novohamburgo.org – Com toda esta sua bagagem, qual sua visão sobre a proliferação dos cursos à distância, inclusive de graduação? Como vê a formação de um professor que não assiste à aula em uma instituição de ensino?
Marie Traude – De um lado, se compreende que o tempo vai encurtando, a exigência de trabalho da sociedade na pessoa é muito grande. Pode ser uma vantagem. Mas quando eu penso em aulas presenciais, com discussão, com a troca, isso é que enriquece. A graduação à distância, se o aluno é consciente, não vai ser meramente um diploma. Se for assim, esse diploma vai ter um conteúdo. Vai depender muito do aluno.
Agora, no meu entendimento, o ideal seria um curso à distância com alguns momentos presenciais. Que o aluno tivesse a oportunidade de ir até a instituição de ensino, sentar com um grupo, discutir, ouvir um professor. Porque a gente sabe que não surgem muitas dúvidas quando estudamos ou lemos sozinhos. Quando nós lemos, nós podemos ler o mesmo texto, mas cada um interpreta de um jeito. Então, é preciso esse encontro para haver essa troca, entrar em um consenso, usar uma teoria, o que isso significa.
É que no fundo, no fundo, educação virou um negócio.
Eu estou em estado de observação, porque isso ainda é muito novo. Eu fico pensando assim: a universidade está botando pra fora muito aluno. Olhe quantos advogados, quantos médicos, quantos dentistas. É muito fácil ingressar na faculdade. Não existe assim uma exigência. É que no fundo, no fundo, educação virou um negócio. Também é um negócio.
A escola começa a chamar aluno de cliente, e eu abomino essa palavra dentro da educação. O pai do aluno é um cliente, ele paga por uma troca. Só que essa troca, no momento em que a gente vai falar de um aluno, seja na idade que for, é um ser humano em construção. Eu não posso chamar ele de cliente. Esse é um termo péssimo que entrou na educação, e que eu nunca aceitei.
novohamburgo.org – O próprio preço da mensalidade escolar não reflete esta relação?
Marie Traude – Reflete. Mas hoje já estamos ouvindo que algumas escolas estão começando a pensar que é importante se preocupar com o conhecimento, porque a educação ficou cortada. Lógico que os programas existem, mas o que se vê? Um aluno com muita informação e pouco conhecimento.
novohamburgo.org – A falta de professores não ajuda a produzir alunos com pouco conhecimento?
Marie Traude – Como eu voltei para o conselho em 2006, posso afirmar com toda a tranqüilidade que hoje não há falta de professores no município. Temos uma excelente estrutura, uma educação muito boa. É lógico que podemos sempre melhorar, mas é o Estado que está numa situação precária, terrível.
novohamburgo.org – A saída é a enturmação?
Marie Traude – Eu não sei se é a saída pra isso. O que eu vejo é que há professores do Estado que optam por não ir à sala de aula. Querem ir pra biblioteca, secretaria, laboratório, não querem sala de aula.
O melhor lugar do mundo para o professor é a sala de aula.
novohamburgo.org – Mas e por que escolhem a profissão se o seu cerne é a sala de aula?
Marie Traude – O melhor lugar do mundo para o professor é a sala de aula. É lógico que nós temos excelentes professores no Estado, e eu tenho um grande desejo de que a educação no Estado volte a ser a educação que eu conheci, que era uma educação, a melhor.
O que o Estado precisa? É difícil responder. Porque os anos de greve só fizeram grandes lacunas na vida escolar dos adolescentes. Foram gerações de alunos com lacunas no conhecimento, nas informações. Então a escola tem que voltar a ser o que era antes. Isso passa pelo salário do professor, passa pela motivação do professor. Eu não acredito que só o salário motive, porque quando eu quero ser professora eu não vou só pelo salário, eu sei que não vou ganhar muito. Só que hoje há muitas jovens que fazem o magistério pra trabalhar e conseguir pagar uma outra faculdade. Aí, quando formam-se na graduação, vão pra outra área.
No município, temos muitos professores com graduação, porque já é obrigatório, como também há professores com mestrado fazendo um trabalho muito interessante dentro da rede. Então, o Estado tem uma caminhada muito longa de resgate. E eu acredito na secretária da educação quando ela fala na avaliação das escolas, o que o governo federal já faz com o Enem.