Diretora da Vilage Marcas e Patentes, Fernanda Rauter fala sobre trajetória, desafios da inovação e importância da propriedade intelectual para empresas e empreendedores.
Determinação, autenticidade e conhecimento técnico são marcas da trajetória de Fernanda Rauter, natural de Campo Bom. Aos 11 anos, teve o primeiro emprego como babá e, desde então, nunca parou: trabalhou em pet shop, foi manicure, operou máquina de sorvete e fez estágio na Caixa Econômica Federal. Cada experiência moldou a profissional que hoje é diretora e sócia da Vilage Marcas e Patentes, empresa referência nacional e internacional na proteção de ativos de propriedade intelectual.
Formada em Administração pela Faculdade IENH, mestre em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação pelo IFRS e com MBA em Propriedade Intelectual, Direito e Ética pela Universidade Cândido Mendes, Fernanda se apaixonou pela área quando ingressou na Vilage há 15 anos. “Nunca imaginei trabalhar com isso. Mas quando compreendi a importância das marcas e patentes para empresas e pessoas, foi amor à primeira vista”, contou.
Da rotina administrativa à diretoria
O início foi no setor administrativo, assessorando diretores e clientes. Com o tempo, Fernanda Rauter passou a atuar no comercial, participando de eventos, palestras e consultorias. “É uma venda consultiva, que envolve estratégias e acompanhamento. Eu gosto de criar soluções junto aos clientes”, destacou.
Hoje, além de integrar a diretoria, ela lidera a expansão da empresa no Rio Grande do Sul, atendendo clientes de diferentes portes. A Vilage, com 39 anos de atuação, mantém sede em São José do Rio Preto (SP) e escritórios espalhados pelo Brasil e pelo mundo – em Miami, Pequim e Alemanha. Essa presença internacional é estratégica para atender negócios que buscam registrar suas marcas ou patentes fora do país.
Por que registrar a marca?
Fernanda explica que o registro de marca garante exclusividade no território nacional, evitando que outra empresa se aproprie de um nome ou identidade visual. “Muitas vezes o empresário pensa que não precisa registrar porque atua só no bairro. Mas se alguém em outra cidade registrar antes, pode impedir o uso daquela marca que você construiu por anos”, alertou.
O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) disponibiliza 45 classes de registro, que abrangem desde produtos até serviços. É possível proteger apenas o nome escrito ou também o logotipo. “O acompanhamento é contínuo. Monitoramos semanalmente novos pedidos de registro para evitar que marcas semelhantes prejudiquem nossos clientes”, disse.
Patentes e invenções
Além das marcas, a Vilage também atua na proteção de patentes – produtos, processos ou formulações químicas. Ideias abstratas não são passíveis de registro, mas inovações aplicadas podem gerar proteção. “A patente não protege a ideia, mas o processo ou produto criado a partir dela. Se alguém desenvolver uma forma diferente, pode até obter uma nova patente”, explicou.
Quebra de patentes? Não é bem assim
Um dos pontos mais polêmicos abordados por Fernanda é a chamada “quebra de patentes” em medicamentos. O termo, segundo ela, é incorreto. O que existe é a licença compulsória, utilizada em situações de emergência, como ocorreu em 2007 no caso de medicamentos contra o HIV.
“Nesse processo, o governo negocia com o titular da patente para permitir que outros laboratórios produzam o medicamento. Mas o detentor original continua recebendo pelo uso. Não é uma quebra, é uma negociação prevista em lei”, esclareceu.
No debate sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, chegou a ser cogitada a adoção dessa medida como retaliação. Para Fernanda Rauter, no entanto, trata-se de um processo complexo, que não ocorre de um dia para o outro.
Direito autoral e novos desafios
A especialista lembra que obras culturais – como músicas, livros e fotografias – são protegidas em outros órgãos, por meio de direito autoral. “Artistas podem e devem registrar suas criações para garantir autoria e evitar disputas”, frisou.
Com o avanço da inteligência artificial, novas questões jurídicas surgem: quem é o dono de uma obra criada por algoritmos? “Ainda não há legislação no Brasil sobre isso. Nos Estados Unidos já houve concessão de direito autoral em parceria entre o autor e a IA, mas por aqui a lei ainda é antiga e precisará ser revista”, avaliou.
Um exemplo de determinação
Além de empreendedora, Fernanda é mãe da pequena Alice e esposa de César. Concilia família, trabalho e constante busca por conhecimento. De Campo Bom para o mundo, tornou-se referência em um setor que impacta diretamente a vida de empresas, artistas e consumidores.
“Propriedade intelectual parece distante, mas está no dia a dia de todos nós, do remédio que tomamos à marca da padaria da esquina. Protegê-la é proteger sonhos, negócios e inovações”, resumiu.
Clique na imagem abaixo para assistir ao Conversa de Peso com Fernanda Rauter no canal da Vale TV no YouTube:
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Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen.