A senhora parece contida, pois sempre foi muito polêmica, sem receio de dizer as coisas. A sociedade é um pouco hipócrita, pois reclama do Big Brother, mas ele já está na sétima edição. Quando a questão comercial é mais interessante e lucrativa, se perde um pouco dos princípios, da rigidez. A senhora acha que este é o grande problema?
Ione Jaeger – É porque ficamos muito acomodados, até por conveniência. Se eu for dizer o que penso, como eu penso… meu receio não é que as coisas voltem contra mim, mas sim ferir pessoas que às vezes pensam que estão fazendo o melhor, o máximo, quando não estão. Nós somos acomodados.
Quando meu neto não está em casa e viaja de férias, eu até assisto televisão. Assisto novela, futebol e até onde posso a TV Câmara. Aí quando vejo um vereador dizer algo mais ou menos pego o telefone e parabenizo. Quando dizem algo errado, eu mando por e-mail (risos).
Então assisti um pouco da tal novela Páginas da Vida. Há muito tempo não olhava novela, muito tempo mesmo. Então vi que o autor Manoel Carlos abordou bastante coisas que fazem parte do cotidiano. Ali passou sobre a Síndrome de Down e outras coisas muito bem trabalhadas. Por que a televisão não é usada mais para isto? O caso do racismo também foi muito bem trabalhado e como terminou bem a aceitação da menina amparada por uma mulher negra.
A professora não pode usar a televisão e seus programas para tornar a aula tão atrativa quanto?
Ione Jaeger – Eu tive uma coordenadora pedagógica quando lecionava no Pedro II, que era a Marlise Wolffenbüttel. Ela falava em motivação, repetia muito que a criança precisa ser motivada. Você não se interessa por nada que não seja motivado.
O professor não é aquele que lida com peças. Cada vez que você entra em uma sala de aula, 30 ou 40 alunos, são 30 ou 40 situações diferentes.
Quando eu lecionava no Pio XII, tinha um caminhão fazendo a rótula e atolou. Ficou aquele barulho e atrapalhava a aula. Então chamei as crianças a irem na janela e assistirem ao caminhão atolado. Quando eles voltaram da janela, me deram uma aula sobe o que viram. É isso que o professor tem que ter, maleabilidade, motivação, não ser fechado.
Eu sou professora e o professor não é aquele que lida com peças. Cada vez que você entra em uma sala de aula, 30 ou 40 alunos, são 30 ou 40 situações diferentes. O professor tem que ter essa maleabilidade.
Me chamavam de professora maluca porque eu fazia coisas assim. Aí veio aquele programa para dar aula sobre ditongo e tritongo para crianças de 5ª série. O que elas querem saber disso? Eu trabalhava mais com português contextual. Tem que usar a leitura, mas de forma que tenha a sua criatividade lá dentro e não somente imitar.
Eu sempre digo que se eu tivesse tirado uma faculdade teria aberto uma escola para mim, seria a dona da escola. E tem professoras que eu levaria para lá porque fogem do modelo comum. Professoras que sabem dizer: “eu errei”.
A catequese é a educação da fé. Eu lecionei catequese na Catedral São Luiz durante cinco anos. Catequistas são voluntários. Entrei em contato com o Colégio Santa Catarina e pedi que me mandassem meninas para dar catequese. E olha que as catequistas eram todas senhoras. E vieram meninas de 14, 15 anos. A proximidade da idade deles foi importante. Elas trouxeram a experiência da juventude delas, como elas viam Deus, como elas viam a religião. A educação não pode ser muito formal.
A senhora obviamente não cresceu lidando com a internet como as crianças hoje em dia crescem, mas hoje conhece bem este mundo. De que forma a internet pode ser benéfica para o seu uso pela educação?
Ione Jaeger – Vejam meus dois netos. O que mora comigo, desde os 11 anos já tem computador. O mais novo também, bem mais jovem ainda já tinha contato com o computador. Fui ensinada por eles a mexer no computador. O mais novo é músico e ele grava um CD com todos os instrumentos só pelo computador e ninguém ensinou ele a fazer isso.
O computador está ótimo para mim, mas a forma de escrever nesse MSN é estranha.
Então, sobre a pergunta. É preciso dirigir o jovem a saber usar o computador. Até pela cópia, que é fácil fazer pela internet. Antigamente, antes do computador, tínhamos que ler livros e mais livros.
O computador está ótimo para mim, mas a forma de escrever nesse MSN é estranha. As palavras não são escritas da mesma forma, são abreviadas, em uma linguagem absurda. A letra K, por exemplo, aparece muito. Um dia vai estourar isto. Português já é mal escrito e mal falado.