No Dia do Professor, o programa reuniu especialistas para discutir como as transformações no mundo do trabalho desafiam empresas, líderes e profissionais a reinventarem relações e valores em meio a diferentes gerações e novas formas de viver e produzir.
Num encontro marcado por reflexões profundas e olhares complementares, o Estação Hamburgo da Vale TV debateu, no Dia do Professor (15 de outubro de 2025), um dos temas mais provocadores da atualidade: o futuro do trabalho e a visão das diferentes gerações . Com apresentação de Gio Dias, o programa reuniu uma bancada diversa e experiente — Denaise Bottega, terapeuta e especialista em comportamento humano; Diogo Leuck, empresário e comunicador; Karina Rebelo, consultora de desenvolvimento organizacional; e Matheus Dibai, jovem empreendedor e líder da Dibai — para discutir os desafios e oportunidades de um mercado em rápida transformação.
Cinco gerações sob o mesmo teto corporativo
O ponto de partida do debate foi uma constatação inédita: nunca na história convivemos com cinco gerações atuando simultaneamente no mercado de trabalho. Dos veteranos da geração Baby Boomer aos recém-chegados da Geração Z, o choque de visões, ritmos e expectativas está reconfigurando empresas, carreiras e relações humanas.
“As diferenças são enormes — na maneira de pensar, agir, comunicar e enxergar o propósito. A geração mais jovem prioriza a saúde emocional, não aceita comprometer o bem-estar em troca de estabilidade. Já outras gerações aprenderam que o trabalho vem antes de tudo, e a felicidade se encontra depois. Nenhuma dessas visões está errada — o desafio é encontrar o ponto de equilíbrio”, refletiu Gio Dias, mediador do programa.
A conversa ganhou ainda mais significado pela data. No Dia do Professor, os convidados destacaram o papel da educação como base de todas as transformações — não apenas nas escolas, mas dentro das empresas, onde o aprender e o ensinar se tornaram responsabilidades compartilhadas.
“Nada é mais importante do que a educação. O professor forma gerações, e o líder moderno precisa ser também um educador”, ressaltou Diogo Leuck, que homenageou a sogra — professora e secretária de educação aposentada — e lembrou o impacto das boas referências na formação de cada pessoa.
Referências, propósito e a crise da liderança
Para Denaise Bottega, que atua há anos na área de desenvolvimento humano, o maior desafio da atualidade não é tecnológico, mas emocional. “Estamos carentes de referências. As pessoas buscam líderes autênticos, que inspirem pela coerência entre discurso e prática. Liderança humanizada é sobre lidar com pessoas, não impor resultados”, destacou.
Karina Rebelo complementou, lembrando que as empresas precisam resgatar o essencial: clareza, escuta e confiança. “As pessoas não querem apenas receber bônus ou PLR. Elas querem sentir que estão evoluindo, que pertencem. E isso depende de comunicação e feedbacks constantes — não a cada seis meses, mas no dia a dia. As lideranças precisam aprender a conversar e a compreender que cada colaborador é único.”
Da “mão de obra” ao “cérebro de obra”
O empresário Diogo Leuck propôs uma mudança de paradigma: “Não gosto mais da expressão ‘mão de obra’. Hoje somos cérebros de obra. O trabalho não é mais apenas execução, é pensamento, é parte da vida.”
Essa transição — do modelo mecânico ao modelo mental — exige, segundo ele, reeducação de gestores e líderes, que ainda carregam práticas antigas, como controle excessivo e pouca autonomia. “O problema é que muitos líderes nasceram em um tempo em que atraso de um minuto era falta de respeito. Mas a geração atual tem outra percepção: quer liberdade, flexibilidade e propósito. Cabe às empresas encontrarem um meio-termo entre disciplina e empatia”, observou.
Liderança humanizada e saúde mental
A terapeuta Denaise Bottega ressaltou que o foco da nova liderança deve estar no cuidado emocional. “O líder humanizado percebe sinais, observa o comportamento e entende quando alguém está sofrendo. Quantas pessoas hoje estão adoecidas em silêncio, no home office ou nas empresas, sem que ninguém perceba? A liderança precisa estar atenta, porque perder alguém por descuido emocional custa caro — para o negócio e para a vida”, afirmou.
O tema da saúde mental apareceu como um dos eixos centrais do debate. Karina Rebelo lembrou que o excesso de informações e o ritmo digital geram ansiedade e comparações nocivas. “Nunca tivemos tanta informação, mas também nunca estivemos tão desconectados. As redes sociais criaram um modelo de felicidade inalcançável, e muitos se frustram por não viver o que veem online.”
O papel da comunicação: do excesso à clareza
Um consenso entre os debatedores foi o papel central da comunicação nas relações de trabalho. “Todas as falhas da humanidade — pessoais, empresariais ou políticas — estão ligadas à comunicação: ou falta, ou é excessiva, ou é mal utilizada”, pontuou Gio Dias.
Diogo Leuck reforçou: “Hoje, com o celular, temos mais informação que qualquer presidente de 30 anos atrás. Mas seguimos nos comunicando mal. E o excesso de ruído, fake news e interpretações erradas intoxica a sociedade. Precisamos aprender a dosar a comunicação, saber ouvir e simplificar o diálogo.”
