novohamburgo.org – Este tema ainda motiva grande discussão. O que o senhor pensa a respeito da legalização do aborto?
Dr. Valdir – Eu sempre penso comigo: a determinação da conduta da paciente é dela. Se vai interromper ou não a gravidez. Hoje em dia, a paciente compra um comprimido que provoca o aborto espontâneo e depois é feita a curetagem. Eu acho que não deve ser assim: engravidou, não quer, vai lá e faz o aborto. Agora, se tem uma má formação, não tem por que não. Quando tem indicação. Este é meu ponto de vista.
Mas sempre tem o lado religioso. Recentemente, me ligou uma paciente que estava com DIL. Comentou que falou com um padre que disse que ela estava usando um método abortivo. Ou seja, ainda existe um pouco deste mito antigo e não verdadeiro.
novohamburgo.org – A partir disto, Igreja e ciência podem caminhar juntas?
Dr. Valdir – É difícil de responder. Tu encontras um profissional até hoje com condutas erradas, que manda fazer o aborto, que faz mesmo o aborto. Em Porto Alegre, tem cara que só faz aborto. De ética profissional não tem nada. É falta de moral, é crime. Este é um detalhe: em Porto Alegre, há clínicas, consultórios, com seis mulheres todos os dias, só para aborto.
Em Porto Alegre, há clínicas com seis mulheres todos os dias. Só para aborto.
novohamburgo.org – E em Novo Hamburgo não há?
Dr. Valdir – Tinha. Quando eu comecei, tinha colegas que faziam. Naquele tempo, aqui em Novo Hamburgo, ninguém fazia ligadura de trompas. Os médicos iam fazer em Campo Bom, Sapiranga, porque quando faziam uma cirurgia aqui, as freiras ficavam do lado, acompanhando a cesária.
Depois de dez anos formado, às vezes vinha a freira junto na maternidade e dizia que coisa boa que iria fazer a ligadura também. Tem freiras que pensam diferente. Hoje nem dão bola. Pode ser no Hospital das Irmãs que não dão bola. Hoje, o obstetra marca a cesária para fazer a ligadura. Antigamente, não se fazia.
novohamburgo.org – E sobre a eutanásia, qual sua posição?
Dr. Valdir – É uma coisa difícil. Eu estou com um caso familiar assim. Há nove meses, estou com minha sogra numa cama, em coma, com sonda gástrica. Ela não conhece ninguém, não fala. Não sou a favor, nem contra. Mas, por exemplo, se ela tiver uma infecção, não vou deixar tratar. Por que prolongar este sofrimento? Ela não tem perspectiva de cura. Tem 90 anos. Agora, eutanásia é algo complicado. Cada caso é um caso.
A gravidez para a paciente de 20 ou de 40 anos é igual. O problema são os riscos para o bebê.
novohamburgo.org – Ou seja, tanto em relação ao aborto quanto à eutanásia, o senhor deixa pela cabeça de cada um?
Dr. Valdir – Eu acho que isso é fundamental. Em medicina, não adianta chegar e dizer: “Vai fazer isso”. Há coisas que você diz: “O melhor é isso”. Mas se a paciente não quiser fazer, não adianta.
Eu fiz um parto de uma mulher com 44 anos, outra com 42 anos e, há três anos, fiz um parto quando faltavam três meses para uma paciente completar 47 anos. Lógico que fizeram amniocentese (exame realizado para checar a saúde do bebê durante a gravidez). Nestas de 44 a 47, a incidência de dar amniocentese é de uma para 23. Tinha duas filhas sadias e nasceu o menino. Ela diz que foi a gravidez que ela mais curtiu. Nasceu saudável, tranqüilo. A gravidez para a paciente de 20 anos ou de 40 anos é igual. Nada muda. O problema são os riscos para o bebê.