por escolas rurais, especialmente na comunidade de Nova Vila, Picada Feijão e 48 Alta, onde três escolas municipais mantêm viva a cultura e o conhecimento rural por meio de vivências, cooperativas escolares e ações de pertencimento.
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Uma escola que ensina com os pés na terra
Diretora da Escola Municipal Neuda Julieta Schnek, Carine Dörr explicou que a educação rural em Ivoti se organiza em um ciclo comunitário, no qual os alunos percorrem diferentes etapas em escolas próximas de suas propriedades. A vivência prática na roça, nas pequenas criações e cultivos, é aliada ao currículo formal, promovendo o reconhecimento do valor da terra, da produção local e da vida no campo.
O exemplo dessa formação é Amanda, 15 anos, que estuda no curso técnico em agropecuária do Instituto Ivoti e já trabalha com a família em sua propriedade rural. “Desde pequena estou envolvida com a produção. Ajudava meu avô a alimentar os animais, colher ovos, plantar. Hoje, plantamos hortaliças, pimentas e pitaia, e vendemos para a comunidade”, contou a jovem.
Amanda falou com orgulho da opção por permanecer no campo e de como a criação do curso técnico dentro da própria cidade foi um marco importante: “Antes, o mais próximo era em Nova Petrópolis. Agora posso estudar agropecuária aqui mesmo, e com colegas de vários municípios, inclusive de outros países, como uma colega paraguaia”.
CEU: literatura, educação e pertencimento
Leani Veiga Kopp é escritora e integrante da Sociedade Ivotiense de Estudos Humanísticos (SIEHU). Junto com Andréa Schneck, responsável pelas ilustrações dos livros publicados pela entidade, Leani coordena uma série de obras que buscam registrar a história da cidade, da colonização, das famílias e da vida rural de Ivoti.
Desde 2013, a SIEHU lançou cinco livros e está prestes a lançar o sexto, com foco em propriedades rurais do passado e do presente. Em todos os volumes, a produção é acompanhada por ações educativas em sala de aula, com distribuição gratuita de livros para cerca de 500 alunos da rede municipal. “A ideia é despertar o pertencimento. Só se ama aquilo que se conhece”, afirmou Andréa.
Além de textos rigorosamente pesquisados, com base em registros históricos e memórias locais, os livros são ricamente ilustrados e dialogam com temas como a imigração, a preservação ambiental, os saberes populares e os valores da vida em comunidade.
Leani também emocionou a bancada ao contar sobre um livro infantil criado em parceria com sua neta, cuja renda está sendo revertida para o tratamento do neto Murilo, que necessita de cuidados especiais. A história da família, mais uma vez, se entrelaça com a história da cidade.
Rural e urbano: um diálogo necessário
Durante o debate, Carine destacou ainda a importância do turismo pedagógico promovido pelas escolas rurais. Todos os alunos do terceiro ano das escolas urbanas de Ivoti são convidados a passar um dia no campo, conhecendo propriedades, modos de vida, cultivo e produção. “As crianças da cidade veem de onde vêm o leite, os ovos, as frutas. E os alunos da zona rural percebem o valor do que têm. O orgulho nasce disso”, afirmou.
A cooperativa escolar, formada pelos próprios estudantes, é responsável por conduzir essas visitas. “É uma formação cidadã. Eles apresentam as propriedades, falam com desenvoltura, mostram que o campo também é um lugar de saber e de futuro”, destacou a diretora.
Arte, história e verdade
Outro ponto forte do trabalho da SIEHU é o projeto O Pulsar do Legado Histórico de Ivoti, que reúne 42 banners com pinturas de Maurício Weber, artista que registrou o patrimônio arquitetônico de Ivoti e cuja obra está sendo levada às escolas, ao Instituto Ivoti e a diferentes espaços da cidade. A exposição, aberta ao público, também será itinerante e chegará às comunidades rurais.
Com apoio de editais da Lei Aldir Blanc, do Fundo Social da Sicredi Pioneira e de diversas instituições locais, a SIEHU promove um diálogo contínuo entre arte, literatura, educação e identidade cultural. Entre os livros já lançados, estão temas como as casas centenárias de enxaimel, a colônia japonesa, a Revolução Farroupilha e a imperatriz Leopoldina.
“Não queremos só lançar livros. Queremos acordar a cidade para a sua história”, resumiu Andréa. E a missão vem sendo cumprida com maestria.
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O futuro plantado com raízes profundas
Ao final do programa, Rodrigo Steffen resumiu com carinho a importância daquele encontro: “Enquanto uns sonham em sair do interior, há outros — como a Amanda — que sonham em ficar, cuidar da terra e perpetuar o legado de sua família. Isso também é progresso.”
Em meio à correria das grandes cidades, Ivoti mostra que futuro e tradição caminham juntos, e que há muito o que aprender — e valorizar — com o que nasce da terra e floresce na comunidade.
Debate realizado no dia 9 de julho de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.