O caráter como diferencial do futuro
Na visão de Matheus Dibai, representante da geração mais jovem da mesa, o mundo corporativo está mudando o eixo da seleção profissional. “No passado, se contratava pela força física. Depois, pelo conhecimento. Hoje, a contratação é pelo caráter. O futuro é o comportamento, a ética e a capacidade de conviver com as diferenças”, afirmou.
Ele também trouxe uma perspectiva otimista sobre as novas gerações: “Muita gente chama de preguiçosa, mas eu gosto dessa geração. O preguiçoso é criativo, encontra soluções rápidas. É essa inquietude que faz a tecnologia avançar. O problema não é a preguiça, é a falta de propósito.”
Empresas que cuidam de pessoas cuidam do futuro
Durante o programa, Karina e Denaise destacaram empresas da região que já estão aplicando práticas de gestão humanizada — programas de escuta, rodas de conversa e acompanhamento psicológico — e citaram o exemplo da Dibai, liderada por Matheus, como modelo de cuidado integral.
“Ele cuida dos funcionários como pessoas, não como números. A Dibai trabalha o equilíbrio emocional das equipes e estende esse cuidado às famílias dos colaboradores. Isso é responsabilidade social aplicada ao cotidiano”, elogiou Denaise.
Karina completou: “Empresas que investem em cultura organizacional, confiança e diálogo crescem 30% mais — sem mexer em sistemas, apenas mudando mentalidades.”
Entre o tradicional e o novo: o equilíbrio como chave
Para Diogo Leuck, o grande desafio está no equilíbrio entre liberdade e disciplina. “As empresas querem ser o Google — oferecer sala de jogos, horários flexíveis, home office —, mas esquecem de cobrar resultados com clareza. O problema é a comunicação romantizada. Liberdade é ótima, desde que haja propósito e responsabilidade. Sem limites, perdemos talentos por falta de orientação.”
Gio Dias complementou que a cultura gaúcha e do Vale do Sinos ainda carrega forte o valor da entrega, da pontualidade e do trabalho como sinônimo de dignidade. “A reeducação de gestores é urgente. Não dá mais para conduzir empresas com modelos de 30 anos atrás. Mas também não dá para abrir mão do compromisso e da ética. A evolução precisa unir o melhor das duas eras.”
Aprendizados do pós-pandemia e o papel do exemplo
O debate também resgatou o impacto recente da pandemia e das enchentes no Rio Grande do Sul, eventos que, segundo os convidados, revelaram tanto a solidariedade quanto as fragilidades humanas. “As crises não nos transformam, elas revelam quem somos. Elas mostram o melhor e o pior das pessoas. E isso está mais visível do que nunca”, observou Diogo Leuck, que também atua como bombeiro voluntário.
Para Denaise, o desafio é ensinar novamente sobre limites, paciência e convivência. “Vivemos uma geração que amadurece mais tarde. E isso não é culpa dela, mas do nosso modelo superprotetor. Criamos filhos que não enfrentaram frustrações cedo, e o cérebro demora mais a desenvolver a tomada de decisão. É um processo social e neurológico.”
Liderar é educar, inspirar e cuidar
Ao final do programa, os convidados convergiram em uma ideia: liderar é educar. O líder precisa formar novos líderes, preparar sucessores, inspirar pelo exemplo e abrir espaço para o diálogo entre gerações.
“O maior desafio de um líder é abrir mão da vaidade e formar sucessores. As referências não sumiram — fomos nós que deixamos de ser referência”, disse Diogo, citando o empresário Clóvis Tramontina e sua “Escola de Líderes” como exemplo inspirador.
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Do amargo ao doce: uma nova visão sobre o trabalho
Encerrando o programa, Matheus Dibai deixou uma mensagem de esperança: “Sem o amargo, o doce não é tão doce. Toda geração traz desafios e dons. A nova geração quer ser feliz e fazer o bem. Quer trabalhar com propósito e viver com equilíbrio. O trabalho não adoece ninguém; o que adoece é a falta de organização emocional e a ausência de diálogo. Quando há comunicação, propósito e respeito, o trabalho vira parte da vida — não um fardo.”
“No fundo, o segredo é um só: equilíbrio e comunicação. Nem o excesso de liberdade, nem o autoritarismo. O trabalho muda, mas a essência humana permanece a mesma: o desejo de aprender, evoluir e conviver”, concluiu Gio Dias, encerrando o Estação Hamburgo e a reflexão sobre as gerações.
O Estação Hamburgo é um programa exclusivo da Vale TV. Exibido ao vivo, de segunda a sexta-feira, das 20h às 21h, o programa reúne convidados em uma bancada de debates que analisa temas de interesse público. Desde 2015, o Estação Hamburgo se consolidou como um espaço plural e democrático, voltado à comunidade, com pautas que abrangem política, cultura, sociedade e as principais questões da região.
O Estação Hamburgo tem o patrocínio de Calçados Beira Rio 50 anos, Construtora Concisa, Exatus Contabilidade, Merkator Feiras e Eventos e Coworking 360.
Debate realizado no dia 15 de outubro de 2025, no programa Estação Hamburgo, apresentado por Gio Dias, na Vale TV.