novohamburgo.org – Seu pai recebeu um convite para trocar o Rio de Janeiro por Novo Hamburgo?
Fátima Daudt – Sim. Ele veio para cá para trabalhar na antiga calçados Klaser e aqui ele conheceu minha mãe. E meu pai ficou na região durante muito tempo. Eu, devido a essa profissão do pai e ao vínculo com o Rio de Janeiro, pois lá morava o único irmão dele, intercalei de moradias, e por períodos morava em Novo Hamburgo e outros na capital Carioca. Nos períodos que ele estava no Rio de Janeiro ele representava as indústrias calçadistas daqui da região. Então ele fazia as modelagens para várias empresas do Vale do Sinos e do Paranhana e pelo conhecimento que ele tinha dos lojistas cariocas ia para lá comercializar as produções de seus parceiros.
novohamburgo.org – então você trocou muito de escolas e acabou se distanciando um pouco da área do calçado?
Fátima Daudt – Sim. Morava um pouco no Rio e em determinados períodos voltava a Novo Hamburgo. Eu não tenho isto como ruim e sim como uma coisa boa. Penso que isto me deu muito mais dinâmica na vida pois eu tinha que me adaptar rapidamente a ambientes novos e eu gostava daquilo, embora saiba que tem gente que não aprecia muito isto. Eu me lembro que a gente morava aqui em Novo Hamburgo perto da empresa do senhor Bruno Petry, com quem meu pai trabalhava. Ela ficava próxima a Máquinas Enko.
Eu estudei no Sagrado Coração de Jesus um tempo. Depois estive na escola Leopoldo Petry durante um ano. Eu também fiz parte de minha educação Fundamental no Rio de Janeiro. De volta a Novo Hamburgo eu cheguei a fazer o 1º ano do ensino Médio na Fundação Liberato. Naquele período eu comecei a perceber que eu queria seguir na parte de desenho, e estava bem concentrada na criação de modelos de sapatos femininos, levando em conta esta forte ligação com meu pai, com quem eu aprendi a criar. Meu primeiro emprego foi de desenhista de calçados na Trade Winds. Eu já planejava direcionar minha vida profissional para o curso de arquitetura o que eu consegui concretizar mais tarde, em 1993, quando me formei na Unisinos, em São Leopoldo.
Na minha história de vida eu me acostumei a ver meu pai naquela mesa de modelista de calçados e todos seus equipamentos
novohamburgo.org – seu primeiro emprego foi como desenhista da Trade Winds?
Fátima Daudt – Nossa isto faz tanto tempo. E coloca tempo nisto. Pode até dizer que eu tenho 41 anos, mas não vamos falar deste detalhe. E olha, agora estou pensando melhor e me recordei que tive uma outra atividade ainda anterior a esta. Trabalhava só na parte da manhã com um amigo de meu pai. Nossa me recordei disto só agora conversando sobre meu primeiro emprego. Também já fazia desenho de calçado para este amigo de meu falecido pai. Foi um pequeno período onde eu trabalhava pela manhã e estudava a tarde. Eu sempre fui muito ativa desde os meus 15 anos. Isto era um problema muito sério para os meus pais porque eu sempre queria fazer as coisas e movimentava muito o ambiente. Pois para que eu conseguisse convence-los da necessidade de eu trabalhar de manhã e estudar a tarde foi uma luta muito difícil. Mas depois eles se convenceram de que era um perfil meu e ficaram tranqüilos. Naquela época eu estava ainda iniciando o Ensino Médio.
novohamburgo.org – chegou a conhecer seu avô?
Fátima Daudt – Não, quando eu nasci ele já tinha falecido pois meu pai já tinha uma certa idade quando eu nasci em 1966 e não tive esta oportunidade. Hoje, tanto meu pai como o irmão dele, já são falecidos.
novohamburgo.org – Você lembra o que sobre a modelagem desenvolvida naquele período pelo Júlio Caxinhas?
Fátima Daudt – As coleções já eram basicamente de pares femininos e se apresentavam com muito glamour e eram compostas basicamente pelos chamados Luis XV. Também já começavam a despontar algumas marcas e coleções infantis aqui pela região. Em modelagem infantil ele se concentrou pouco.
novohamburgo.org – Tuas lembranças do pai te remetes a ele trabalhando na banqueta de modelista de calçados?
Fátima Daudt – Sempre. Na minha história de vida eu me acostumei a ver meu pai naquela mesa de modelista de calçados e todos seus equipamentos – a faquinha de corte e as formas. E as fábricas também eram um ambiente natural dele e que eu costumava acompanha-lo. Recordo-me que muitas vezes fomos a Parobé, nos calçados Bibi. Hoje quando visito uma fábrica de calçados, lógico guardando suas proporções, e os avanços tecnológicos, é como se eu estivesse fazendo viagens de volta no tempo.