novohamburgo.org – Nos conte sobre sua infância, juventude e formação profissional.
Valdir Maques de Souza – Eu sou de Novo Hamburgo, nascido no bairro Rio Branco, antiga Mistura e meus pais eram comerciantes, tinham um armazém na esquina das ruas 25 de Julho e Visconde de Taunay. Me criei ali.
Meu pai era muito rijo. Eu podia brincar, mas tinha que trabalhar no armazém também. Trabalhei no armazém até o terceiro ano de medicina. Fiz minha formação no Grupo Escolar Pedro II, depois no São Jacó e fui fazer a faculdade em Pelotas, onde me formei médico em 12 de dezembro de 1969.
novohamburgo.org – Quais recordações o senhor tem da infância?
Dr. Valdir – Da minha infância, guardo muitas coisas do tempo de armazém. Também lembro que, quando me formei, havia um consenso popular de que, quem era médico do INPS ou funcionário do Banco do Brasil, tinha a vida realizada. Eu consegui entrar no INPS. Eu e o Sérgio Leão, mais o Carlos Danton, praticamente fomos os primeiros ginecologistas de Novo Hamburgo. Como eu iria atender no INPS, era muito freqüente as enfermeiras comentarem que havia um médico novo, o Dr. Valdir Marques de Souza, e algumas mulheres respondiam: “Não, não! Este ginecologista eu não quero que me atenda, pois ele me conhece desde pequena.”
Eu vou ser médico, médico de mulher, mas mulher feia como tu eu não vou atender!
Outra passagem da infância que recordo, é de uma vez que uma paciente chegou no INPS e me disse para perguntar para o meu pai o que eu dizia no armazém quando alguém me questionava sobre o que eu iria ser. Eu sempre dizia assim: “Eu vou ser médico, médico de mulher, mas mulher feia como tu eu não vou atender!”. Depois, ela voltou a consultar comigo para saber se eu havia perguntado para o meu pai. Então eu disse a ela que poderia atendê-la, porque ela era bonita. São coisas da infância que não esquecemos.
novohamburgo.org – E sobre os tempos de armazém?
Dr. Valdir – Do armazém, tenho muitas recordações. Meu pai esteve uns 35 anos no armazém. Faz pouco tempo que fui levar meu netinho na pracinha para brincar com as pombas. Estava lá uma senhora de bastante idade dando comidinha para as pombas. Olhei para ela e lembrei que era da época do armazém.
Eu disse: “Não me lembro do teu nome, mas te conheço e sei que tu ias muito no armazém do pai.” Ela disse que não lembrava de mim e eu perguntei se lembrava do Olmiro, meu pai. Aí esta senhora disse: “Ah, do Olmiro sim… Valdir! Como está a tua mãe?” Às vezes, encontro pessoas desta época.
novohamburgo.org – Como surgiu a escolha pela ginecologia?
Dr. Valdir – Eu sempre dizia no tempo de estudante que eu queria dormir sem ter chamado de urgência algum. E aí vem a história de como surgiu esta minha especialidade. No sexto ano de medicina, fomos atuar dois meses em São Paulo, no Maternal Leonor Mendes de Barros, aonde dava mais ou menos 40 a 50 partos por dia. Nove meses depois do Carnaval, eles tinham sempre plantão dobrado, pois dava sempre um aumento de mais de 50%.
Vi que eu tinha escolhido a especialidade médica que mais urgência tem.
Estávamos lá, sempre com o dinheiro contadinho, eu e o Leão, e fomos comer um bife. Ele disse: “Negrão, vou fazer ginecologia, estou decidido”. Então eu disse que também, que estava decidido. Logo nos olhamos e vi que eu tinha escolhido a especialidade médica que mais urgência tem. Eu e o Leão fomos os primeiros com o título de especialista aqui em Novo Hamburgo.
novohamburgo.org – E este apelido, Negrão?
Dr. Valdir – Quando eu era estudante, tinha um cabelo muito ondulado. Era cabeludo, tinha bigode. E o Leão fez a onda na faculdade que, ao sair do chuveiro, eu só dava uma sacudida na cabeça e meu cabelo estava seco. Bah, eu fiquei bravo. Negrão! Um dia eu reagi, quis ir atrás do Leão e dar uns tapas nele, mas o apelido ficou.
Tanto é que, no sexto ano de medicina, meu pai chegou na Santa Casa, onde eu fazia residência, perguntou pelo Valdir Marques de Souza e não sabiam quem era. Aí uma das funcionárias perguntou se não era o Negrão. “Ah, o Negrão está no bloco cirúrgico”, disse.
Agora meu apelido está mudando de Negrão para Mordedor, por causa da AMO. Como a gente que fundou, fiquei com a fama de cobrar sempre, de estar sempre pedindo aqui, pedindo ali para a AMO.