novohamburgo.org – Como a magistratura entrou na sua vida?
Scheva – Eu fiz o científico voltado para engenharia. Como houve contratempos na minha vida e eu precisei parar de estudar, na volta percebi que minha vocação era mais voltada ao Judiciário.
Quando eu passei no concurso para oficial de Justiça e entrei no Poder Judiciário, comecei a trabalhar e me senti realizado. Quando cheguei a oficial de Justiça, pensei em não me acomodar e segui estudando para me tornar juiz, que era meu sonho. Eu sabia da nobreza do cargo, embora também soubesse dos desgastes que o cargo oferece.
novohamburgo.org – novohamburgo.org – Quais características, que o senhor possui, que considera vitais para ser juiz de direito?
Scheva – Há alguns fatores fundamentais: estudar muito; ter uma personalidade muito forte, sob pena de sucumbir; ter honestidade; ter uma vida ilibada, que sirva de modelo para as pessoas. O Poder Judiciário é um poder desarmado. A nossa autoridade está baseada na ética e na moral. A hora que perdermos isso, pode ser fechadas as portas, porque a democracia acabou. A hora que o Judiciário perder a sua credibilidade, o cidadão comum não terá mais a quem recorrer.
novohamburgo.org – Os fatos recentes de corrupção dentro do Judiciário seriam isolados?
Scheva – São fatos isolados e que passam por uma depuração. Pela leitura que faço, a depuração faz parte da evolução social. Sobretudo para nós, que saímos de um período de ditadura e vivemos numa democracia ainda muito incipiente. Nós temos que passar por isso.
É o momento de nós curarmos chagas. Está virando quase uma epidemia o que vem sendo divulgado. É doloroso para a comunidade. Eu estou há praticamente 31 anos dentro do Poder Judiciário, e isso nos atinge muito e nos machuca.
Nós do Rio Grande do Sul não temos caso nenhum, embora tenhamos mais de 800 juízes em atividade no estado. Quando se teve notícias de deslizes, todos foram severamente apurados. A magistratura do Rio Grande do Sul age com muito rigor dentro de casa.
Também não é preciso elogiar as pessoas honestas. Ser honesto é nossa obrigação.
novohamburgo.org – A punição é o caminho?
Scheva – Esse é o caminho. Não vejo outra saída, a não ser buscar a fundo todos os culpados, garantido o contraditório e a ampla defesa, e puni-los de uma forma exemplar, para que não se deixe a impressão de que qualquer pessoa do povo possa fazer de tudo, porque o exemplo vem de cima. Não se pode generalizar.
Segundo, não se pode atacar as instituições. Não existem instituições podres, e sim pessoas. É importante que as pessoas se dêem conta de que as instituições precisam ser preservadas. É nossa obrigação fazer as entidades continuarem funcionando. Também não é preciso elogiar as pessoas honestas. Ser honesto é nossa obrigação.
novohamburgo.org – O senhor acredita que esse caminho de desonestidade tenha volta?
Scheva – Sim, eu acredito. Nós vamos passar ainda por graves problemas. Há pessoas que não se deram conta da importância do cargo para as instituições, para a população em geral. É, infelizmente, a Lei de Gerson sendo aplicada: eu preciso levar vantagem em tudo. Eu ainda acredito no ser humano. Há mais pessoas boas do que ruins.
Eu ainda acredito no ser humano. Há mais pessoas boas do que ruins.
novohamburgo.org – Há mais pessoas boas do que ruim também no meio político?
Scheva – O Rio Grande do Sul é o estado dos políticos mais honestos, mais sérios e menos envolvidos com essas maracutaias. Agora, entretanto, surge um caso na Assembléia Legislativa gaúcha, com 14 ou 15 gabinetes envolvidos.
Mas nesse meio também há pessoas boas. Eu encontrei sempre pessoas boas. E por isso eu acho que, enquanto tiver um honesto, não dá para generalizar e dizer que a instituição está podre. Agora, é preciso repensar muita coisa no país. Isso é flagrantemente necessário.