Medida anunciada por Donald Trump afeta setores estratégicos, abala relações comerciais e gera reação no Brasil.
Na tarde desta quarta-feira (9), o presidente Estadunidense, Donald Trump, anunciou a taxação de 50% de todos os produtos importados para o Brasil, com previsão de início para 1°de Agosto. As tarifas são as mais altas entre os países alvos dos Estados Unidos, em que grande parte fazem parte ou são aliados da aliança global BRICS.
Decisão política e ideológica
Segundo especialistas, a taxação por parte dos Estados Unidos é de cunho ideológico e político contra o Brasil, a fim de ter um aliado mais forte nos próximos anos. Na carta lançada na última segunda-feira (7), Donald Trump cita o modo “arbitrário” com que o judiciário brasileiro trata o caso do ex-presidente, Jair Bolsonaro. “Não seria a primeira vez que os Estados Unidos usam a política tarifária para fins políticos”, disse o economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel.
Carta do presidente Donald Trump ao presidente Lula que cita arbitrariedades no judiciário brasileiro e o ex presidente Bolsonar
Tarifas dos EUA devem derrubar preços e afetar setores estratégicos
A Agência Brasil emitiu uma nota, relatando preocupação com as tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos. “Do total das exportações do Brasil, cerca de 15% vão para os Estados Unidos. Mas é importante destacar que é sobretudo produto manufaturado e semimanufaturado. Se isso se mantiver, nós vamos ter desemprego no Brasil, vamos ter uma diminuição da entrada de dólares no país e isso é muito grave”, aponta o professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto Nacional dos EUA (INEU).
Na nota, a Agência Brasil, também aponta chantagem por parte do presidente americano, “O que o Donald Trump está fazendo é tentar bloquear o comércio Brasil e Estados Unidos, uma chantagem. Essas tarifas não são razoáveis. Agora, é preciso aguardar para saber se haverá espaço para negociação efetiva”, aponta o professor da UNB, Ricardo Goulart.
O ex-diretor executivo da Câmara Brasileira de Logistica e Infraestrutura (Câmara Log), faz uma análise sobre as ações do governo americano. “Independentemente do lado ou viés ideológico da carta, aliás, já tem bastante gente especializada falando sobre isso, é importante destacar que os Estados Unidos é nosso segundo parceiro comercial, não é dispensável e por mais que se possa ter antipatia pelo presidente Norte Americano, há que se sentar e negociar”, explica. “Não é a primeira vez que o Brasil é sobretaxado e, certamente, não será a última, mas, mesmo assim, não se pode fechar as portas. Diferentemente da pauta de exportações com a China, que é, praticamente, alicerçada em Commodities, com os Estados Unidos temos vendas de produtos manufaturados que deixarão de ser vendidos”, termina.
Impacto na região
O setor de calçados demonstra grande preocupação com as tarifas. A Abicalçados emitiu uma nota lamentando as medidas, citando a grande melhora nas exportações dos últimos períodos. “No início da semana, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) comemorou o crescimento de 24,5% nas exportações de junho, no comparativo com o mesmo mês do ano passado. Principal destino das exportações brasileiras do setor, os Estados Unidos foram, justamente, o país que puxou o incremento, com crescimento de quase 40% no mesmo comparativo. Hoje, com a carta enviada por Trump ao presidente Lula, em que anuncia a taxação de 50% para todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, a Abicalçados reporta surpresa e preocupação”, lamenta. Ainda na nota, o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca a preocupação do setor com a tarifa anunciada. “No primeiro semestre, estávamos, aos poucos, recuperando mercado nos Estados Unidos, apesar de todas as instabilidades. O anúncio do presidente Trump, com novas tarifas a partir do dia 1º de agosto, é um grande balde de água fria para o setor calçadista brasileiro. Os Estados Unidos, em linhas gerais, têm um déficit comercial, mas com o Brasil tem superávit, não justificando a medida”, conclui.
O presidente da SIndimetal, também lamenta as novas tarifas impostas, e diz que impacto na economia será forte na região, visto que há diversas empresas associadas que exportam produtos manufaturdos para os Estados Unidos. “Os 50% de tarifa tornam a exportação de alguns produtos realmente inviável. Acredito que o governo brasileiro deva sentar e negociar com os americanos, pois isso vai afetar drasticamente na indústria da noss região. Empresas de diversos setores serão impactados com essa medida e nos cabe cobrar que isso seja revisto e negociado”, declarou.