novohamburgo.org – Seria a hora das tão faladas reformas?
Scheva – Pode ser, mas não as reformas mascaradas. É preciso que ocorram as reformas de base. Na realidade, nós precisamos mudar a base. Precisamos ter uma sustentação política mais adequada e não essa que é voltada para a safadeza.
Todo o governo que se assenta na cadeira, alega que se não tiver mais de 51% dos parlamentares, não vai ter como governar. Não pode ser assim. Se um político tiver um programa de governo com base sólida, a própria comunidade vai apóia-lo para que os projetos sejam colocados em prática.
novohamburgo.org – O senhor já foi sondado para concorrer a cargo eletivo. Cogita essa hipótese?
Scheva – Não. Eu não tenho nenhuma pretensão política. É uma honra muito grande ter sido lembrado em algumas oportunidades para concorrer a cargos eletivos, mas o meu projeto é o Poder Judiciário. Enquanto eu estiver no Judiciário, eu sou 100% Judiciário.
Posso ajudar nas ações sociais para preservar o ser humano, não dando esmola, mas de uma forma que ela se sinta digna e valorizada. Nunca pensei em, assim agindo, buscar algum retorno de qualquer natureza.
novohamburgo.org – Novo Hamburgo já registrou um desentendimento entre o promotor Eugênio Amorim e o juiz Marco Aurélio Xavier. Como está hoje a relação entre Ministério Público e Judiciário?
Scheva – Mantemos bom relacionamento com todas as autoridades. Os juízes todos pensam dessa forma. Não há nenhum atrito. A fogueira das vaidades ainda não atingiu a comunidade. Houve algumas discussões e alguns saíram chamuscados. Acho que os dois representantes saíram com suas imagens chamuscadas dessa fogueira de vaidades, mas foi um caso isolado.
Os cidadãos precisam que as autoridades estejam desprovidas de vaidade.
novohamburgo.org – A mudança de prédio, colocando Judiciário e Ministério Público com estruturas independentes, colabora para que não haja uma briga de poderes?
Scheva – Em primeiro lugar, o Ministério Público não é poder. Mas o bom relacionamento sempre preponderou. Tive sempre bom relacionamento com todos os promotores e com os colegas. Mas a disputa de vaidade às vezes acontece. E eu tenho por princípio não entrar nessa área, porque acho que só quem tem a perder, além dos envolvidos, é a comunidade. Os cidadãos precisam que as autoridades estejam desprovidas de vaidade.
novohamburgo.org – Quando o senhor fala da corrupção, sempre cita os bons exemplos do Rio Grande do Sul. Podemos crer que o senhor acredita no ideal do separatismo?
Scheva – A norma constitucional proíbe qualquer iniciativa nesse sentido. O Rio Grande do Sul faz parte do território brasileiro e o povo escolheu, com o final da Revolução Farroupilha, que o Estado ficasse ligado ao Brasil. Embora tenhamos atitudes altaneiras, politicamente falando, às vezes até de uma certa independência, o que sentimos é que somos brasileiros por convicção. Não acredito que qualquer idéia nesse sentido a venha ser levada adiante.
novohamburgo.org – Pelo que nos contou, o senhor estudou em escola pública. Qual a sua visão sobre a política de cotas nas universidades?
Scheva – Como diversos assuntos polêmicos, essa proposta traz posições prós e contras. Se a questão das cotas se mostra a ser uma oportunidade para as pessoas que não têm condições econômicas, eu acho interessante. O que penso é que, se eu fosse preto, eu não gostaria de receber esse tipo de vantagem, porque isso caracteriza um grande preconceito.
Se eu fosse preto, eu não gostaria de receber esse tipo de vantagem, porque isso caracteriza um grande preconceito.
Eu entendo isso como algo muito agressivo às pessoas que se identificam como pretas. Imagine o Rio de Janeiro, onde as pessoas são descendentes de negros? Teríamos que fazer mais de 50% das universidades para negros.
Vamos fazer uma cota sócio-econômica para quem não tem as mínimas condições de ingressar na universidade? Aí concordo com uma iniciativa dessas. Mas não acredito que esse regime de cotas raciais vá resolver alguma coisa. Penso que é preciso gerar empregos e acabar com a roubalheira.
Agora mesmo foi publicado que o congresso nacional custa para a sociedade, por minuto, 11 mil reais. Nós temos que parar de barrar o desenvolvimento social e permitir que as pessoas se desenvolvam naturalmente. É preciso criar projetos de condições de vida digna para as pessoas.