O sobrenome Jaeger você herdou do marido?
Ione Jaeger – Sim, do marido. Eu sou Ione Maria Santos Rocha, de solteira. Santos da mãe, Rocha do pai. Quando me casei, para não ficar muito comprido o nome, tirei Santos e acrescentei o Jaeger no final. No casamento tive duas filhas, a Helena e a Ana. Tenho dois netos e dois genros. Acho que sou uma das poucas sogras adoradas pelos genros.
A senhora falou dos diretórios acadêmicos, do movimento estudantil. Em relação aos grêmios atuais, a senhora pensa que a atuação deles continua a mesma ou o foco mudou?
Ione Jaeger – Eu realmente não tenho como falar da atualidade, pois não tenho ligação alguma. O que sei é do tempo que dei aula de Psicologia Social no Pio XII, à noite, durante sete anos. Por ser uma disciplina gostosa, não me prendo muito a conteúdo. Eu trabalhava mais com análise de casos e a turma se sentia muito à vontade.
O pessoal do grêmio estudantil estava na minha turma, alguns encontro pela rua ainda hoje, e discutiam o assunto comigo em sala de aula algumas vezes. E lembro da atuação deles, que eles faziam muita coisa. Faziam teatro, discutiam sobre teatro e eu deixava. Aquele movimento social acontecia ali.
Mas com relação à educação, que está sempre em pauta, qual a relação que a senhora traçaria do seu tempo de sala de aula com hoje?
Ione Jaeger – Eu acho tão delicado falar nisso. Respeito muito a minha classe, elas são umas guerreiras, mas a educação é um dos pilares responsáveis por essa agressividade da juventude nos dias de hoje. No meu tempo, íamos nas casas dos alunos sem ninguém nos pedir. Eu e a Suelly Copetti visitávamos os alunos doentes sabendo que eles não estavam doentes. Era uma aproximação maior da figura do professor com o aluno.
A educação é um dos pilares responsáveis por essa agressividade da juventude nos dias de hoje.
Hoje em dia, não posso falar generalizando, mas há tanto por fazer. Sobre este último caso do Rio de Janeiro, do menino João Hélio, eu estava me lembrando que deveria haver uma união entre ministérios, Cultura, Educação, e buscar soluções.
Com o advento da televisão muita coisa mudou. Eu quase não vejo televisão, é muito raro assistir. Mas estes dias vi um programa que me chamou a atenção, um tal de Vídeo-Cassetadas. Vi uma criança pequena correndo e caindo. E aquilo é motivo de riso? Uma coisinha pequena tropeça no cachorro e ele sai arrastando ela. Aí é motivo de riso, gente? É o mesmo que fizeram com o menino no Rio de Janeiro.
Vou dizer com sinceridade: Big Brother é uma coisa que não posso imaginar que aconteça no Brasil. Aquilo é contra a cultura, contra a educação, é a pior coisa que já vi. Pedro Bial chamou de heróis o pessoal do Big Brother. Meu Deus! Heróis não são aquelas pessoas! O que fazer para terminar com isso?
No entanto, a televisão e, conseqüentemente, o Big Brother acabam competindo com o professor em matéria de educação. Como a escola pode enfrentar isto?
Ione Jaeger – Pensem comigo: numa sala de aula, a criança está lá sentadinha, com a boquinha fechada, uma professora lá na frente, mesmo rosto, mesma roupa, mesmo cabelo e a televisão, cheia de cor e movimento, movimento, movimento. Pensem bem, o que atrai mais ela?
Isto quer dizer que a educação precisa ser reciclada?
Ione Jaeger – É por isto que tenho receio de falar em educação. Não sei hoje em dia, mas pelo que vejo, acredito que sim. Vejo muita gente boa trabalhando, mas ainda temos modelos do tempo em que minha avó ia na aula, com a mesma mentalidade.