O que é arte? Onde ela está e como sobrevive em tempos de algoritmos, plataformas e consumo acelerado? Essas foram as perguntas que guiaram o Estação Hamburgo com Ander Alves e Dhan.
A edição do Estação Hamburgo, do dia 29 de setembro de 2025, transmitido ao vivo pela Vale TV, conduzida por Gio Dias, reuniu dois convidados que vivem a arte em múltiplas formas: Anderson Alves, o Ander Alves, criador do personagem Pastor Gaúcho, comunicador e humorista com mais de 20 anos de carreira no rádio e nas redes; e Dhan, o “Daniel Toko”, músico, repórter de televisão e compositor paulista radicado em Novo Hamburgo, conhecido por unir espiritualidade e crítica social em suas composições.
O tema do debate — “A arte antes do algoritmo” — provocou reflexões profundas sobre o impacto da digitalização na criação artística e na capacidade de sentir e contemplar a beleza.
A arte que nasce da essência
Logo no início, Ander Alves compartilhou como a arte o “descobriu”. Criador do personagem Pastor Gaúcho, nascido nas redes sociais em 2011, ele lembrou que sua trajetória começou “sem pretensão de ser artista”, mas com o desejo de comunicar. O personagem, criado no Twitter e inspirado na linguagem bíblica em dialeto gaúcho, viralizou e o levou dos palcos virtuais aos presenciais, alcançando milhares de pessoas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
“Comecei escrevendo, depois fui convidado a subir ao palco. Eu era comunicador, mas nunca tinha feito teatro. Foi a arte que me levou até lá”, contou Alves, que completou 13 anos de estrada com o personagem.
Dhan, por sua vez, revelou que sua relação com a arte vem desde a infância.
“Com seis, sete anos eu já escrevia livros infantis. Sempre fui um poeta que aprendeu a cantar”, disse.
Com passagens pela Record TV e Rede Globo, ele destacou a importância da arte como expressão espiritual e cura. “O que é arte pra mim? É a cura. É tudo aquilo que conecta o humano com o divino. É servir”, afirmou.
A digitalização e a perda da contemplação
O debate ganhou força ao abordar o impacto do mundo digital sobre a arte e a sensibilidade. Para os convidados, o excesso de acesso e a velocidade do consumo banalizaram o prazer de contemplar.
Ander Alves comparou a arte de hoje com o hábito de ouvir um disco inteiro nos anos 80 e 90:
“Antes, você esperava o disco chegar, colocava no toca-discos e saboreava cada nota. Hoje, as pessoas dão ‘play’ e passam adiante. A arte perdeu o tempo da contemplação.”
Dhan complementou com uma provocação:
“O acesso banalizou o saborear. A internet fez com que a arte deixasse de ser um ritual e virasse um reflexo de impulsos.”
Os dois concordaram que o digital, embora democratize oportunidades, também distancia o artista da alma da criação. O algoritmo, segundo eles, filtra mais pela popularidade do que pela qualidade.
“Nem tudo que tem milhões de views é bom. Às vezes, a melhor música tem cem plays e ninguém vê. A arte precisa ser garimpada”, reforçou Alves.
Entre o palco e o filtro
Quando o apresentador perguntou se a internet é um palco ou um filtro, os convidados se dividiram. Para Toko, o ambiente digital reflete a sociedade: “a internet é o espelho dessa geração. Ela entrega o que as pessoas pedem. Se o público busca o superficial, o algoritmo devolve o raso.”
O músico denunciou o que chamou de “banalização programada da cultura”, citando letras populares que sexualizam conteúdos infantis e o impacto disso nas crianças.
“O que era proibido ficou banal. Hoje, o funk proibidão toca em festa de escola. Isso molda a mente das pessoas desde cedo.”
Ander reforçou o alerta, lembrando que a arte também é educadora.
“A gente precisa retomar o olhar para o belo. A arte que eleva, que transforma. O problema é que muita coisa ruim está sendo aplaudida, enquanto o que é bom precisa ser procurado.”
A arte, o belo e a espiritualidade
Um dos momentos mais intensos do programa foi quando ambos afirmaram: “A arte é tudo.” A frase desencadeou um debate sobre o limite entre o belo e o grotesco.
Toko argumentou que tudo pode ser arte, mas nem tudo eleva o espírito.
“O funk, o rock, o sertanejo — tudo tem sua função. O problema é quando só conseguimos acessar o que é raso. É como se nossa mente se alimentasse apenas de fast food artístico.”
Ander fez uma analogia com a alimentação:
“Fast food é comida, mas não faz bem. Com a arte é igual: há muito conteúdo, mas nem tudo nutre.”
Para os dois, a diferença entre o que é arte verdadeira e produto de consumo está na intenção.
“A arte é a expressão do dom de Deus em alguém”, resumiu o apresentador Gio Dias, ecoando o consenso da bancada.
Novo Hamburgo e o Vale do Sinos como cenário vivo
Durante a conversa, os convidados celebraram o papel de Novo Hamburgo e do Vale do Sinos como berço de iniciativas culturais autênticas. Toko destacou a liberdade editorial e o incentivo ao pensamento plural da Vale TV, onde “a arte e a comunicação ainda têm espaço para ser livres”.
“Em 2025, ter uma televisão que valoriza a expressão, o diálogo e a verdade de cada um é um privilégio. O Vale do Sinos precisa seguir sendo esse polo de cultura e liberdade”, afirmou.
Ander Alves, que já levou o Pastor Gaúcho a dezenas de cidades da região, lembrou a importância da arte local como ferramenta de identidade e pertencimento.
A missão da arte no futuro
O programa encerrou com uma mensagem otimista. Apesar da crítica ao consumo rápido e à perda da sensibilidade, ambos acreditam em um renascimento do encanto pelo que é real e genuíno.
“As pessoas estão cansadas do artificial. A arte feita com verdade vai voltar a ter espaço”, disse Dhan.
Ander Alves completou:
“A arte tem o poder de transformar, de inspirar. É isso que precisamos resgatar.”
O apresentador Gio Dias, ao encerrar a edição, resumiu o sentimento comum: “a arte é a manifestação mais pura do que há de divino no ser humano. Que a gente volte a sentir antes de apenas consumir.”
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Debate realizado no dia 29 de setembro de 2025, no programa Estação Hamburgo, apresentado por Gio Dias, pela Vale TV.