Dona Ione, conte-nos um pouco sobre a sua infância, juventude e início profissional.
Ione Jaeger – Nasci em Salvador, na Bahia, na Cidade Alta. Morei lá até os 16 anos, mas lembro que morei dois anos no interior, em uma cidade produtora de fumo, Cruz das Almas. Meu pai era professor na Faculdade de Agricultura e Medicina Veterinária e levou a família para o interior. Voltamos quando fui fazer ginásio, e aí convidaram ele para ser diretor do Senai, na capital, e ali fiquei até fevereiro 1949, quando vim para cá.
Quantos irmãos a senhora teve?
Ione Jaeger – Nós éramos em dez. Eu sou a quarta na ordem de nascimento, aliás, a quinta, porque o mais velho nasceu morto. Hoje estão todos espalhados, mas mantenho contato mais por e-mail. Na Bahia tenho uma irmã, em Vitória, no Espírito Santo, eu tenho três, mais um em Porto Alegre e dois em São Leopoldo. Então mantemos contato por telefone e e-mail.
Ainda visita a terra natal?
Ione Jaeger – Eu não vou à Bahia há muitos anos… Não! São 57 anos! Nunca mais fui desde que vim para cá.
Mas ainda mantém costumes de lá?
Ione Jaeger – Não. E até é gozado. Muita gente por saber que sou baiana pensa que a comida na minha casa é apimentada, mas não é. Meu pai era gaúcho e não fomos acostumados a usar pimenta na comida. Sabe o que nós comíamos? Vinha para a mesa um molho de pimenta malagueta com limão e aí colocávamos uns pinguinhos na comida. Era essa a nossa pimenta. Muito raramente eu colocava. E o cardápio era o do meu pai. Ele foi ensinando minha mãe a fazer algumas comidas que eu conhecia, mas que na Bahia não eram feitas. Hoje até fazem, com o advento da televisão.
Muita gente por saber que sou baiana pensa que a comida na minha casa é apimentada, mas não é.
Seu pai era natural da onde?
Ione Jaeger – Meu pai, depois que ele morreu, vi pela carteira de identidade dele que ele nasceu em Bagé. Mas eu não sabia disso. Meu pai era gaúcho, morava em Porto Alegre. Depois se mudou para Parobé e por lá se formou. Aí foi trabalhar em diversos lugares. Ele também jogava futebol. Jogou no São José, em São Leopoldo e no Juventude, em Caxias do Sul. Lá em Caxias, um colega dele convidou ele pra ir para o Rio de Janeiro e ele topou. No Rio ele ainda jogou no América e lá ele pendurou as chuteiras. Depois ele foi para o Norte e desceu pelos estados implantando escolas técnicas. Em Salvador ele chegou em abril de 1925, conheceu minha mãe e casaram em novembro, onde ficaram até 1949, quando viemos para Novo Hamburgo.
E por que vieram para Novo Hamburgo?
Ione Jaeger – Já em 1948, nós sentíamos em Salvador algum reflexo da 2ª Guerra Mundial. A família era muito grande, vida muito cara, muitos filhos na escola. Aí teve um congresso eucarístico em Porto Alegre e um padre amigo dele veio para cá. Quando voltou, convenceu meu pai de que aqui era o paraíso.
A mãe dele vivia chamando ele para voltar para cá e não deu outra. Pegou a família, papagaio, cachorro e veio para o Sul. Só que ele não se adaptou mais com o clima. Ele e a mãe foram para Vitória menos de três anos depois. Eu fiquei aqui para terminar o curso de Magistério, em 1952, no Santa Catarina. Meu pai veio me buscar, queria que eu voltasse pra lá, mas eu estava noiva e queria ficar. E fiquei. Me casei em 31 de dezembro de 1953 e fiquei sempre aqui.
Tenho saído. Nesse meio tempo dei umas saídas. Já morei em João Pessoa, com a minha filha, também estive em Vitória, também vou muito a Campinas. Para escrever minha vida, eu precisaria daqueles cadernos bem grossos.
E a vida profissional?
Ione Jaeger – Meu primeiro emprego foi de professora particular na Escola São Luiz com a Irmã Valéria. Depois fui chamada pelo Município, onde trabalhei 3, 4 anos. Aí assumi em 30 de abril de 1956 como professora do Estado. Me aposentei em maio de 83. Lecionei em muitas escolas nesse tempo.
Em 1981, resolvi fazer faculdade, mas antes já tinha feito vestibulares. Fiz para Direito, na Unisinos, em 1967. Passei, mas fiquei como suplente. Depois fiz Sociologia, na Unisinos. Passei, mas não fui estudar. Era uma época difícil, pois a Unisinos cobrava no primeiro dia de aula o ano inteiro. Era parcela única! E não tinha como eu pagar isto. Senti muito, porque adoro Sociologia. Então decidi esperar e, quando abriu a Feevale, eu fui. Fiz Pedagogia e sempre militei nos diretórios acadêmicos.