novohamburgo.org – O senhor foi voluntário no projeto de Planejamento Familiar do Grupo Pensando Novo Hamburgo, realizando cirurgias de ligadura de trompas. Qual a importância de haver um planejamento familiar?
Dr. Valdir – Ligadura e vasectomia precisam ter um apoio psicológico, como tem no Grupo Pensando Novo Hamburgo. Tem que ter formação para fazer, tem que ter a cabeça preparada. Por vezes, chega uma paciente e diz que está fazendo a cabeça do marido para ele fazer vasectomia. É um método definitivo, mas tem que pensar muito nesta maneira como foi colocada. Se vai insistir, ele irá fazer pela insistência da mulher. Mas na primeira vez que ele falhar sexualmente, vai acusar a vasectomia.
Eu tenho pacientes com quatro cesárias que não fizeram ligadura e não vão fazer, porque não querem isto. Para eu fazer ligadura, tem que ser decidido uns dois meses antes do parto, assinado um termo. Já tive pacientes que dei o termo para assinarem em casa e me trouxeram de volta sem assinar, depois de pensar muito. Tem que ser muito preparado.
novohamburgo.org – Ou seja, mais um vez valorizando o diálogo.
Dr. Valdir – Acho que é fundamental o diálogo. Neste curso de pós que fiz, foi apresentado um trabalho muito interessante. Casais que têm um diálogo franco com os filhos, que falam de tudo, sobre preservativos, anticoncepção, relação sexual, tudo… esses adolescentes começam a vida sexual dois a três anos mais tarde do que aqueles que foram proibidos.
Adolescentes com diálogo aberto com os pais começam a vida sexual de dois a três anos mais tarde do que os que foram proibidos.
E mais: estes que tiveram diálogo aberto vão ter relação com cobertura, anticoncepcional e preservativo. E o mais importante: com vínculo afetivo.
Eu tenho um caso de uma adolescente que teve a primeira relação na casa dela, na cama da mãe dela, para agredi-la, porque a mãe era contra. Então, não adianta ser contra. Hoje, os pais já estão um pouco mais abertos. E não adianta: se o adolescente quer transar, ele vai transar e não adianta dizer que não.
novohamburgo.org – Como terapeuta sexual, qual o diagnóstico da população de Novo Hamburgo?
Dr. Valdir – Se tu fores comparar de quando comecei, claro que melhorou. Mas, existem muitas mulheres que nunca se olharam. Colocar um espelho para olhar a genitália? Nunca. Muito menos se tocaram. E de quem é a culpa? Do pai, da mãe.
Hoje, a gente recomenda para uma paciente com filho pequeno que, a partir dos três anos, ele deve tomar o banho sozinho. Deve dizer: “Mamãe vai abrir o chuveiro, você vai tomar seu banho sozinho e vai fechar a porta. Daqui a pouco, a mamãe vai bater para ver se pode entrar.” Qual a finalidade disto? Se conhecer, se tocar.
A mãe vai botar um espelhinho para ver se a menina se limpou direitinho, para ela ficar ainda mais bonitinha do que já é. Vocês já viram alguém chamar a vagina de bonita? E é bonito. Olhar a vagina é como olhar o rosto. Mas está aqui dentro da cabeça que é feio. É como pegar o filho se tocando. A maioria diz para tirar a mão, aplica um castigo.
novohamburgo.org – Qual é a conduta certa?
Dr. Valdir – A ecografia 3D mostra o nenê se masturbando dentro do útero da mãe. Está lá, o nenê com o pênis, dois testículos e a mãozinha lá. Isto é tão fisiológico, que o nenê se masturba dentro do útero da mãe.
A ecografia 3D mostra o nenê se masturbando dentro do útero da mãe.
Se tu pegar teu filho se tocando, o que dizer? Se estiver muito na cara: “Meu bem, é bom? A mãe sabe que é bom. Mas como tem um lugar para ti tomar banho, jogar vídeo-game, para brincar, se tu fizer isso no teu quarto, sozinho, ou no teu banheiro, será muito melhor.” Isto elimina aquele tabu.
E, quando digo isso, há pais menos preparados que dizem que estou estimulando a vida sexual mais precoce ainda. Aí conto este trabalho que foi apresentado a respeito do diálogo aberto. Tem que ter diálogo.