Na Venezuela, a RCTV, perde sua concessão e em seu lugar, a Tves deve difundir “valores morais”
O canal de TV venezuelano RCTV, o mais antigo do país, saiu do ar na noite deste domingo (27 de maio), por decisão do governo de não renovar sua concessão, e tentou na segunda-feira (28) uma via alternativa para transmitir seu conteúdo.
O principal noticiário da manhã da RCTV, o “Observador”, foi transmitido pela rede de rádio do mesmo grupo, a Rádio Caracas Rádio. O programa fez uma abordagem crítica das principais notícias do dia anterior e foi finalizado pelo jornalista Isnardo Bravo que disse: “não nos calarão”.
A Venezuela amanheceu mais calma após o fim das transmissões da RCTV, que gerou protestos da oposição e comemorações por parte de seguidores do presidente Hugo Chávez durante a madrugada em várias cidades do país.
Parte dos funcionários compareceu ao trabalho na segunda, enquanto se esperava uma decisão dos diretores do canal. Segundo uma fonte da RCTV, pode haver transmissão de algum conteúdo através de Internet ou por rádios locais.
Para os integrantes da comissão da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a medida do governo venezuelano é parte de uma “estratégia global” de controle da mídia. Eles disseram não descartar um “efeito dominó” na própria Venezuela e em outros países do continente, como Equador e Bolívia.
Segundo o ministro de Comunicação e Informação, William Lara, o governo não vai tratar o fim da RCTV como fechamento, mas apenas como fim de concessão. “Digam a verdade, não se estão fechando meios de comunicação na Venezuela, a única coisa que acontece é a não-renovação de uma concessão”, disse.
O ministro disse ainda que já há ações contra outra rede nacional, a Globovisión, de notícias 24h, e contra a norte-americana CNN por terem publicado “informações erradas”. Segundo ele, a CNN, por exemplo, usou imagens de protestos no México para falar das manifestações contra o fechamento da RCTV.
O presidente da Radio Caracas Televisión (RCTV), Marcel Granier, declarou que sua emissora ainda voltará a funcionar na Venezuela. A afirmação foi feita pouco antes da RCTV sair do ar à 0h59 de Brasília (23h59 na Venezuela) por não ter sua concessão renovada pelo governo de Hugo Chávez.
“Na Venezuela, a democracia e a RCTV retornarão”, afirmou Granier. “O governo vence, mas não convence. Ele perde mais do que acha que ganha. Ele perde respeito internacional”, completou ele.
Como estava previsto, o canal mais antigo da televisão na Venezuela saiu do ar após 53 anos de exibição no canal 2, acusada pelo presidente Hugo Chávez de prejudicar o socialismo do século XXI.
Já a primeira transmissão da TVes (leia-se ‘Te ves’, que significa “você se vê” em português) teve início com o hino nacional, executado pelo coral e a orquestra sinfônica juvenil Simón Bolívar sob a batuta do maestro Gustavo Dudamel.
A presidente da nova emissora, Lil Rodríguez, fez um breve discurso de inauguração, de perfil político, no qual apelou à “responsabilidade dentro da Constituição, nossa soberania, nossa alegria”.
Opinião
Para a professora do curso de jornalismo da Unisinos, Luiza Carravetta, é uma pena que questões políticas prejudiquem o acesso á informação. Pois sendo uma empresa estatal, a comunicação televisiva fica unilateral, e o direito à informação, é cerceado.
Já o coordenador da TV Feevale, Wagner da Rosa, prefere não seguir a corrente que simplesmente condena a não renovação da concessão da RCTV. “Talvez o problema esteja na maneira como foi concedida esta concessão”, reflete. E diz ainda que agora o Presidente Venezuelano terá onde veicular seus discursos, antes vetados pela emissora.
Ele lembra que diversas entidades ligadas à imprensa se manifestaram conta, em toda a América Latina (inclusive a Abert – Associação Brasileira de Rádio e Televisão), pois a primeira leitura que se tem do acontecimento é lamentável, uma atitude antidemocrática e surpreendente nos dias atuais, finaliza.