Marie Traude é a referência da educação
Aos 66 anos, 40 dedicados ao ensino, a professora hamburguense é a entrevistada da seção Perfil
Depois que Novo Hamburgo perdeu a fibra do incansável professor Ernest Sarlet, em novembro de 2006, talvez não haja ninguém que personifique tanto a educação quanto Marie Traude Schneider. Professora, pedagoga e bacharel em filosofia, a presidente do Conselho Municipal de Educação tem na sala de aula o melhor lugar do seu mundo.
Sua história de vida, com relatos de uma intensa dedicação à educação e à família, é contada agora por ela mesma na seção Perfil do novohamburgo.org. Para falar sobre os 40 anos em que lecionou e suas impressões sobre a atual educação, Traude foi entrevistada pelos jornalistas Rafael Geyger e Eloi de Vargas.
Entre outros temas, ela fala das lembranças da infância, de São Lourenço do Sul para Novo Hamburgo, da sua trajetória profissional, do carinho pela sala de aula e de sua visão sobre o papel da educação, fazendo um alerta: “A educação, no fundo, virou um negócio. A escola começa a chamar aluno de cliente e eu abomino essa palavra dentro da educação.”
novohamburgo.org – Professora Traude. Conte-nos um pouco de suas lembranças da infância.
Marie Traude Schneider – Eu nasci em São Lourenço do Sul, sou lorenciana e meu pai era alemão, descendente de imigrantes Pomeranos. Meus avós eram plantadores de batatas e minha mãe era de origem portuguesa, Pereira Victor. Então, é uma boa mistura, português com alemão. Vim de lá aos quatro anos de idade, em função do trabalho do meu pai que era sapateiro.
novohamburgo.org – Veio para Novo Hamburgo?
Marie Traude – Para Novo Hamburgo. Ele veio trabalhar em uma empresa de sapatos. Era o que hoje se chamaria de designer, um modelista de calçado. Mas ele fazia tudo, do modelo do corte até a montagem do sapato.
Eu nasci no dia 7 de março de 1941, tenho 66 anos e não tenho restrições em dizer minha idade. Trabalhei formalmente, recebendo salário e todos os direitos até os 58 anos. Parei de trabalhar, como eu costumo dizer sob “livre e espancada pressão da família”, porque minha filha era casada já há dez anos, queria ter um bebê e precisava da mãe. Mas, por dever, ainda estaria dentro de uma escola. Eu sempre digo, depois da minha casa, onde me sinto muito bem é dentro de uma escola.
Eu sempre digo, depois da minha casa, onde me sinto muito bem é dentro de uma escola.
novohamburgo.org – Em Novo Hamburgo, onde a senhora morava?
Marie Traude – Eu já morei em vários bairros de Novo Hamburgo. Não sei por que, mas meus pais se mudavam muito. Começamos num bairro mais afastado e depois viemos para o Centro. Ali, morava na rua 1º de Março, naquele prédio da SEMEC II. Lembro que ali se reunia um partido político de Novo Hamburgo, mas isso são memórias da minha infância. Também recordo na frente havia um salão grande, uma casa de dois pisos.
Minha primeira escola foi a São Luiz, onde ingressei aos três anos no jardim de infância. Quando ingressei na alfabetização, fui para a Escola Oswaldo Cruz. Na época havia o Primário, o Ginásio, e ainda os cursos Normal, Científico e Contador, basicamente, de segundo grau. Fiz até o 5º ano no Oswaldo Cruz e depois eu fui fazer exame de admissão – na época existia este exame – na Fundação Evangélica. Sou aluna também da Fundação Evangélica.
Depois fiz meu curso Normal, que era o magistério, na Escola Santa Catarina, a única que tinha o curso. Era outro departamento, havia muita exigência. As irmãs nos davam uma semana de cursinho antes das provas pra ver se a gente tava apta ou não para o curso de magistério.